Herói de Mangá Ataca de Papai Noel
12 de janeiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Notícias | Tags: anime e mangá dos anos 70, Antonio Inoki, artes marciais e luta livre, Naoto Date, Rikidozan, Tiger Mask | 2 Comentários »
Segundo agências de notícias (Kyodo, NHK), instituições e centros de bem estar para crianças órfãs em diversas cidades do Japão estão recebendo mochilas escolares contendo material escolar, brinquedos, comida e dinheiro, de remetentes que se identificam como o herói de antigo mangá e anime.
Tudo começou no dia de Natal na cidade de Maebashi, província de Gunma, e, depois que o fato foi divulgado pela imprensa, novos casos vêm ocorrendo, um depois de outro, e se espalhando por cidades de várias províncias, principalmente a partir do Ano Novo. (É tradição japonesa presentear crianças no Ano Novo com o “otoshidama”, geralmente em forma de pequena mesada). No dia 25 de dezembro, uma funcionária de centro de assistência infantil em Maebashi encontrou 10 caixas de papelão contendo mochilas escolares com brinquedos na porta da instituição. Acompanhava apenas uma nota assinada “Naoto Date”, pedindo que fossem destinadas a crianças órfãs necessitadas. Não se fazia a menor idéia de quem seria a pessoa ou qual a motivação, quando um funcionário veterano se lembrou que Naoto Date era o alter-ego do herói de luta livre da série de mangá e anime Tiger Mask, dos anos sessenta/setenta.
Tiger Mask- Naoto Date, Antonio Inoki e Rikidozan
Na então popular série de TV, entre 1969 e 1971, Naoto Date era um órfão que crescera numa instituição e se tornara exímio em lutas marciais, defendia os fracos, e doava seus proventos para entidades de amparo a órfãos. A série de mangá, Tiger Mask, escrita por Ikki Kajiwara e ilustrada por Naoki Tsuji era publicada pela editora Kodansha (1968-1969) e foi adaptada para televisão pela Toei Animation (1969-1971) em 105 episódios que cativaram muitos fãs no Japão, Hong Kong e Coreia, entre crianças que hoje devem estar beirando os 50 anos de idade. A ambientação e os personagens eram de ficção, mas muitos ídolos profissionais de luta livre da época (pro wrestlers) foram incluídos nas histórias: Antonio Inoki, Giant Baba, Kintaro Ohki, entre outros. Alguns tinham sido discípulos do lutador Rikidozan que fez história no Japão como o Grande Wrestler. Nascido na Coréia do Norte, Rikidozan é considerado herói naquele país.
Para nipo-brasileiros, Antonio Inoki evoca reminiscências. Natural de Yokohama, emigrou com a família para o Brasil em 1957, aos 14 anos. Fã de esportes, praticou basquete e atletismo, excedia em arremesso de peso, disco e dardo, apreciava lutas. Quando esteve no Brasil fazendo apresentações, Rikidozan detectou grande potencial nele e o convidou a treinar no Japão. Antonio Inoki fez brilhante carreira como campeão de luta livre pela academia do mestre. Foi casado com a não menos famosa atriz japonesa Mitsuko Baisho. Protagonizou lutas memoráveis de telecatch mix com campeões como Muhammad Ali e Renzo Gracie. Hoje, aos 67 anos, vive entre Tóquio e Nova York, ainda mantém seu porte atlético de 1,88 m e é reconhecido pelo famoso queixo quadrado.
Respeitando o sentimento dos doadores, as instituições agraciadas não pretendem averiguar a verdadeira identidade dos benfeitores. A princípio especulou-se se seriam entidades ou indivíduos organizados, mas já se torna claro que são ações isoladas que se multiplicam por contágio, de pessoas tentando apenas levar pequeno consolo e alegria para crianças carentes. São notícias que prenunciam um ano do coelho auspicioso em termos de compaixão e calor humano aliados a uma saudável cumplicidade, quando Papai Noel continua fazendo sua incansável ronda pelo arquipélago inteiro disfarçado de tigre, o signo do ano que acaba de findar.
São casos como esses que tornam o país fascinante. Na verdade, não são casos, mas uma categoria de casos. Cerca de 2 anos atrás houve um que, pelo que eu saiba, até hoje não foi resolvido. Um anônimo deixava envelope com dinheiro em prédios de prefeitura. Alguns foram enviados pelo correio. Nenhuma dica sobre a localização do sujeito e a intenção, embora versos tenham sidos envidados junto.
No caso do Tiger Mask o que ignora fora do Japão é que o lutador real baseado no anime foi tão ou mais popular que o próprio anime. Para muitos, Tiger Mask é sinômino de luta livre e não de anime.
O primeiro deles (houve 4), Satoru Sayama, tinha um corpo maleável, coisa rara no esporte. Fazia golpes e movimentos fantásticos que ninguêm, até hoje, consegue imitar ou equiparar. Atuou na primeira metade dos anos 80.
Foi, junto com o Inoki, um motivos com que levaram a luta livre a ser transmitida em hora “semi nobre” no Japão (Sábado a tarde) dado a popularidade. Não é pra menos. Cheque o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=FaVbcQDk9W4.
Embora fortemente arraigada na cultura pop do país, hoje a luta livre simplesmente desapareceu da TV, dado a falta de lutadores carismáticos e o surgimento do vale tudo.
Super in!
Caro Roberto, site e internautas agradecem os preciosos adendos.