Nem Sempre o Mercado Funciona
17 de janeiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política | Tags: artigo no Valor Econômico, limitações dos mecanismos de mercado, remuneração do setor financeiro
Mesmo com todas as imperfeições que os economistas conseguem apontar nos mecanismos de mercado, há um razoável consenso que se trata dos menos deficientes para conciliar duas aspirações básicas dos seres humanos: uma eficiência razoável no sistema econômico com a possibilidade da liberdade política. O professor Delfim Netto vem insistindo neste tema ao longo de sua carreira. No jornal Valor Econômico de hoje, um extenso artigo identifica que, mesmo depois da crise de 2008, os executivos do setor financeiro encontram-se entre os mais bem pagos em todo o mundo.
O mercado, que nunca é perfeito, deveria expressar mesmo em parte a escassez relativa desta mão de obra especializada e a eficiência dela no processo produtivo. No entanto, mesmo com a transferência de muitos engenheiros, advogados e outros profissionais para o setor financeiro, há que se constatar que suas remunerações se mantêm relativamente elevadas. E mesmo que sua criatividade tenha gerado uma série de inconveniências em todos os setores produtivos das variadas economias do mundo. O artigo mostra que eles obtêm melhores remunerações que profissionais de cirurgia ou cientistas que trabalham em pesquisas estratégicas, com o mesmo tempo de atividade profissional.
Deve-se constatar que, no mínimo, desde a Idade Média os banqueiros tinham uma imagem social pouco destacada, relacionada com a usura condenada moralmente, mas sempre exerciam um papel relevante na sociedade e obtinham expressivos lucros, chegando a comandar nos bastidores muitos dos governantes.
Hoje, alguns que auxiliam nos desenvolvimentos tecnológicos acabam sendo reconhecidos economicamente, mas num número relativamente limitado de inovadores e empreendedores. Com o rápido processo de globalização, onde a atividade financeira sempre desempenhou um papel de vanguarda, suas remunerações tenderam a se elevar, nem sempre sendo atingidos pelas tributações que procuram corrigir as distorções da brutal desigualdade na distribuição da renda.
A criatividade dos mais qualificados acaba desenvolvendo mecanismo que evitam os sistemas tributários mais corretores, num processo circular, por atrair também para o setor os recursos humanos mais habilitados com elevadas remunerações. As tentativas de correção pela engenharia social não vêm obtendo sucesso.
O consolo que resta aos que não estão nestes segmentos melhor remunerados é que nem só isto é perseguido pelos seres humanos para obterem a sua felicidade, ainda que sempre possa existir uma ponta de inveja.
.