Crescentes Complexidades nos Trens Rápidos
21 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: clima de incertezas, complexidades com seus retornos, os problemas com os trens rápidos
O prosseguimento da concorrência do trem rápido ligando Campinas, São Paulo, Cumbica e o Rio de Janeiro continua acrescentando dúvidas. Complicações estão ocorrendo com projetos similares em muitas partes do mundo. No Brasil, noticiam-se as inclusões dos Correios, que utilizam estes serviços, bem como dos fornecedores de energia elétrica, fazendo com que consórcios que já tinham desistido voltem a considerar a participação no projeto, como os japoneses.
Na China, o The Wall Street Journal noticia que depois da queda do ministro dos transportes, Liu Zhijun, acusado de corrupção, está se verificando que os retornos dos muitos projetos que foram construídos como medidas antirrecessivas acabam atendendo uma elite pelos seus elevados custos das tarifas, colocando em dúvida a sua sustentabilidade. O jornal japonês Nikkei lamenta da decisão do governo do Estado da Flórida recusando recursos federais para o seu projeto. Tudo indica que os japoneses depositavam grandes esperanças que vencendo esta concorrência nos Estados Unidos voltariam a ser competitivos no mercado internacional.
A japonesa JR Tokai formou um consórcio de 11 empresas para candidatar-se a uma pré-triagem do governo da Flórida
Tudo indica que estes grandes projetos necessitam de uma firme assistência das autoridades, que envolvem interesses binacionais ou multinacionais, pois seus retornos apresentam dúvidas. É preciso considerar que parte das receitas decorre, também, de outros aproveitamentos como os pontos de venda, e do melhor aproveitamento dos imóveis existentes numa ferrovia. Tratam-se, portanto, de projetos público-privados que envolvem elevados recursos, difíceis de serem levantados num cenário que se tornou mais incerto depois dos problemas árabes.
As autoridades locais sempre dão prioridades para as empresas que já estão localizadas nos seus territórios, esperando que tais projetos promovam um salto tecnológico que os habilitem a participar de outros, no mesmo país ou no exterior. Acabam envolvendo um complexo problema de transferência de tecnologia.
A montagem de um consórcio competitivo envolve muitas empresas e agências financiadoras, não só no que se refere aos equipamentos e suas tecnologias, como construções e aspectos relacionados ao seu uso. Governos acabam, como o brasileiro, envolvendo estatais e seus fundos de pensões, pois não contam com recursos suficientes nos seus orçamentos, nem nos bancos de fomento. Isto exige um complexo grupo de tarefas preparatórias, tanto de entrosamento entre dezenas de empresas como amplos entendimentos com autoridades locais e estrangeiras.
Nem sempre as autoridades estão suficientemente habilitadas para conhecer e prever todos os obstáculos que vão surgindo durante a montagem, principalmente a implementação e operação de um complexo projeto desta natureza, que envolvem hipóteses sobre a demanda por um período longo. Os riscos são elevados, não podendo ser arcados somente pelo setor privado. As mudanças tecnológicas também vão ocorrendo.
Problemas ecológicos e controles de autoridades responsáveis pelas contas públicas podem acabar gerando a necessidade de outros investimentos que não estavam previsto, ou atrasando os cronogramas de execução, afetando os fluxos dos retornos futuros.
Superar todas estas dificuldades não é uma tarefa fácil, e se não houver amplas garantias das autoridades, estes projetos são extremamente difíceis de serem adequadamente avaliados.