Discutindo a Carreira de Xi Jinping
18 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Política | Tags: artigo do The New York Times sobre Xi Jinping, artogo da Reuters, detalhes sobre a sua carreira, habilidade política
Um artigo um tanto irônico publicado por Edward Wong no The New York Times fornece alguns detalhes sobre parte da carreira de Xi Jinping, que caminha para ocupar a presidência da China, sucedendo a Hu Jintao. O passado destes atuais líderes chineses está sendo vasculhado pelos jornalistas na procura de algumas diferenças com a versão oficial. A matéria relata, com muita cautela, algumas nuances diferentes das constantes do livro de 2003 de Xi Jinping sobre a sua experiência do período de trabalho no campo na época da Revolução Cultura, que ele considerou vital para a sua formação com os agricultores. São relatadas as atuais dificuldades dos habitantes de Liangjiahe, na região central da China, para onde Xi Jinping foi deslocado no passado, por ser um filho de um herói local e alto dirigente chinês que caiu em desgraça naquela época.
De outro lado, a Reuters divulga um relato mais favorável a Xi Jinping, escrito por Paul Eckett, mais cuidadoso, baseado em muitos documentos recentes ainda não divulgados no WikiLeaks, com uma descrição mais simpática de sua carreira, destacando os relacionamentos com os Estados Unidos, seus pensamentos expressos a alguns diplomatas, com enfoque também para os seus parentes que vivem no exterior.
O jornalista do The New York Times entrevistou-se Lü Nengzhong, hoje com 80 anos, que acolheu o jovem Xi Jinping por três anos, dos seis que estava na região, que continua vivendo modestamente. Ele informa que Xi Jinping se concentrava nas leituras dos livros, havendo dificuldades destes simples agricultores se comunicarem com estudantes cultos, que tinham um comportamento mais sofisticado. Ele estudava muito as declarações do Partido Comunista Chinês, inclusive o marxismo. Liangjiahe é uma localidade próxima de Shaanxi onde seu pai se tornou um herói revolucionário, insinuando-se que com isto ele recebia uma consideração especial, ainda que tenha caído em desgraça na época da Revolução Cultural. O pai teria uma posição mais liberal que Deng Xiaping, sendo crítico à repressão de Tiananmen em 1989 e tinha uma afeição recíproca com o Dalai Lama.
É evidente, em qualquer país, que haja diferenças entre estudantes de elite dos simples agricultores de regiões distantes e menos desenvolvidas, principalmente naquela época. Consta, oficialmente, que Xi Jinping acumulou uma preciosa experiência amargando a vida que lhe foi imposta durante o período de seis anos do “exílio”, como muitos outros filhos de altos dirigentes, mas ela não teria sido tão dura na realidade como descrita. As descrições da Reuters ressaltam que ele era “extremamente pragmático e realista, guiado não pela ideologia, mas com uma combinação de ambição e autodefesa”.
Edward Wong reconhece que Xi Jinping procurou a região onde trabalhou mesmo depois que foi reabilitado, mantendo contatos com a família que o acolheu no meio rural, tendo inclusive ajudado no tratamento de uma perna do filho daquele que o acolheu. Quando já era autoridade em outra região, visitou Liangjiahe. Ele ficou menos que o esperado, mas presenteou alguns com relógios.
É evidente que Xi Jinping não tinha vocação nem qualificação para o trabalho rural. Acabou conseguindo voltar a estudar na universidade forjadora da elite, Tsinghua, certamente com a ajuda dos amigos que cultivou, e onde seu pai também estudou. Trabalhou politicamente para superar os obstáculos que encontrava como a insistência em se tornar membro do Partido Comunista Chinês, apesar ter o seu pedido negado por nove vezes. Cultivava os relacionamentos com os idosos do Partido, o que deve tê-lo ajudado na sua carreira.
Como muitas trajetórias políticas em qualquer país, Xi Jinping manobrou com cautela, procurando não se chocar com nenhuma das correntes importantes, acumulando diferentes experiências em regiões do litoral, como Fujian, por 17 anos, um curto período em Xangai, como do interior em Heibei, e em Zhejiang. A Reuters o classifica como Mister Clean, pois evitou problemas que afetaram muitos dirigentes chineses. Acabou na privilegiada posição atual, em função do equilíbrio dos grupos em disputa e de uma cuidadosa preparação de sua carreira pessoal.
Ele teria proposto que o desenvolvimento chinês ocorresse inicialmente no litoral para gerar os recursos indispensáveis para o desenvolvimento do interior, segundo a Reuters. Procurou visitar algumas vezes os Estados Unidos, tendo uma irmã no Canadá e um irmão em Hong Kong. Procurou conhecer atividades agrícolas em Iowa, e parece admirar os norte-americanos, dizendo que devem ser parceiros dos chineses, não seus concorrentes. Teria comentado até sobre filmes de Hollywood, lembrando que ele é casado atualmente com uma consagrada cantora. Sua ex-esposa, filha de um embaixador em Londres, continua vivendo na Inglaterra. Tudo mostrando que ele está habituado com problemas ocidentais.
Ele tem visitado o exterior em missões oficiais, esteve no México e no Brasil, quando efetivou o empréstimo de US$ 10 bilhões para a Petrobras. É considerado pelos seus amigos como um conservador.