Possíveis Vieses na Avaliação da Economia Brasileira
21 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: avaliação do crescimento do produto e da inflação, consideração sobre o lado real, interesses vinculados ao setor financeiro
Existem fortes evidências que o mercado funciona e os preços de todos os tipos influenciam na alocação de recursos. Os salários dos profissionais relacionados com o setor financeiro têm sido relativamente elevados quando comparados com o lado real da economia. Isto provoca uma natural atração dos melhores talentos para as atividades financeiras, que nem sempre efetuam análises isentas sobre o comportamento da produção que são mais trabalhosas e demandam mais tempo para se efetivarem.
Nas estimativas de crescimento da economia brasileira, bem como da inflação para 2011 e 2012 efetuados pelos economistas ligados aos estabelecimentos bancários e consultorias econômicas com eles relacionados, fica-se com a impressão que existem tendências para alguns vieses, sobre os quais as autoridades deveriam tomar as devidas cautelas. As estimativas de crescimento costumam considerar a participação dos setores primários (que é baixa), secundários (que é moderada) e terciários (que é grande e usualmente baseado no crescimento populacional) pelo percentual na formação do PIB total que deveria ser apurado pelos censos econômicos e é utilizado pelos responsáveis pelas contas nacionais. Os jornais anunciam que as autoridades batalham para que o crescimento seja superior a 4% em 2011, com uma inflação que ficaria ligeiramente acima da margem superior da meta inflacionária que está fixada em 4,5%.
Existem formas alternativas de análises que podem se aproximar mais da realidade. Todos admitem que os preços dos produtos primários estejam elevados estimulando seus produtores a aumento de suas produções, tanto de minérios como agropecuários. Isto pode ajudar no aumento de sua produção, que participa pouco da estimativa do PIB nacional, mas acaba induzindo aumentos nas agroindústrias e em todos os muitos serviços relacionados com o setor primário.
Estes vão desde o transporte, armazenagem, créditos, seguros, atividades do setor público (cujas arrecadações tendem a aumentar desde os municípios), exportações. A renda gerada pelo setor primário estimula o aumento da demanda de produtos industriais, como tratores, veículos, construções e até eletrodomésticos. Constata-se que boas safras agrícolas provocam uma euforia no meio rural que se propagam para os setores industriais e de serviços, como tem ocorrido ao longo da história do Brasil.
Analisando-se os efeitos das variações do produto primário e do produto industrial sobre as flutuações do produto nacional nota-se que elas se dividem em cerca de 50% cada, bem acima da participação do produto primário no PIB nacional. A maioria dos economistas admite que 2011 vai continuar sendo um ano bom para a agropecuária e a mineração brasileiras, pelos dados disponíveis em todo o mundo.
No que se refere à inflação, de forma semelhante, verifica-se que parte dos aumentos dos preços decorreu dos bons preços obtidos no exterior, tanto para os produtos agropecuários como matérias primas com base na mineração. Os elevados preços estão provocando o aumento da oferta mundial, que deve arrefecer as pressões inflacionárias, ainda que elas venham a ocorrer no segundo semestre de 2011 e 2012.
Todo este quadro recomenda cautelas das autoridades para não exagerarem nas restrições monetárias que teriam efeitos limitados sobre estes preços internacionais, e poderiam prejudicar o crescimento do produto em setores que não são os responsáveis pelos problemas que estão ocorrendo. Isto não significa que está se propondo mais inflação como forma de estimular o crescimento do produto. Tudo indica que assim estão agindo.