Relatório da Reuters Sobre os Jovens Japoneses
16 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: maioria acomodada, os jovens japoneses podem salvar uma nação idosa?, outros problemas, poucos jovens com iniciativa | 2 Comentários »
Uma cruel realidade japonesa está expressa num longo relatório especial escrito por Linda Sieg, com a colaboração de diversos outros profissionais da Reuters. Eles entrevistaram alguns jovens que lideram iniciativas, acadêmicos, como autoridades ligadas aos problemas dos jovens japoneses, chegando uma conclusão muito triste. A maioria dos atuais jovens japoneses está acomodada com a atual situação, quando a economia japonesa enfrenta terríveis problemas para sustentar os seus muitos idosos, inclusive com a possibilidade de aumento de tributos.
Um dos entrevistados é Keishiro Kurabayashi, 29, formado no departamento econômico da Universidade de Tóquio, trabalhou numa empresa de consultoria estrangeira e começou a sua própria empresa, que opera com uma rede social e jogos mobile. Megumi Kawashima, 27, é uma website designer, uma das que pertence a legião de fãs de comics e videogames, e afirma que esperar que o país cuide deles não permite que os mantenham vivos. “Precisamos ser sensíveis suficiente para saber das nossas necessidades e cuidar de nós mesmos”. Mas estes DIY youth (do it yourself) aparentam ser minorias, que acabam desaparecendo dentro de uma multidão de jovens passivos sobre o futuro.
Os dados gerais da atual economia japonesa são conhecidos. Os entrevistados da Reuters de muitos setores, na casa dos vinte e poucos anos, revelam um desânimo com a performance recente do Japão, sendo ultrapassado em PIB pela China, e com outros dados macroeconômicos preocupantes. Segundo alguns acadêmicos, alguns poucos jovens procuram reagir, mas eles pouco esperam do governo ou das empresas.
Segundo algumas empresas relacionadas com recursos humanos, os mais motivados acabam procurando empresas estrangeiras que lhes transmitem maior segurança.
O jovem Jay Imamura, 28, graduado na Universidade de Nova Iorque, acha que muitos japoneses não estão com fome. Uma empresa de recrutamento expressou que no passado 80% dos jovens esperavam carreiras nas suas empresas, o que baixou para cerca da metade atualmente, sendo que não aceitam emprego no exterior por considerarem arriscados. Um terço vive em empregos instáveis. Uma pesquisa governamental indica que empregados entre 15 a 34 anos pretendem mudar de emprego antes da aposentadoria. Eles afirmam que se as suas ideias não se ajustam a da empresa, procuram alternativas.
Muitos analistas entendem que o Japão se encontra num período de transição, com alguns jovens considerando atividades próprias que envolvam riscos. Mas a sociedade japonesa não estimula os empreendedores. Algumas empresas japonesas procuram funcionários que tenham um espírito mais individualista, diferindo com o passado, principalmente entre as que estão mais ativas.
No geral, os estrangeiros e seus descendentes que estão vivendo e trabalhando no Japão sentem que existe um sentimento frio com relação e eles naquele país. Com a população em decréscimo, necessitam de imigrantes estrangeiros, mas muitos japoneses entendem que isto aumenta a criminalidade e diminui a coesão social no país.
As mulheres japonesas ainda sentem que vivem numa sociedade dominada pelos homens. Elas lutam para conquistar o seu espaço, mas admitem que exista uma profunda cultura que as ligam com a educação das crianças. No campo legislativo, batalham para contar com maiores votações, mas os mais idosos que são os eleitores em grande número parecem mais conservadores.
O que parece importante lembrar é que nem sempre o Japão foi deste jeito. Na época da Revolução Meiji, eram os jovens que lideravam tanto os empreendimentos públicos como privados. Os desafios atualmente existentes no Japão e na sua inserção no mundo globalizado apresentam possibilidades de realização dos jovens. Há algumas tentativas de alteração da cultura japonesa, valorizando mais as iniciativas individuais, deixando a chamada cultura de Galápagos.
Caro Paulo, bastante interessante o artigo, mesmo tratando tantos assuntos de forma tão resumida. A síndrome de galápagos se refere, não à individualidade, mas ao desenvolvimento de produtos com foco somente no mercado local, como é o caso dos aplicativos de celulares e automóveis pequenos japoneses, que só são sucesso dentro do Japão. Abraço!
Caro Carlos Abreu,
Obrigado pelas suas observações. Conheço muitos países do mundo, mas infelizmente, sempre ficamos em questões gerais num site. Tenho alguns livros escritos ou ajudei a publicar outros de diversos autores. A questão de um povo com pouca mistura étnica, morando por um longo tempo num arquipélago dificulta a formação de uma cultura mais universal em todos os seus aspectos. Os jovens japoneses estão viajando mais pelo mundo, absorvendo hábitos de outros povos, neste mundo cada vez mais globalizado. Os produtos podem ser mais facilmente mudados e adaptados, mas a cultura como um todo demanda bastante tempo. Mas, comparando o Japão de 50 anos atrás com o atual, pode-se notar surpreendentes mudanças, principalmente nos grandes centros urbanos.
Paulo Yokota