Uma Melhor Sintonia do Brasil com os Estados Unidos
28 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais | Tags: procura de uma melhor sintonia entre os dois países mais importantes das Américas, visita de Obama
O jornal Valor Econômico apresenta muitas vezes matérias que rivalizam com as dos melhores órgãos de imprensa internacional, como sua análise constante do suplemento Eu & Fim de Semana, sobre a próxima visita de Barack Obama ao Brasil, com três artigos. Um excepcional, de Alex Ribeiro, vindo de Washington. Outro de Assis Moreira, de São Paulo, e um terceiro de Roberto Abdenur, um diplomata aposentado do Itamaraty com larga experiência.
O de Alex Ribeiro com o título “Um novo começo” analisa com cuidado as relações bilaterais recentes, expressando a esperança do estabelecimento de uma nova química entre Barack Obama e Dilma Rousseff. Refere-se ao inicialmente estabelecido por Bush com Lula que não se efetivou por falta de uma agenda bilateral, e eventos internacionais posteriores onde as posições brasileiras não coincidiram com as norte-americanas, culminando nas profundas divergências relacionadas com o Irã. O de Assis Moreira, com o título “Parceria com interrogações”, procura verificar os pontos de vistas a partir do Brasil, e o de Roberto Abdenur trata das “Novas realidades em questão”.
Barack Obama cumprimenta Dilma Rousseff
Nos Estados Unidos, parece existir em alguns setores, como no Congresso, um sentimento de divergência com o Brasil em muitos aspectos, na medida em que não conta com uma adesão automática a muitas de suas posições de política internacionais, além de alguns conflitos de interesses comerciais. O Departamento de Estado, com a Hilary Clinton, procura estimular um novo relacionamento com o Brasil, aproveitando a eleição de Dilma Rousseff, em cuja posse compareceu pessoalmente sacrificando-se na passagem do ano e propondo a imediata visita de Barack Obama ao país. Ainda que existam diferenças, o Executivo norte-americano reconhece a importância do Brasil, mesmo que não esteja em condições de propor que seja membro permanente do Conselho de Segurança, uma das aspirações brasileiras, como fez com a Índia.
Do lado brasileiro, o novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, além de ter sido embaixador nos Estados Unidos, é casado com uma norte-americana, sendo considerado um dos diplomatas brasileiros que melhor compreende a forma de pensar das autoridades daquele país. O artigo de Alex Ribeiro lista, cuidadosamente, a opinião de muitos representantes de organismos privados que ajudam a formar a opinião de importantes segmentos sobre os aspectos principais que interessam aos dois países. Parece que os norte-americanos gostariam que o Brasil se juntasse a eles na pressão pela valorização do câmbio chinês, mas observa-se que os brasileiros têm a China como uma importante parceira econômica.
É evidente que o Brasil reconhece que os Estados Unidos, ainda que tenham seus problemas, continua sendo o país de maior importância econômica, militar e política. A primeira declaração da Dilma Rousseff condenando a política de direitos humanos no Irã parece ter repercutido positivamente entre os norte-americanos. Procura-se um relacionamento bilateral menos conflituoso, mesmo que tenha uma linha política internacional própria, procurando manter diálogo com todos os países. Mas existem dúvidas sobre uma agenda positiva, efetuando-se esforços para que a visita deixe resíduos concretos, com uma química pessoal construtiva entre os dois dirigentes máximo.
A nova realidade das relações bilaterais é que os Estados Unidos se esforçam para retomar o seu crescimento, enquanto países emergentes como o Brasil conquistaram uma posição que precisa ser consolidada nas instituições internacionais, como já vem ocorrendo na área financeira, inclusive com o apoio norte-americano. Existem problemas regionais na América Latina que os Estados Unidos não dão a devida importância, onde o Brasil procura ter um papel mais decisivo. Muitos gostariam que o Brasil servisse como um anteparo ao decisivo avanço da China como na África, o que vai exigir um apoio multinacional bem amplo.
Todos têm interesse que os dois países tenham mais aspectos que os unam do que tópicos que os separem, e ambos os lados estão tomando medidas para que isto se efetive.