Avaliações Distorcidas dos Estrangeiros Sobre o Japão
14 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: efeitos dos terremotos e tsunamis sobre a economia japonesa, investimentos privados, o problema do financiamento da dívida pública | 2 Comentários »
Existem muitas dificuldades dos estrangeiros entenderem o Japão e o seu povo, que desenvolveu uma cultura de um arquipélago pobre em recursos naturais. Os estudos existentes, como os efeitos do terremoto de Kobe, indicam que estes desastres naturais são estatisticamente insignificantes na determinação do produto nacional, e mostram a importância da aglutinação nacional dos seus esforços. Os investimentos que serão efetuados para a reconstrução do Japão podem provocar um novo surto de crescimento, servindo como um desafio para a sua população, e não uma recessão. O Japão vinha utilizando parte das suas poupanças internas para financiar empreendimentos no exterior, que voltarão agora para os projetos internos, de forma prioritária. Os impactos destas obras ativarão a sua economia.
Muitos avaliam que a economia japonesa estava estagnada, quando o seu crescimento se observava no exterior, como na China e no sudeste asiático. Hoje, cerca de 70% do suprimento, desde alimentos até produtos semielaborados eram provenientes das subsidiárias instaladas no exterior, com poupanças japonesas. Agora, as necessidades nacionais de recuperação vão voltar parte substancial destes recursos para o próprio Japão, cuja dívida pública é importante, mas a custos baixos e prazo longo.
O sistema de poupança utilizando o correio japonês capta poupanças populares estáveis e de baixo custo superiores a US$ 2 trilhões. Parte disto é utilizada para o JBIC – Japan Bank of International Cooperation, bem como DBJ – Development Bank of Japan, para financiar projetos de infraestrutura e grandes empreendimentos industriais no exterior. Certamente, a prioridade do financiamento de obras de reconstrução passará a ser importante, como já vem sinalizando o Banco Central do Japão, Bank of Japan, que está provocando um aumento substancial da oferta de crédito interno.
Ainda que a dívida pública japonesa seja elevada, o que é relevante ao seu custo, que certamente é 10 vezes inferior ao do Brasil. Os que avaliam que a economia japonesa está numa situação difícil, precisam verificar o crescimento que suas empresas registravam no exterior, como na China, onde parte significativa do seu crescimento deve-se aos investimentos japoneses. Se a economia japonesa conta internamente com alguma capacidade ociosa, ela é capaz de responder imediatamente às necessidades de investimentos na reconstrução nacional.
Certamente haverá dificuldades momentâneas, pois muitas empresas japonesas utilizam o sistema do “just on time” que depende de uma logística eficiente. Mas ela tem uma tradição de muitas décadas, e pode superar as dificuldades atualmente existentes com alternativas.
Haverá, certamente, algumas alterações nos investimentos que vinham sendo efetuados. Os japoneses que foram os únicos que sofreram bombardeios atômicos ficam traumatizados com as dificuldades de suas usinas que utilizam energias semelhantes. Isto vai exigir a ampliação do seu sistema de captação de energia solar e eólica, pois não pode depender das que são poluentes.
A disciplina do povo japonês que vem sendo demonstrada na atual crise indica que há possibilidade de aglutinar os esforços dos seus recursos humanos para retomar o seu crescimento, como fizeram no pós-guerra, na crise do petróleo ou diante de graves calamidades naturais. A tecnologia de que dispõe ficou demonstrada na construção civil de grande porte que resistiu aos abalos dos terremotos.
Tendo recursos humanos, tecnologia e poupança, os atuais desafios têm todas as condições de serem superados.
Agora começam a surgir "vozes" de estrangeiros que estão vivendo a realidade japoneza pós-catástrofes reconhecendo a "verve" alarmista e irreal da visão geral ocidentalizada.
(http://moderntokyotimes.com/2011/03/21/the-reality-and-unreality-of-tokyo-amidst-the-hype-of-the-media/)
Excelente insight.
Caro Claudio,
Como em qualquer sociedade, existem coisas elogiáveis no Japão, como sua capacidade de aglutinação nacional para a reconstrução, mas alguns defeitos de uma cultura desenvolvida num arquipélago. É preciso equilibrar tudo para uma conclusão final, mas estou convencido que eles vão ativar a sua economia com o processo de reconstrução.
Paulo Yokota