Disciplina dos Japoneses na Crise
14 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: cenas divulgadas, entrevistas concedidas, exemplos das disciplinas dos japoneses, recomendações governamentais aceitas | 6 Comentários »
Naturalmente, muitos que não conhecem mais profundamente os japoneses estranham alguns comportamentos deles em situação de emergência pela qual passam no momento. Na realidade, os japoneses têm uma cultura que determina uma disciplina que se diferencia de outros povos mais individualistas. Os interesses coletivos são considerados acima de eventuais divergências de posição ideológicas, religiosas ou de opiniões técnicas, para permitir uma convivência razoável dentro de um arquipélago limitado em recursos naturais e sujeitos a grandes desastres provocados pela natureza.
Vamos dar alguns exemplos para permitir uma compreensão melhor do comportamento dos japoneses. Estávamos no Japão quando da primeira crise petrolífera, junto com um ministro brasileiro, quando o ministro de finanças do Japão foi à televisão informando a situação crítica em que se encontravam, pois dependem totalmente da importação desta matéria-prima vital. Ele pedia o sacrifício de todos para manter o nível de emprego. O experiente ministro brasileiro duvidou do efeito deste tipo de apelo.
No dia seguinte, fomos à agência do Banco do Brasil, e para surpresa dos visitantes brasileiros, antes do início do expediente, os funcionários da agência, inclusive brasileiros, tinham feito uma reunião aceitando o corte de 10% no salário de todos, para que não houvesse um corte de empregos na agência. O mesmo tinha acontecido em todas as empresas japonesas. Por economia, eles passaram a usar o verso das correspondências recebidas para serem usados nas novas que enviariam para outras empresas, visando economizar papéis novos.
Na atual crise, os estrangeiros devem ter observado que as dramáticas cenas dos tsunamis só envolvem danos materiais, sem a presença de pessoas em pânico. Um brasileiro perguntou-me se o alerta teria antecipado o suficiente para que permitissem todos se deslocarem para pontos seguros. Não. Para evitar o pânico da população, recomendou-se que só fossem utilizadas cenas dos tipos divulgados de danos patrimoniais. As entrevistas concedidas foram recomendadas serem dadas somente pelas autoridades com base em informações confirmadas, de forma a evitar boatos que podem ser prejudiciais. Um destacado analista amigo meu recusou um pedido para conceder uma entrevista para uma televisão brasileira, diante da orientação que está sendo seguida, alegando que não estava suficientemente informado, e não estava autorizado para tanto. Somente brasileiros e outros estrangeiros não estão seguindo esta orientação. Não se trata de censura, mas uma consciência coletiva que enfrentam uma grande emergência, e o pânico em nada contribui para resolver os problemas.
O Japão está economizando energia, com um rodízio no seu fornecimento ou uma cota de gasolina para cada carro. A população está se mobilizando para contribuir com mais, reduzindo suas viagens desnecessárias, redução dos luminosos, e todas as medidas para evitar o congestionamento das comunicações, limitando-se ao mínimo necessário.
Mesmo as centenas de milhares de pessoas atingidas pelo tsunami ou outras que foram deslocadas preventivamente dos riscos das usinas atômicas de Fukushima, que estão superando as medidas das autoridades, evitam manifestar os seus desconfortos com faltas de lugares para se abrigarem, de água, alimentos e cobertores.
Paciente e resignadamente, enfrentam as limitações, esperando que as medidas que estão sendo tomadas possam minorar suas dificuldades. Medidas começam a ser adotadas, como do Banco do Japão, para que não faltem recursos para a recuperação. Ainda não é hora de pensar nas obras de reconstrução, mas muitas delas terão efeitos sobre outras áreas localizadas junto as falhas onde as placas tectônicas se encontram, e que estão sendo sujeitas a acidentes como os que ocorreram no Japão.
O mundo será diferente depois destas desgraças.
É isso, consciencia coletiva: situações que despertam comoção mundial é ótimo termometro para avaliar a atitude da mídia internacional. Nisso, poucas emissoras de tv escapam. Emissoras como a NHK (japonesa) e a TV5Monde (francesa), sóbrias, competentes e éticas, só apresentam informações, entrevistas e comentários de gente altamente informada e conhecedora do assunto. Não dão a mínima para índices de audiência, como certas outras que colocam imagens ou chamadas sensacionalistas com gente que só quer aparecer, confundindo o povo com especulações e boatos.
Cara Naomi Doy,
Lamentavelmente, as TVs comerciais vivem da audiência e das publicidades. Os casos da NHK e da TV5 Monde são estatais e podem servir de exemplo para a TV oficial do governo federal brasileiro que até o momento só serviu de cabine de emprego.
Paulo Yokota
Realmente é tocante ver a resignação e o sentimento de solidariedade deste povo frente a tamanha tragédia. Conte com qualquer ajuda que nós da DPZ pudermos prestar.
Caro Frederico,
Realmente, e obrigado pela observação. Todos os meios de comunicação social do Japão estão fazendo um esforço para aumentar a solidariedade, havendo inclusive brasileiros residentes no Japão ajudando com risco de suas vidas. Reclamei de um jornal brasileiro que usou quatro títulos usando a palavra pânico, até sobre a bolsa que subiu hoje 6% em Tóquio.
Obrigado pelo oferecimento de ajuda.
Paulo Yokota
Eu admiro muito o povo, japones, pela sua cultura.
Caro Edson Ortiz,
Obrigado pelo comentário.
Paulo Yokota