Já combinaram com os russos?
1 de março de 2011
Por: Samuel Kinoshita | Seção: Economia e Política | Tags: aeroportos chineses; concorrência dos trens rápidos | 2 Comentários »
O próximo plano quinquenal chinês (2011-2015) deverá apresentar uma meta de crescimento de 7% ao ano, ante os 7,5% do plano anterior. A idéia é redirecionar suavemente a economia chinesa, aumentando a participação do consumo das famílias e reduzindo o peso das exportações e do investimento pesado. Este processo deveria diminuir o ímpeto por projetos apenas marginalmente desejáveis. Mas não é exatamente isso que parece estar ocorrendo.
Diversas fontes apontam a existência de deficiências na coordenação entre o governo central e as autoridades locais. Um exemplo, mencionado por Jamil Anderlini, do Financial Times, pode ser evidenciado na frenética construção de aeroportos. Dos atuais 175 aeroportos chineses, três quartos são deficitários e alguns sequer recebem voos. Mesmo assim, o plano é adicionar 45 novos aeroportos nos próximos cinco anos. Vários desses novos projetos ficarão a alguns minutos de carro de outros aeroportos já instalados. Com a concorrência dos trens de alta velocidade (que também andam vazios), fica difícil imaginar que exista a necessidade de todo esse investimento. O fato é que Beijing enfrenta enorme dificuldade em abortar os projetos encaminhados pelos influentes líderes locais.
Nesta competição francamente unidimensional, o administrador público que entrega um crescimento econômico superior ao das localidades concorrentes, acaba destacando-se perante os outros políticos e potencializando sua carreira. Isso sem falar na possibilidade de corrupção que as grandes obras acabam gerando. É muito difícil conter os líderes locais quando estes lucram tanto com um crescimento acentuado.
O mesmo sistema de incentivos que proporcionou um crescimento espetacular nos últimos trinta anos aparenta estar se tornando um empecilho ao necessário reajuste da economia chinesa. A pergunta que fica para os dirigentes centrais é a de Mané Garrincha: já combinaram com os russos?
Ótima análise da China-2011, Samuel. Faz lembrar John Pomfret, "Caminhos da China", da China-1970-1990. Na época acho que eles combinavam tudo, sim, com os russos.
Oi Naomi,
muito obrigado pelo comentário e pela referência de leitura. Acredito que esteja surgindo um desalinhamento entre os incentivos de Beijing e dos administradores locais nesta nova fase do desenvolvimento chinês.