O Mundo Ajuda a Reduzir o Exagero de Recursos Para o Japão
19 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: dificuldades de compreensão de fenômenos financeiros, necessidade de controle dos fundos de investimentos | 2 Comentários »
Muitas vezes, em economia até as melhores intenções podem acabar prejudicando um país. Muitos recursos financeiros de fundos japoneses estavam aplicados no exterior, pois suas poupanças são elevadas. Com as recentes dificuldades japonesas, muitos destes recursos retornaram instantaneamente para o Japão, até para ajudar nos processos de sua recuperação. O iene chegou a uma cotação exageradamente valorizada de 76 por dólar norte-americano exigindo que os países desenvolvidos ajudassem a evitar parte destes recursos, fazendo com que o iene desvalorizasse para acima de 80 por dólar. Muitos jornalistas, economistas mal preparados e alguns que só pensam em especular com estas bruscas variações acabam distorcendo algumas interpretações, não observando que a valorização exagerada do iene prejudica as exportações japonesas e consequentemente o emprego e a recuperação do Japão.
Isto não acontece somente naquele país. A Folha de S.Paulo, associando os noticiários relacionados com a visita de Barack Obama ao Brasil, informa que foram registrados 27 fundos para investimentos no Brasil, e outros estariam a caminho. Estes recursos podem ajudar o país se forem destinados a investimentos físicos de longo prazo. Mas estes não costumam ser o alvo destes fundos, que apresentam elevada volatibilidade, procurando aplicações de curto prazo que proporcionem alta rentabilidade. Se surgirem outras oportunidades, podem sair do Brasil com grande velocidade, além de provocar uma valorização do real, que prejudica nossas exportações e facilita a importação de produtos do exterior. As autoridades brasileiras estão atentas a estes problemas, como as japonesas, procurando neutralizar estes recursos especulativos.
Tanto o Japão como o Brasil possuem adequadas reservas internacionais, e se recursos financeiros chegam do exterior, os seus bancos centrais são obrigados a adquiri-los, e no caso brasileiro o custo do financiamento destas reservas acabam sendo mais elevadas que seus benefícios. O Brasil está interessado em investimentos de longo prazo que transfiram tecnologias não disponíveis no país. O sistema financeiro internacional, que deveria ser um braço para ajudar no desenvolvimento, tornou-se um instrumento de especulações perigosas, parecendo ter esquecido o seu nobre papel social de financiar o aumento da produção e o nível de bem-estar das populações.
Estes fundos são formados por poupadores gananciosos, inclusive brasileiros, que desejam retornos elevados e podem acabar nos bancos do país que exageram na utilização destes recursos que são astronomicamente abundantes no mundo globalizado. As autoridades entendem que é preciso haver um controle internacional destes fluxos que se movem velozmente, mas os bancos com seus eficientes lobbies que utilizam muitos jornalistas resistem à implantação de qualquer regulamentação.
Apesar de a economia ser uma arte relativamente simples, ela, quando mal utilizada, pode induzir massas de poupadores que se movem coletivamente pela moda, provocando assustadores movimentos de rebanhos, muito emocionais, que aproveitam os fatos catastróficos ou exageros de otimismo.
Ainda bem que as atuais autoridades japonesas como brasileiras, com a ajuda dos países relevantes no cenário financeiro internacional, estão atentas a estes fenômenos, procurando tomar medidas que deem maior prioridade aos verdadeiros interesses nacionais.
Yokota-san
Arigatoo.
Agradeço seus comentários e esclarecimentos sobre a elevação do iene, bem como a reflexão do papel dos investidores, que devem pensar no bem coletivo antes de almejar apenas lucros individuais.
Prezada Monja Coen,
Todos nós estamos preocupados com os problemas enfrentados pelos japoneses, que são das mais variadas formas. O momento mais crucial e angustiante ocorreu na noite de sábado, já domingo dia 20 no Japão. O aquecimento da terceira unidade da usina de Fukushima, apesar dos esforços das autoridades, acusavam um novo aumento da temperatura. Esta unidade difere das demais cinco, pois utiliza plutonio, ao invês de urânio que apresenta maiores riscos de contaminação radioativa. Os noticiários desta manhã de domingo no Brasil, já noite no Japão, informarm que houve uma estabilização, no mínimo, parecendo que os esforços de desaquecimento conseguiram resultados.
Como V. vem fazendo, temos que evitar o pânico entre brasileiros e japoneses, pois o noticiário no Brasil e alguns meios de comunicação do mundo chamam atenção para indicações locais alarmantes. Agora, por exemplo, faz-se um esforço para esclarecer que a radiação encontrada nos espinafres e leites, ainda que sejam indesejáveis, não são de níveis alarmantes. O mesmo acontece nas diversas regiões, que lamentavelmente continuam enfrentando abalos, mas os níveis de radiação são os usuais que profissionais que trabalham nos hospitais brasileiros estão sujeitos, bem como os que efetuam exames que utilizam materiais radioativos.
Devemos contribuir para que familiares no Brasil não se preocupem exageradamente, acima do necessário. Tivemos contatos com pessoas residentes na província de Fukushima, e apesar de incomodados pelos abalos, estão tranquilas. Há desconforto com a falta de combustíveis cuja oferta está aumentando, bem como os medicamentos e demais assistências, como os alimentos quentes estão chegando aos que ficaram desalojados.
V. conhece, melhor que eu, o carater dos japoneses, que além da paciência possuem um elevado espírito de solidariedade, e certamente vão reconstruir o Japão, mesmo com todas as suas limitações naturais.
Obrigado pelo trabalho que vem fazendo.
Paulo Yokota