Treinados para Emergências e Preparados para Crises
22 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: evacuações, kits de sobrevivência, senso coletivo, The Japan Times | 4 Comentários »
Acompanhando o drama dos japoneses, o mundo se espanta com a calma e ordem com que o povo enfrentou o desastre, enterra os mortos, e se prepara para a recuperação. Trabalhadores estrangeiros aflitos congestionaram aeroportos tentando sair do país a qualquer custo, apavorados com tremores, desabastecimento e radiação.
Residindo no Japão desde 1994, Amy Chavez, do The Japan Times (What it means do be ‘prepared’- 19 de março), narra como o Japão “escoteiro”, arquipélago sob o signo de desastres naturais, se mantém em alerta permanente, com uma organização altamente coordenada de suas forças de defesa civil e do batalhão de médicos, paramédicos e voluntários. O governo, em conjunto com prefeituras, escolas, hospitais, fábricas e empresas cumpre treinamento intensivo da população, para evacuações de emergência. Mais do que tudo, porém, o país se esforça para o preparo individual para crises: cada pessoa sabe exatamente o que fazer numa emergência. Não nativos acham que o país é hiper- obsessivo e exagera no que diz respeito a preparo da população para desastres. Mas o de 11 de março mostrou que nenhum preparo pode ser demais.
O objetivo dos treinamentos não é apenas fazer o povo se conscientizar com procedimentos de emergência, mas praticá-los até que tais exercícios se tornem automáticos. Centros de evacuação para terremotos e tsunamis estão bem indicados em todas as partes das cidades. Além de sinais e placas indicativas nas ruas, cada moradia recebe mapas detalhados de rotas de fuga e número de telefones de emergência e contatos. Nos momentos de crise, cada morador sabe exatamente qual vizinho está faltando. Se quiser, podem receber alertas via celular. Todos são encorajados a manter kit de sobrevivência no genkan (hall de entrada) e um farolete junto ao travesseiro. Caso tenham que abandonar a casa, recomendam-se sair com roupas de mangas e calças compridas, sapatos e luvas resistentes – para se proteger de cacos, vidros quebrados. Faroletes, aliás, são itens simbólicos da “cultura de segurança” em casa de japonês: anos 50, no interior do estado de São Paulo, raios provocavam muitos blecautes. Fosse ao meio da noite, era festa para crianças, pois podíamos nos aventurar pela casa às escuras, cada qual com seu farolete, só pelo prazer da diversão.
Onde há muitos trabalhadores estrangeiros (como nas províncias de Aichi, Saitama, Chiba, Nagano), os residentes recebem livretos com informações e dicas para emergências em japonês, inglês, chinês, coreano e português. São conselhos úteis, sensatos (“para evitar congestionamentos, caminhar, e não dirigir, até os centros de evacuação; se estiver ao volante, estacionar o carro na guia e deixar a chave no contato para que equipes de salvamento possam movê-lo caso atrapalhe as operações; não fazer estoques de mantimentos para que outras pessoas também possam encontrar os produtos – como alimentos, combustíveis” etc. etc.) Apesar do drástico preparo, o desastre ultrapassou todos os prognósticos: diante do avassalador tsunami, nunca o país se sentiu tão despreparado. Agora vão rever as falhas, há que se preparar melhor ainda.
Segundo Amy Chavez, preparo e treinamento não só salvam vidas: ensinam o povo a se sentir mais forte, e a agir com mais segurança durante crises em geral. Treinamento em conjunto, uma quase doutrinação no Japão, cria um senso coletivo de mútua cooperação e ajuda entre vizinhos e próximos. A população não entrou em pânico, obedeceu a leis, respeitou regras, manteve a dignidade. Mesmo em regiões duramente atingidas, como na província de Miyagi, informa-se que não houve casos de pilhagem. Isso é estar preparado.
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Thanks for the comments.
Paulo Yokota
moro no interior de Shizuoka e seus textos me deixam tão tranquilas quanto o governo dizendo que não há perigo aqui.
Queria que minha família no Brasil compartilhasse de minha tranquilidade e confiança de que amanhã será um lindo dia.
GANBARE NIPPON!!!
Cara Claudia Mera,
Obrigado, mas ainda existem riscos, ainda que eles sejam menores que os alardeados.
Paulo Yokota