Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de Carmen Reinhart Para a Folha

25 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: entrevista publicada na Folha de S.Paulo, estudo sobre fluxos financeiros, riscos para os países emergentes

Uma interessante entrevista foi concedida ao jornalista Álvaro Fagundes, da Folha de S.Paulo, pela economista Carmen Reinhart, autora do estudo “This Time is Different: A Panoramic View of Eight Centures of Financial Crises” (“Oito Séculos de Delírios Financeiros – Desta Vez é Diferente – uma visão panorâmica de oito séculos sobre crises financeiras”, elaborado junto com Kenneth S. Rogoff, ex-economista chefe do FMI, ambos do NBER – National Bureau of Economic Research.

Resumidamente, ela afirma que os dramas mais agudos que começaram em 2008 acabaram, mas as economias avançadas como os Estados Unidos e o Japão ficaram com dívidas pesadas, alguns países europeus passam por dificuldades antes difíceis de serem imaginadas e alguns países emergentes sofreram um forte influxo de recursos externos, como o Brasil. A recuperação completa vai demandar muito tempo, e agora existem dificuldades inflacionárias, como no Brasil e na China, em decorrência da expansão monetária que foi provocada para superar o período mais agudo da crise. Segundo ela, os efeitos mundiais da crise e as medidas monetárias estimuladoras tomadas para fazer frente a ela demoram a ser neutralizadas.

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Kenneth Rogoff  e Carmen Reinhart e a capa do livro

Eles colecionaram dados desde 1800 em diferentes países para o estudo. Ela informa que a recuperação norte-americana será lenta, que o FED agiu rapidamente, mas terá que ter o mesmo comportamento para elevação dos juros, e que Barack Obama deve apresentar um plano para a redução da dívida norte-americana que já começa a incomodar.

Os países emergentes que proporcionam rendimentos mais elevados como o Brasil sofrem um influxo de recursos financeiros e terão que lidar com esta faca de dois gumes, que necessita de capitais estrangeiros, mas valoriza a sua moeda provocando dificuldades para as suas indústrias que necessitam se manter competitivas.

Ela informa que a inflação chinesa é mais elevada que a oficial, pois existem muitos preços que estão sendo contidos artificialmente. Se os chineses mantiverem sua moeda desvalorizada por um longo período, as pressões inflacionárias serão mais duradouras, com riscos de se transformarem em crônicas. É evidente que a China já vem tomando medidas, com a elevação interna dos seus juros e restrições às expansões creditícias, contando com um sistema muito controlado.

São todas colocações que merecem grande atenção, inclusive no Brasil.