Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Trens Rápidos Com Problemas na China

26 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Política | Tags: outros exemplos, problemas com grandes projetos, retornos dos trens rápidos | 12 Comentários »

 

Por: Paulo Yokota Seção: Economia e Política Tags:

São muitas as notícias, inclusive da China, informando que existem problemas na execução do grande programa de trens rápidos por todo o país. The Washington Post informa que Liu Zhuijun, que era o ministro das ferrovias e está sendo investigado, tinha um projeto de US$ 300 bilhões que está sendo revisto, tanto em termos de velocidade que está sendo reduzida, como pelos elevados prejuízos por falta de passageiros dispostos a pagar as tarifas necessárias. O ambicioso projeto chinês visava demonstrar a tecnologia alcançada pelos chineses para competir nos mercados internacionais, inclusive nos Estados Unidos. Ainda que seus custos sejam menores que os de outros fornecedores, muitas desapropriações foram necessárias, que costumam custar mais em outros países.

Os trens rápidos são projetos capital intensivos e há necessidade de uma demanda substancial, atendendo massas concentradas de passageiros de alto poder aquisitivo, que utilizam tais sistemas de forma frequente.

Trem rápido chinês bate recorde de velocidadeTrem rápido chinês

Problemas semelhantes com grandes projetos vêm ocorrendo em diversos países. Na Europa, o Eurotúnel que liga a Inglaterra a França continua enfrentando problemas, com prejuízos elevados de 57 milhões de euros somente em 2010, segundo o Financial Times, apesar da intensidade do seu uso. No Japão, muitas pontes gigantescas que ligam algumas ilhas do arquipélago continuam enfrentando problemas de tráfego. Informa-se que o TGV da França só apresenta viabilidade econômica no trecho entre Paris e Lyon, enquanto os demais continuam deficitários.

Evidentemente existem outras vantagens para o país que não podem ser incluídas somente nas operações destes sistemas. O tráfego rodoviário na China continua sobrecarregado, apesar dos pesados investimentos que estão sendo feitos nas rodovias, com gigantescos congestionamentos, que resultam em custos para o país. O turismo na Europa é uma fonte importante de divisas e parte é facilitada pelo seu sistema ferroviário de grande velocidade. Mesmo em São Paulo, o sistema do metrô está sendo parcialmente construído com o mecanismo público-privado, com os custos das infraestruturas básicas custeadas pelos orçamentos públicos, ficando com as empresas privadas consorciadas a parcela rodante e sua operação, visando aliviar o congestionamento da metrópole.

Tudo indica que os estudos de viabilidade estão sendo elaborados com hipóteses demasiadamente otimistas, sem considerar os eventuais complementos necessários, e as flutuações naturais da economia. De qualquer forma, os exemplos que estão se verificando recomendam maiores cautelas nas suas avaliações, pois o tempo em que podem se tornar superavitários podem estar mais longe do que poderia se cogitar. A intensidade de cidades de grande porte que pode utilizar tais serviços costuma ser também maior do que os existentes em países como o Brasil, com grande extensão geográfica.

Ferrovias eficientes costumam exigir cargas contínuas não somente num sentido, mas também as de retorno, mesmo quando em velocidades menores.


12 Comentários para “Trens Rápidos Com Problemas na China”

  1. Jorge
    1  escreveu às 17:54 em 26 de abril de 2011:

    Pois é, sabendo disso ainda tem gente bem informado que insiste em querer construir o “trem-bala” tupiniquim no Brasil…
    Logicamente seria muito bom ter um aqui, mas diante de tantas necessidades urgentes, fica parecendo que existe algo obscuro nestas intenções.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 19:12 em 26 de abril de 2011:

    Caro Jorge,

    Parece que o objetivo principal é o domínio desta tecnologia, como acontece na área nuclear.

    Paulo Yokota

  3. Nikos
    3  escreveu às 21:53 em 26 de abril de 2011:

    O trem bala no Brasil é inviável não somente porque é caro. Falta ao brasileiro educação suficiente para não depredar, quebrar, sujar, etc. o que é público.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 22:36 em 26 de abril de 2011:

    Caro Nikos,

    Permita-me discordar sobre o seu comentário que respeito. O metrô paulistano veio se mantendo muito bem conservado, por exemplo.

    Paulo Yokota

  5. Roberto Tongu
    5  escreveu às 22:54 em 26 de abril de 2011:

    A propósito, os japoneses desistiram ou não da licitação de trem bala no Brasil?

    Na última vez que tive contato com a estória, os jornais japoneses diziam que os japoneses haviam desistido porque as premissas do governo brasileiro eram demasiadamente otimistas e fora da realidade; preços de passagem definidos não possibilitariam lucro de acordo com os japoneses.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 23:39 em 26 de abril de 2011:

    Caro Roberto Tongu,

    Até onde eu estou informado, mesmo com as restrições que vinham sendo apontadas pelos japoneses, eles vinham trabalhando no projeto, quando ocorreram os recentes desastres naturais, o que deve ter reduzido a sua capacidade de financiamento de um projeto custoso como este. No entanto, é preciso entender que os fornecimentos de material rodante não chega a representar 20% do custo total, que depende fortemente das empreiteiras locais envolvidas no consórcio, bem como a operação do sistema por um longo prazo, que parece não interessar aos grupos japoneses. A transferência da tecnologia é outro problema sério, além da capacidade de entender-se com grupos internacionais, que não vem facilitando os japoneses. Mesmo que as autoridades brasileiras tenham afirmado que o prazo máximo da apresentação das proposta é definitivo, existem dúvidas, pois os encargos relacionados com a Copa do Mundo e as Olimpíadas sobrecarregam os orçamentos brasileiros. Todos os potenciais consórcios enfrentam dificuldades, e os grandes projetos brasileiros acabam ficando diferentes na sua execução, como já aconteceu em Itaipú, está acontecendo em Belo Monte e possivelmente vai acabar ocorrendo com o trem rápido. A flexibilidade para adaptar-se a estas mudanças não costuma ser o forte dos japoneses, que depende de um razoável consenso entre e dentro dos diversos grupos.

  7. Jaime
    7  escreveu às 09:39 em 27 de abril de 2011:

    Independentemente da necessidade ou não do trem-bala no Brasil, torço para que os japonês ganhem esse projeto.
    Espero que eles não cometam a besteira de perderem mais uma oportunidade de investirem aqui, deixem os receios de lado e pensem a longo prazo, ao contrário da China, aqui não encaramos o Japão como um concorrente e as regras são mais flexíveis.
    Gostaria que usasse a sua influência juntos aos japoneses para que não vejam somente o projeto através do edital proposto pelo governo, pois é possível ganhar dinheiro explorando as brechas do contrato e da própria legislação brasileira, pois é assim que as empreiteiras nacionais recuperam o seu investimento.

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 09:57 em 27 de abril de 2011:

    Caro Jaime,

    A concorrência do trem rápido brasileiro depende mais dos consórcios que serão montados com base nas empreiteiras brasileiras, pois o custo da infraestrutura é maior que os materiais rodantes. O problema é que exige pesados financiamentos, além dos proporcionados pelo BNDES. Tudo indica que os japoneses, pelas dificuldades recentes, enfrentam dificuldades de adicionar financiamentos e eles parecem não desejar se responsabilizar com parte da operação. Que eles estão mais habilitados a utilizarem as estações e outros imoveis para conseguirem receitas adicionais, não há dúvidas, pois fazem isto regularmente no Japão. O problema crucial, como vem se provando no resto do mundo é se existe demanda suficiente e com poucas flutuações, para sustentar um investimento tão elevado e financiamentos que, no Brasil, se tornam custosos.
    Tudo isto não depende tanto dos japoneses ou outros fornecedores de equipamentos, mas da capacidade de financiamento. Existem complexos problemas de transferência de tecnologia, além das difíceis montagens de consórcios com muitos participantes de origens diferentes.

    Paulo Yokota

  9. Roby
    9  escreveu às 09:55 em 27 de abril de 2011:

    Não sou contra o projeto, desde que fosse um investimento inteiramente privado.
    O problema dessa obra é a interferência do Estado na tarifa e no projeto, além da obrigatoriedade da transferência de tecnologia, caso contrário não faltariam interessados em bancarem todo o investimento, sem nenhum custo ao contribuinte.
    A transferência de tecnologia é inócua, pois não temos empresas nacionais capazes de absorverem inteiramente a tecnologia, além do problema da competitividade industrial, que é causado pelo famoso “custo Brasil”.
    Infelizmente o governo impõe questões ideológicas e políticas acima das razões lógicas e do interesse nacional.

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 10:08 em 27 de abril de 2011:

    Caro Roby,
    O custo, a carência e o tempo em que ocorre o retorno de um projeto desta magnitude dificilmente podem ser arcados por qualquer empresa privada, em qualquer parte do mundo. A Embraer, de forma semelhante à Bombardier canadense está interessada em ingressar nestas atividades, interessando-se por suas tecnologias, pois os trens rápidos apresentam problemas de aerodinâmica. Não consigo ver nenhum obstáculo ideológico por parte do governo.
    Paulo Yokota

    Paulo Yokota

  11. Carlos Silva
    11  escreveu às 14:02 em 28 de abril de 2011:

    Respeito a opinião de todos, mas acho que o Brasil deveria gastar estes bilhões de reais na construção de casas populares, escolas públicas, universidades, hospitais, em saneamento básico, em segurança etc. Não precisamos de trenzinho.

  12. Paulo Yokota
    12  escreveu às 14:53 em 28 de abril de 2011:

    Caro Carlos Silva,

    Procuramos respeitar a opinião de todos. É interessante que muitos países, mesmo com os atuais prejuizos, estão cogitando da utilização de trens rápidos, inclusive os Estados Unidos, tanto na California como na Flórida. Temos muitas necessidades, como na maioria dos países emergentes, e no atual governo eleito democraticamente, parece que a prioridade é a obtenção de tecnologias em variados campos.

    Paulo Yokota