Amakudari e Outros Costumes Japoneses
24 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: artigo do The Diplomat, compreensão adequada, conveniências e inconveniências, costumes japoneses
Existem naturais dificuldades de julgamento de certos costumes vigentes num país quando ele é feito por estrangeiros ou sem uma profunda avaliação. Entre eles, o chamado amakudari, que ganhou uma conotação negativa diante do seu abuso. Refere-se à colocação de antigos funcionários públicos de carreira, depois de aposentados, em empresas estatais ou privadas, tendo a tradução literal de “descentes do céu”, que acabou sendo objeto de um artigo do The Diplomat, escrito por Hiroko Ogawa.
Mas é preciso compreender que no sistema público japonês os funcionários ingressam na carreira por concurso e, dado o sistema piramidal, somente um deles chega ao posto máximo que é de vice-ministro administrativo, com a idade em torno de 60 anos. Os demais, mesmo altos funcionários, são aposentados em torno dos 55 anos, quando estão com o máximo de suas capacidades funcionais.
O abuso deste sistema, que não é exclusivo da área pública, ocorre também nas grandes organizações privadas. Muitos são colocados nas direções de suas subsidiárias, ainda que não estejam em funções para os quais estão mais qualificados. Quando ocorre do setor público para as estatais, seus riscos são maiores. Mas existem os casos em que estes relacionamentos do setor público e estatais, ou até empresas privadas, sejam de toda a conveniência para permitir uma melhor coordenação, sendo efetuados porque os envolvidos possuem capacidade e qualificações para tanto.
Este sistema está de certa forma associado a outro chamado gakubatsu, que se refere aos grupos que acabam formados por terem sido colegas numa mesma universidade. Algo parecido acontece em muitos lugares do mundo, onde pode acabar ocorrendo um processo de preferência por antigos colegas ou formados nas mesmas escolas. Também existem no Japão grupos formados por pessoas provenientes das mesmas províncias. Portanto, não significa necessariamente que haja uma inconveniência política com a existência destes sistemas, mas pode ocorrer como no atual caso da Tepco, em que ela pode ter favorecido menores eficiências para cuidar de problemas complexos.
É preciso entender que tais sistemas decorrem, em parte, do que foi formado na China para preparar altos servidores da corte que cuidavam dos principais problemas de administração. Normalmente, são pessoas que fizeram a carreira numa determinada especialidade, contando com qualificações para tanto. Alguns exemplos são funcionários de carreira do Ministério de Finanças da área internacional que acabaram tendo qualificações para lidar com assuntos relacionados com o FMI, o Banco Mundial ou outras organizações multinacionais, e acabam sendo aproveitados por alguns bancos privados. Mas deve-se admitir também que houve abusos, com pessoas pouco qualificadas ou que tinham relacionamentos políticos que poderiam facilitar o encaminhamento de determinados problemas.
O que parece evidente é que não deve haver um preconceito sobre o assunto, mas cada caso deve ser examinado cuidadosamente, inclusive porque também acontece no Brasil, onde muitos altos funcionários são recrutados no setor privado. Uma carência de quem atuou no setor público parece conveniente, pois trabalharam com dados confidenciais que podem envolver grupos concorrentes entre eles. Uma regulamentação adequada pode ser conveniente, mas cobrir todas as possibilidades de desvios parece ser extremamente difícil.