Andorinhas Voltam a se Aninhar em Minami Sanriku
17 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: Associated Press, CNN, devastada pelo tsunami, litoral pesqueiro, NHK-News, tsubame
No dia 11 de março, Mary Caitlen Churchill aproveitava intervalo para estudar japonês numa sala da Escola Elementar de Togura, em Minami Sanriku, província de Miyagi. Vinda de Boston, Massachusetts, ela lecionava inglês em escolas da região através de programa de intercâmbio para professores. Após o forte tremor, o alarme de tsunami alertava para ondas de 10 metros. Diretor, professores, alunos e funcionários escalaram morro atrás da escola, e viram o prédio de três andares coberto pelas ondas. Que, se constatou depois, atingiram mais de 16 metros na cidade. Caitlen e os demais sobreviveram apenas com a roupa do corpo. Naquela noite, se abrigaram num depósito, e comeram meio onigiri cada um. Muitas das crianças ficaram órfãs.
Milagrosamente, a escola de Togura, em alvenaria, permaneceu de pé em meio à lama, coberta de detritos, redes de pesca e algas marinhas. Mas 95% da cidade de Minami Sanriku foi destruída. Situada no fundo de pequena linda baía, igual a outras dezenas ao longo do litoral nordeste, a cidade pesqueira girava em torno da fartura do seu mar. Criações de ostras e algas cultivadas em belas fazendas marinhas, ancoradouro, indústria pesqueira, barcos, depósitos, tudo foi levado pelas ondas. O governo japonês formou um conselho para estabelecer metas para restauro. Primeiro-ministro, governadores e prefeitos são a favor de reconstrução em vez de mera recuperação. Municípios severamente atingidos vão ter autonomia para decidir sobre taxação de impostos, zoneamento de florestas e terras, ocupação do solo etc.
Prédio da escola em meio à lama. O diretor Atsushi Asokawa observa relógio
Professora Mary Caitlen Churchill . Prefeito de Minami Sanriku com o casal imperial
Julia Gillard com o prefeito Jin Sato. Andorinhas tsubame em cantos de casas
Jin Sato, prefeito de Minami Sanriku, é também a favor de reconstruir a cidade em lugar mais alto afastado do mar, deixando o nível do mar para a indústria do pescado e o turismo. Incansável, participa de mil reuniões e luta para conseguir fundos e subsídios para financiar limpeza, reciclagem de escombros, e construção de moradias provisórias. Primeira a receber visita de autoridade oficial estrangeira – a primeira-ministra da Austrália Julia Gillard, a cidade foi também reconfortada pelo casal imperial do Japão.
No dia 14 de maio, Massakatsu Sato, pescador de longa data, acompanhava o resgate do seu barco de 7,3 toneladas que tinha sido carregado pelas ondas até a encosta de um morro, a três quilômetros do mar. Colocado num reboque por enormes guindastes, o barco foi levado até o ancoradouro. Está quase intacto, precisando apenas de alguns reparos. Logo após 11 de março, um atordoado sr. Sato dizia à NHK que, à vista do acontecido, não via mais qualquer esperança ou futuro. Com seu barco de volta ao cais, e a cidade já bastante recuperada dos escombros, ele afirmou ao repórter que agora já enxergava um futuro, e só podia olhar para frente e “tocar o barco”.
Atsushi Asokawa, diretor da Escola Elementar de Togura, voltava quase diariamente ao prédio do colégio para recolher pertences de alunos e documentos escolares, e para limpar detritos. O relógio numa parede marcava a hora do desastre, 14h46min. Na semana passada, ele se aplicava a fotografar, na surdina, uma sala de aula: auspiciosos tsubame (andorinhas) – que sempre voltavam ao pátio nesta época anunciando a primavera, se dedicavam a nidificar em tetos de cantos de salas agora vazias de alunos. Ao repórter da CNN, ele relatou que isso era extraordinário, pois ao redor nem plantas ou árvores tinham condições de recuperação ainda. Ele antevia com prazer a alegria das crianças, instaladas em outra escola na colina, quando vissem as fotos das atarefadas andorinhas indo e vindo pelas janelas das classes.
A professora Mary Caitlen conseguiu reaver seus documentos em meio a detritos na escola. Ao Associated Press, ela declarou que estava voltando para Boston para retomar atividade local, mas assegurou que muito breve pretendia retornar a Minami Sanriku – a trabalho, ou simplesmente para rever os inúmeros amigos e alunos. Tem certeza que irá encontrar uma cidade restaurada, bela, aprazível e pujante – como Minami Sanriku nunca deixou de ser no seu coração.