Brasileiros Estudando Mandarim
19 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais | Tags: artigo no Financial Times, conhecimentos culturais e empresariais, empresas brasileiras treinando funcionários em mandarim | 16 Comentários »
O jornal Financial Times publica um artigo de Samantha Pearson sobre o interesse dos brasileiros no estudo do mandarim, que está sendo utilizado somente como um gancho. Como a China se tornou a maior parceira comercial do Brasil, substituindo os Estados Unidos, muitos executivos e políticos entendem que devem aprender a lidar melhor com aquele país. Eles entendem que os chineses são diferentes dos norte-americanos ou europeus. Além da barreira da língua, existem diferenças de entendimento cultural de ambas as partes, segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Muitos brasileiros vão às feiras chinesas, mas não se preparam para manter os contatos posteriores com as empresas interessadas.
As exportações das matérias-primas brasileiras para a China multiplicaram 35 vezes entre 2000 a 2010, mas as de manufaturados somente sete vezes, constituindo em preocupação para as autoridades. As empresas brasileiras necessitam, com celeridade, estabelecer um relacionamento mais profundo com as chinesas, integrando-se com elas. Entre muitas recomendações efetuadas pelo artigo mencionado, constam que os brasileiros devem ler o que está no novo plano quinquenal, mostrando como eles podem se inserir no seu contexto. Os contatos face a face são importantes, e contar com a participação deles no próprio empreendimento pode fazer uma grande diferença.
Alunos do Centro de Língua e Cultura Chinesa com o conselheiro da Embaixada da China no Brasil
Muitas empresas brasileiras já mantêm escritórios na China, estabelecendo parcerias com os chineses, ensinando seus funcionários a conhecer a cultura chinesa e seus costumes, além do idioma. Mas devem estar conscientes que se trata de um país continental, com muitas diferenças regionais.
Uma parte das dificuldades com relacionamento bilateral decorre do baixo número de chineses que residem no Brasil, comparando com outros países. Nas aulas de mandarim são formuladas muitas perguntas sobre os costumes chineses, principalmente nos relacionados com os negócios. Mas sente-se a carência de um conhecimento de sua longa história e cultura milenar.
Um dos aspectos sobre o qual se chama a atenção é o ritmo dos chineses, que precisam de um tempo adequado para o amadurecimento de suas decisões. Os brasileiros não estão treinados para pensar no longo prazo, e trabalham com pouco planejamento e pragmatismo na execução. Os chineses consomem, como os japoneses, mais tempo nos estudos, mas esperam executar as decisões rapidamente.
Os brasileiros costumam se concentrar numa opção, quando os asiáticos – chineses, japoneses e coreanos – desejam um quadro de todas as opções, para que possam escolher a que consideram mais consistente e adequado, levando em conta um prazo de suprimento mais longo, num tipo de raciocínio sistêmico, envolvendo muitos aspectos.
Muitos funcionários chineses foram enviados ao Brasil somente para efetuar levantamentos dos quadros, e não para decidirem sobre as operações. Existe, também, um exagero dos brasileiros sobre as autoridades governamentais, mesmo que estes relacionamentos sejam importantes. Não se podem confundir todos como agentes oficiais.
A China é ainda uma novidade para os brasileiros, que estão aprendendo sobre ela, havendo muitas vezes dúvidas se está se tratando com uma empresa privada ou estatal, tantos são as vinculações que lá existem. Não se sabe se valem as regras do mercado ou existem decisões políticas.
Sr° Paulo Yokota,
Passados poucos anos do novo milênio o Japão, caindo em decadência, foi relegado ao 2° ou 3° plano suplantado pelos chineses e coreanos principalmente em relação à inovação tecnologia e dinamismo econômico. Por tanto, não vale mais apena aprender japonês como 1° opção de língua asiática.
Mas a chinesa sim, não ha duvida que será imprescindível aprende-la. É o inglês do oriente, língua dos negócios e das oportunidades, dos restaurantes da esquina e das lojinhas dos eletrônicos e roupas baratos.
Mas aí é que fica minha duvida sr° Yokoda. Qual aprender, Mandarim ou Cantonês? Chinês simplificado ou tradicional?
Caro Tiago,
Obrigado pelo comentário. Tenho a impressão que no mundo globalizado todos terão que dominar, no mínimo, três idiomas, como já está acontecendo na Europa. Na Ásia, parece que haverá a convivência de muitos idiomas, pois o inglês é mais simples e prático. O mandarim é uma lingua que é compreendida pela elite chinesa, sendo que o povo fala o idioma de cada região, como o cantonês, pequenês etc., sendo preferível dar prioridade para os que são entendidos em toda a China, cujo desenvolvimento está se descentralizando.
Paulo Yokota
Acho um exagero de alguns afirmar que haverá uma corrida maluca aos cursos de mandarim no nosso país, pelo fato da China ter se tornado a segunda maior economia do planeta. Nem o fato de, futuramente, recebermos bilhões em investimentos da citada nação asiática mudará a minha opinião.
Quando o Japão tornou-se potência econômica e tecnológica, recebemos muitas fábricas de multinacionais como Toyota, Honda, Sony, Toshiba, Hitachi, Komatsu, Denso, Aisin, Pilot, Pentel, Bridgestone, Ajinomoto, Nissin, Fujifilm, NSK, Makita, NGK, Murata, Yakult etc. Some-se a isto o fato do Brasil ter o maior número de nipônicos e seus descendentes fora do Japão, mas, nem por isso, encontramos grande quantidade de pessoas fluentes em “nihongo”.
Não devemos esquecer que 56% dos nossos eleitores não têm sequer nível fundamental completo. Como é cediço, a educação no Brasil é, ainda, muito precária. Aliás, muitos brasileiros nem sabem cantar corretamente o hino nacional. Infelizmente, há nacionais que acreditam que o nosso idioma é o brasileiro…
Se, costumeiramente, o nosso povo comete verdadeiros “estupros” ao português, chega a ser burlesco acreditar numa corrida maluca aos cursos de mandarim.
Os idiomas japonês e mandarim são extremamente complexos e utilizam caracteres, ideogramas em suas escritas. Assim, penso que o inglês ainda prevalecerá no mundo dos negócios.
Diga-se de passagem, que conheço dezenas de brasileiros que trabalham para empresas japonesas instaladas em São Paulo e no pólo industrial de Manaus, que não falam japonês. No máximo, eles dizem samurai, gueixa, caratê, sushi, sashimi, saquê, wasabi, arigatô, sumô, sensei etc.
Nossa economia já é sétima maior do mundo, podendo subir mais alguns degraus. Chineses, norte-americanos, japoneses, alemães, britânicos, franceses, suíços, suecos etc. farão cursos de português?
Sem ofensas, mas o comentarista Tiago é, por acaso, sino-brasileiro?
Juan Vásquez Sundfeld
Casado e pai de duas advogadas
Engenheiro aposentado
FÃ do doutor Paulo Yokota
Em 21/05/2011
Caro Juan Vásquez Sundfeld,
Obrigado pelos comentários. Realmente, o uso do inglês está generalizado atualmente, mas é preciso considerar que antes da Segunda Guerra Mundial era o francês o idioma utilizado na diplomacia e em muitas relações internacionais. O mandarim, como o japonês é muito complexo por utilizar ideogramas, que tem a vantagem de deixar claro o seu significado pelas partes que os compõem, bem como o português pouco utilizado em todo o mundo. Temos que considerar, no entanto, que o mandarim já é utilizado por cerca de 20% da população mundial. Não sou especialista no assunto, mas tenho a impressão que a situação do inglês é irreversível, mas que todos no mundo tenderão a dominar, no mínimo, três idiomas, como já acontece na Europa e em muitas partes do mundo.
Paulo Yokota
Ao se referir ao Japão, o leitor Tiago usou o termo decadência. Gostaria de que o meu Brasil também estivesse em decadência, como a Terra do Sol Nascente, com um PIB de cerca de cinco trilhões e meio de dólares e mais de trinta e duas mil patentes registradas no ano passado (dados da World Intellectual Property Organization). Ademais, no Índice Global da Paz, o Japão ocupa a 5ª posição e o Brasil, apenas a 83ª. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Japão é, também, muito alto: 0,884, em 2010. Estrada destruída por terremoto de 9.0, na escala Richter, reconstruída em somente seis dias. O primeiro-ministro Naoto Kan abre mão dos seus salários, enquanto a crise nuclear não estiver resolvida. Políticos japoneses reduzem os seus vencimentos em função das catástrofes. No Japão, oferecer gorjeta é considerado uma indelicadeza. Filas respeitadas, ruas limpas, pontualidade, educação etc. etc. etc. Honda Civic, Sony Vaio, Kawasaki Ninja, Nintendo Wii, Toyota Prius etc. etc. etc. Deve ser difícil viver naquele arquipélago decadente… Abraços.
Caro Orozimbo Benevides,
Obrigado pelos comentários. Muitos países passam por fases de desenvolvimento até chegar a um pico, e depois pode começar um processo de avanço mais lento. Existem muitas coisas elogiáveis no Japão, mas recentemente, estão avançando mais lentamente que outros asiáticos como a China, a Índia e outros países menores como a Coreia, o Vietnã, Cingapura etc. Os recentes desafios podem ajudar a retomar o seu processo de superar as dificuldades, necessitando de uma liderança política e empresarial como os que os sustentaram no pós-guerra. Há uma crescente integração com os demais asiáticos, como estarei postando em outro artigo logo que possível.
Paulo Yokota
Recentemente, o Sr. Terry Gou, presidente da Foxconn, disse o seguinte sobre os brasileiros: “Assim que escutam a palavra ‘futebol’, eles param de trabalhar. E tem ainda as danças. É loucura”.
Alguns executivos chineses deveriam, outrossim, aprender um pouco mais sobre a nossa cultura e país. Em sua grande maioria, os cidadãos brasileiros são trabalhadores e honestos.
Apesar de ricaço, Terry Gou merecia ganhar um curso gratuito de português. Posteriormente, este ignaro deveria visitar o Brasil e conversar, conhecer a nossa humilde gente.
Caro Lucas Capez,
Obrigado pelos comentários. O Sr. Terry Gou é de Taiwan que ainda mantém uma relativa independência da China, mas muitos dos seus investimentos estão no continente. Consta que sua empresa apresenta problemas, mas ele trabalha e produz para os grandes fornecedores mundiais de produtos eletrônicos, contando com uma grande capacidade de produção e pesquisa própria. Ele já esteve no Brasil e pode estar certo que conhece muito sobre o Brasil, mais que conhecemos sobre os chineses. Já tem uma empresa no Brasil e expressou ao governo do Estado de São Paulo e ao federal que pretende ampliar substancialmente sua produção por aquí, se contar com as condições competitivas com outros países emergentes. Parece que a tendência das autoridaes estaduais e federais é no sentido de concluir com este empresário que é considerado bem agressivo. Não acho que os brasileiros gostarem de futebol e samba seja um demérito. Muitos no mundo estão procurando aqueles que trabalham duro e também sabem viver de forma saudável, com muita alegria.
Paulo Yokota
A língua japonesa não se tornou muito falada por que o Japão é um país peninsular, fechado e centrado no seu próprio limite geográfico e mesmo nos anos dourados, em importância econômica ficou sempre em 2° lugar, atrais dos EUA.
Mais a China é o maior importador, exportador e se tornará a maior economia do mundo daqui a uns 5-7 anos, segundo a previsão do FMI. Tem a maior população do mundo, 1,3 bilhões de pessoas, que está em vários lugares do mundo. As Chinatown nas metrópoles globais evidenciam isto.
Quando falei em decadência, foi no contexto da região do leste e sudeste asiático. Nem vou comparar um país latino de republica das bananas naturalmente inferior aos citados. Ética confucionista é superior à ética tropicalista.
Caro Tiago,
Mesmo respeitando suas considerações, tenho algumas dificuldades. Repito que acho o chinês muito complexo para ser utilizado por um número muito grande de pessoas em todo o mundo. Quanto a ética, tenho muita dificuldade em considerar uma superior a outra, mesmo vendo aspectos interessantes em todas elas. Depois de muito tempo, o mundo está admitindo que existem muitos méritos a serem considerados no tropicalismo, pois os seres humanos também têm a necessidade de usufruir da alegria de viver.
Paulo Yokota
Este debate ficou interessante.
Na mídia francesa deste fim de semana corre história – em tom jocoso, bem entendido – sobre sucessão no FMI pós triste escândalo Strauss-Kahn: o nome de consenso geral entre americanos, comunidade européia e o “resto do mundo” seria o da francesa Christine Lagarde. Porque:
1. mulheres de liderança nunca foram acusadas de assédio sexual;
2. mulher prática, ela não costuma recorrer a camareiras; ela mesma faz a faxina do quarto;
3. ela é competentíssima;
4. ela entende e fala inglês fluente.
Resumindo: apesar de o francês ainda ser a língua da diplomacia e política em toda a Europa,o “resto do mundo” e os americanos se comunicam melhor com os europeus, em inglês.
Cá entre nós, ufanismos à parte: a língua que hoje mais se aproxima do inglês em termos de evolução modernista, versatilidade e flexibilidade democrática, é a nossa língua portuguesa-brasileira.
V.não acha, Paulo, que se num futuro próximo-longínquo o inglês se tornar decadente como língua universal, o portugues-brasileiro terá muito mais chance de substituí-lo do que qualquer outra língua hermética, complexa, não-evolutiva, de raízes não indo européia?
Cara Naomi,
Agradeço pelos comentários. Tenho a impressão que o inglês acabou se impondo pelo longo período da importância do Impérito Britânico e depois da Segunda Guerra pela presença norte-americana no mundo, ao que se soma a relativa simplicidade da lingua inglesa no seu uso comercial. Tenho a impressão, inclusive pelos depoimentos de especialistas, que o português é considerado como bastante complexo.
Paulo Yokota
Por acaso, acabei descobrindo este fascinante “Ásia Comentada”, que é organizado, com maestria, pelo economista Paulo Yokota. Este culto senhor pode ser chamado, seguramente, de “a enciclopédia do Japão”. Aliás, este descendente de japoneses debate com os seus leitores, com raro garbo e singular polidez.
Recentemente, li a obra da socióloga Célia Sakurai denominada “Os Japoneses” e me encantei pela grandiosa cultura nipônica. Reputo que o labor realizado pelo professor Yokota é um complemento ao livro da senhora Sakurai.
Por aqui, há o hábito de se dizer que o melhor do Brasil é o brasileiro. Incontestavelmente, tal assertiva pode ser aplicada ao povo do “Nippon”, razão pela qual acredito na célere reconstrução deste país, após o sismo seguido de maremoto.
Sou um septuagenário italiano que constituiu família no Brasil. Por conseguinte, aprendi a apreciar esta terra que tão bem me acolheu. Decerto, vislumbro qualidades e defeitos, mas nenhuma nação é perfeita.
Mas as palavras preconceituosas do menino Tiago trouxeram melancolia ao meu coração. Gostaria de que este jovem se identificasse com o seu sobrenome, pois tenho a mesma desconfiança do engenheiro J. V. Sundfeld. Trata-se de corolário natural da interpretação das manifestações do referido moço.
Antes de se preocupar em aprender o mandarim, Tiago, se for brasileiro, deveria esmerar-se em conhecer o idioma português. Redigir “atrais” dos EUA é um erro imperdoável.
Giancarlo Rettondini
Prezado Giancarlo Rettondini,
Muito obrigado pelos comentários. Acredito que em todos os povos existem muitos méritos e alguns defeitos. As limitações acabam determinando uma aglutinação da população para a sua superação, havendo momentos de grandes prosperidade como de dificuldades. No caso da Itália, e mesmo antes dos romanos, os etruscos deixaram marcos de sua cultura, como nas relíquias cerâmicas encontradas em todo o Mediterraneo. Os romanos levaram a sua cultura por toda a Europa e até o Oriente Médio. Acredito que os japoneses estavam um tanto acomodados pelo nível de renda per capita que alcançaram, mas agora estão diante de novos desafios. Os chineses já tiveram fases de grandes contribuições para a humanidade como os transmitidos por Marco Polo e outros mercadores venetos, e depois da Revolução Industrial passaram por um período de pouco dinamismo. Agora voltam a contar com um desenvolvimento que assombra o Ocidente. As recentes reuniões dos líderes chineses, coreanos e japoneses mostram a determinação na reconstrução do Japão e consolidação de um importante bloco no Extremo Oriente, que pode ajudar o resto do mundo. Precisamos manter as mentes abertas, sem preconceitos, pois temos muito a aprender no intercâmbio da Ásia com o Ocidente.
Paulo Yokota
Ainda não entendo nada de mandarim, mais vou me informar melhor.
Cara Maristela,
Acho que vale a pena.
Paulo Yokota