Índia Tentando Superar a China
15 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: problemas sociais e inflacionários, situação do Brasil, tendências da Índia superar a China
O jornalista James Lamont, do Financial Times, teve o seu artigo reproduzido na Folha de S.Paulo referindo-se às projeções feitas por alguns analistas sobre a possibilidade da economia da Índia superar a da China nos próximos anos. Informa que os problemas sociais e de corrupção que se multiplicam naquele país podem comprometer as condições proporcionadas pela sua estrutura demográfica, que conta relativamente com mais jovens que os chineses que já enfrentam os encargos de sustentar um grande percentual de idosos.
Ele aponta que os indianos nem sonhavam com crescimentos a ritmos elevados quando se libertaram do domínio dos ingleses, mas nas últimas décadas uma elite, que atualmente é liderada pelo premiê Manmohan Singh, formulou muitos dos seus planos quinquenais que veio acelerando o seu crescimento. E o atualmente em discussão, o décimo segundo, para o período 2012 a 2017, que deve perseguir um crescimento próximo de 10% ao ano. O prêmio Nobel de economia Amartya Sen, amigo pessoal do atual premiê propõe que não se concentrem em superar a China, mas preocupar-se também com os problemas de corrupção e com o surgimento das atuais pressões inflacionárias.
Deve-se ponderar, no entanto, que estes problemas de corrupção existem em todos os países, acabando por serem mais destacados nos países de crescimento mais elevado, inclusive na China. O assunto deve ser atacado por um maior controle da população sobre os seus representantes, tratando-se de um problema político e a Índia conta com uma tradição democrática capaz de estabelecer estes mecanismos.
Os atuais problemas inflacionários são internacionais, não se restringindo somente à Índia, ainda que seja um problema sempre preocupante, mas muitos entendem que não é resolvido pela redução do ritmo do crescimento, mas pelo ajustamento da oferta à evolução da demanda, que sua classe dirigente é capaz de promover.
Sobre estes problemas, verifica-se que o Brasil conta com recursos para melhorar a sua oferta, tanto de alimentos como matérias-primas indispensáveis para o crescimento econômico, podendo almejar um crescimento mais acentuado. No entanto, não conta com uma dimensão demográfica suficiente para se emparelhar com a Índia e a China. Do ponto de vista político, uma discussão mais profunda do assunto pode chegar a um sistema que permita o que se chama “accountability”, ou seja, um mecanismo para um controle mais rígido dos representantes pelos representados.
Tudo indica que a discussão não deve se restringir à posição que estas economias venham a ter no cenário internacional, mas o máximo de crescimento que proporcione o melhor nível de bem-estar para suas populações. Neste sentido, o Brasil é um dos que melhor conseguiu equacionar o problema da distribuição de renda, conciliando um crescimento razoável com uma sensível melhoria de suas populações menos favorecidas, que é um grande desafio para as economias emergentes.