Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Interdependência do Brasil com a China

26 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: artigo do Valor Econômico, exportações brasileiras para a China, redução do crescimento chinês

Um artigo da Marta Watanabe acaba de ser publicado no Valor Econômico chamando a atenção sobre o aumento da dependência do Brasil com relação à China. Aquela economia comprou mais de 29% das exportações brasileiras de produtos básicos no primeiro quadrimestre deste ano, mais 26% do que no ano passado. O artigo mostra que esta tendência de aumento vem se verificando ao longo dos últimos 10 anos, e que a China importa cerca de 50% do minério exportado pelo Brasil, mais de 60% da soja e cerca de 25% do petróleo.

Não há dúvida que a China necessita destas matérias-primas e vê o Brasil como um fornecedor organizado e confiável, estando disposto a aumentar seus investimentos para continuar contando com um suprimento confiável. No entanto, para nenhuma economia parece interessante exagerar na sua dependência de um só mercado, principalmente quando há possibilidade concreta de que ela terá que reduzir o seu ritmo de desenvolvimento, mesmo se mantendo num patamar elevado.

Bandeira do Brasilbandeira_china

Todos sabem que a China vem se destacando como a economia mais dinâmica nos últimos anos, tendo uma perspectiva concreta de ultrapassar os Estados Unidos nos próximos anos. Em muitos aspectos, ela já não é uma economia emergente, por contar com uma população gigantesca e ter uma renda per capita ainda baixa. Mas a sua capacidade de produção de bens sofisticados, o desenvolvimento do seu sistema de aperfeiçoamento dos recursos humanos e geração de novas tecnologias já a permite competir com economias desenvolvidas.

Continuará tendo fome de matérias-primas que procura assegurar em todas as partes do mundo, e quando conta com uma economia estruturada como a brasileira, confiável pela sua estabilidade política, certamente tem a intenção de intensificar o seu intercâmbio. Mas ninguém duvide que ela coloca os seus interesses acima de tudo, não estando em condições de manter as necessidades globais como algo importante, inclusive na preservação do meio ambiente.

O emprego de sua população é considerado a sua grande prioridade, ainda que a custa dos seus parceiros. Ao Brasil, resta cuidar da mesma forma de seus interesses, ainda que os chineses continuem sendo bons compradores.

De outro lado, os chineses são concorrentes dos brasileiros em uma série de produtos voltados ao comércio internacional, e além de contarem com salários ainda baixos, utilizam mecanismo que nem sempre são considerados de mercado. Existem intercâmbios tecnológicos que interessam a ambos os países, mas a exagerada dependência com a China sempre apresenta riscos incalculáveis.

Os chineses utilizam os mecanismos dos organismos internacionais quando interessam a eles, e desrespeitam quando afetam os mesmos. Como ela se inserirá no contexto internacional, ainda pode deixar muitas dúvidas, mesmo que não necessite ser objeto de preconceitos. Os brasileiros precisam se preparar, e muito, para terem negociações de interesse para ambas às partes.