Observando os Chineses de uma Forma Singular
6 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Depoimentos, Editoriais | Tags: observações de Deborah Fallows, outros ângulos, publicado no The Atlantic
Um interessante artigo foi publicado pela linguista e autora do livro “Dreaming in Chinese” (tradução livre, Sonhando em Chinês), Deborah Fallows, na revista The Atlantic, de grande prestígio nos Estados Unidos, sobre o comportamento dos chineses. Nas viagens pelo sistema de metrô de Beijing e Xangai, ela observou como eles aprendem a se manter em fila, usando os cotovelos, algumas vezes com ocidentais sentados ao lado de imigrantes rurais.
Como seu marido mora na China, ela estima que tomou 1.000 vezes os metrôs de Xangai e Beijing, utilizando cerca de 500 horas, passando por uma instrutiva experiência social, ouvindo os anúncios feitos tediosamente em mandarim e em inglês a cada estação, o que lhe serviu como lições da língua local. Um trabalhador rural, carregando um enorme saco plástico de grãos (possivelmente levando todo o seu patrimônio) nas costas, empurrava o estômago do seu marido numa ocasião.
Estação de metrô na capital chinesa. Foto: China Daily
O sistema de metrô de Beijing começou a ser implantado lentamente em 1971, com duas linhas, duas mais no começo deste século, quatro mais até as Olimpíadas, e outras seis adicionais até agora. Isto não conseguiu descongestionar o tráfego local de cerca de 5 milhões de carros, que vai aumentando 20.000 veículos todo mês em 2011. Ela e o marido contam hoje com uma estação de metrô da linha 10 ao lado do edifício onde moram. A linha corta a capital de leste para oeste, cruza com a linha número 1 que passa pelos hotéis ocidentais e pela Praça Tiananmen, ruas de compras, distrito financeiro, museus, teatro de óperas e outros marcos da cidade. Do outro lado, a linha 10 vai para o distrito comercial, estádios, setores diplomáticos, aeroporto e o distrito universitário, com muitos passageiros estudantes, estrangeiros e trabalhadores de classe média com suas pastas.
Antecedendo as Olimpíadas, houve um treinamento dos chineses para que permanecessem em ordenadas filas, para impressionar os visitantes estrangeiros. Antes, havia uma corrida desordenada dos passageiros. Na outra linha mais velha, a de número 2, a confusão anterior continua, sendo a favorita dos trabalhadores imigrantes, pois efetua a ligação com os ônibus de grandes distâncias e o sistema de trens.
Na estação onde ocorre a troca de trem é que ela e seu marido foram espremidos pela massa de passageiros, inclusive por um imigrante com o gigantesco saco de seus pertences apertando o estômago dele. A lembrança deste fato fica na sua memória como um momento da verdadeira China.
Também passei por experiências semelhantes em Beijing em 1985, quando resolvi viajar até Xian, a antiga capital da China, onde foram encontrados os famosos exércitos de terracotas. Na estação de trem, com a minha família composta pela minha esposa e três filhos adolescentes, vimos uma horda de passageiros que se dirigia ao trem onde tínhamos uma cabine reservada para quatro pessoas e eu fiquei em outra com três chineses, com quem não conseguia me comunicar. Nesta estação ferroviária era esta rotina que se repetia constantemente, diversas vezes ao dia.
Tudo acabou correndo bem por uma viagem de 2.000 quilômetros, com as bagagens chegando às estações programadas, até chegar aos hotéis que estavam reservados, no período quando turistas estrangeiros ainda eram raros na China. Posso afirmar que foi uma grande experiência para conhecer uma pequena parte da China real que continuou a melhorar até atingir um estágio de país desenvolvido em algumas regiões, como foi demonstrado na Expo Xangai 2010.
Quanto aos chineses carregando enormes sacolas, isto se observava até com os passageiros de aviões dos vôos internacionais, pois eles também moram em Taiwan, Hong Kong, Cingapura e outras grandes cidades, e costumam transportar enormes volumes de bagagens, possivelmente aproveitando para fazer um bom comércio.