Trem Bala no Brasil
6 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: consórcio de empreiteiras, estatal para cuidar do projeto, notícias no Valor Econômico | 2 Comentários »
Em que pesem todas as dificuldades existentes, o jornal Valor Econômico noticia que as empreiteiras brasileiras Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão estão juntando seus esforços para a montagem de um consórcio para a construção do trem rápido que ligará Campinas, São Paulo ao Rio de Janeiro. Com o trabalho conjunto destas grandes empresas, restará pouco espaço para a formação de outros consórcios, que poderão se restringir às menores. Mas tudo indica que o governo brasileiro não se preocupa com a possibilidade da falta de outros concorrentes, restando aos fornecedores estrangeiros de tecnologias e materiais rodantes o adequado entendimento com este potencial consórcio brasileiro.
De outro lado, o governo brasileiro publicou no Diário Oficial a criação da estatal Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A. (Etav) que terá a função de planejar e promover o desenvolvimento do transporte ferroviário de alta velocidade de forma integrada com as demais modalidades de transportes. Com isto, fica resolvido o problema de qual empresa absorverá a tecnologia que deverá ser transferida do exterior. São dois passos decisivos para o projeto do trem bala no Brasil
Isto não significa ainda que o projeto já esteja decidido, pois existem pressões que estas grandes empresas brasileiras continuam fazendo sobre o governo, para reduzir os riscos do projeto, que não podem ser subestimados. Além de envolverem recursos substanciais, por se tratar de um empreendimento governo-setor privado, há que se proporcionar retornos para pagar os financiamentos e capitais investidos.
Além das tarifas que se pretendem as mais baixas possíveis, pode-se contar com os pontos de venda em que serão transformadas as estações que deverão se instalar ao longo da ferrovia, e seus arredores que devem sofrer uma valorização difícil de ser avaliada.
Os exemplos existentes no mundo mostram que a utilização mais eficiente dos imóveis relacionados aos projetos similares é importante para proporcionar receitas adicionais. Espera-se que a experiência acumulada na sua execução sirva também para outros projetos futuros, no Brasil ou no exterior.
Deve-se observar que muitos destes projetos no exterior ainda não atingiram a rentabilidade esperada, pois seus benefícios se estendem por outros setores ao longo da região atendida, que não é possível ser apropriada por uma empresa privada.
De qualquer forma, tudo indica que os estudos estão se afunilando e definições estão ocorrendo para que entendimentos entre o setor privado brasileiro e estrangeiro com as autoridades brasileiras possam se organizar de forma mais eficiente, dado o curto prazo existente. O suporte de governos estrangeiros também é decisivo em projetos desta envergadura.
A intenção é boa, mas num país que nem consegue planejar e principalmente manter a infraestrutura existente, como rodovias , portos e aeroportos, não seria excesso de pretensão do governo acrescentar mais um item?
Caro Robson,
Acredito que todos podem ter opiniões diferentes. Parece que o governo acredita que, além de resolver os problemas apontados, pode criar novos desafios. Talvez seja um sonho, mas acredito que devemos ter sonhos. Muitos não acreditavam que o governo anterior seria capaz de melhorar a distribuição de renda no país, nem sair da crise internacional com um dano pequeno. O processo de desenvolvimento parece ser uma constante superação de obstáculos, que acabam criando outras novas.
Paulo Yokota