Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Visões Diferentes Sobre os Problemas Econômicos Brasileiros

25 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: demora nos efeitos da política econômica, indicadores recentes e futuros, visões defasadas

São frequentes os depoimentos de responsáveis economistas sobre os problemas brasileiros utilizando dados defasados, que refletem quadros já superados de meses atrás. Parece que muitos dirigem seus veículos olhando o vidro retrovisor, sem prestar a devida importância para um horizonte que se vislumbra para o futuro. Mas quase todos admitem que as medidas de política econômica não têm efeitos imediatos, demandando um tempo que não é curto para provocar resultados, ainda que o mercado tenda a antecipar algumas coisas com as perspectivas que se foram sobre o futuro. O risco evidente destas análises é recomendarem excessos de medidas restritivas aprofundando, de forma necessária, uma desaceleração mais forte que vai exigir esforços hercúleos para ser superada.

O jornal Valor Econômico traz o resultado de um artigo de Adriana Mattos e Sergio Lamucci relatando um estudo feito pela consultoria Kantar Worldpanel que visitou 8,2 mil residências brasileiras nas últimas semanas, informando que no primeiro trimestre de 2011 a classe emergente já estaria contendo o seu consumo. Na classe A e B teria havido um crescimento modesto de 3% no consumo dos itens básicos sobre o mesmo período do ano anterior, e 4% nos considerados não básicos. Na classe C, os básicos estariam estáveis, e os não básicos estariam crescendo 13%, e nas classes D e E o consumo dos itens básicos teria decrescido 2% e os dos não básicos teriam aumentado 10%. As informações do setor de construção civil dão conta que neste começo do ano as vendas já estão bem mais difíceis. Muitas outras informações mais atualizadas, como as relacionadas com o emprego, dão conta que a economia brasileira já passou por um pico, estando em desaquecimento que vem se acentuando nas últimas semanas, inclusive por efeito da política econômica do governo federal.

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No entanto, alguns economistas continuam insistindo que medidas monetárias e fiscais mais duras devem ser tomadas, sem os quais o risco da volta da inflação seria elevado, mesmo com uma maior redução do crescimento econômico, o que beneficiaria o setor financeiro. Países como o Brasil, a China, a Índia e outros emergentes necessitam de um crescimento robusto para criar os empregos necessários para a sua população.

Todos admitem que parte da inflação que está ocorrendo em todo o mundo decorre do aumento dos preços dos alimentos no mercado internacional, bem como de algumas matérias-primas num cenário em que o mundo desenvolvido estava se recuperando, ao mesmo tempo em que os emergentes estavam com um crescimento acelerado. Hoje, o quadro se alterou radicalmente.

Os emergentes como a China, a Índia e até o Brasil já estão crescendo um pouco menos, ainda que a taxas elevadas. A recuperação dos Estados Unidos continua modesta e com problemas. A Europa e o Japão passam por dificuldades acentuadas, assim como o mundo árabe. Não existe mais um cenário de um crescimento mundial exuberante, fazendo com que os preços de muitas matérias-primas já estejam declinando.

A oferta de alimentos, em virtude dos preços estimuladores, está respondendo rapidamente, já com os seus preços tendo passado por um pico, mesmo mantendo ainda patamares elevados. O que se encontra com tendências de manter um patamar elevado são as energias, tanto com as dificuldades do mundo árabe como com as crescentes restrições ao uso da energia nuclear. As energias renováveis e não poluentes ainda são elevadas em custo, e as que utilizam petróleo ou carvão são poluentes, exigindo investimentos adicionais para reduzir seus efeitos deletérios sobre o meio ambiente.

Tudo indica que já se ultrapassou pelo ponto de máxima, havendo um decréscimo nas pressões inflacionárias, ainda que algumas indexações continuem a existir no Brasil.

O que se poderia recomendar é a elaboração de maior número de indicadores antecedentes, como os de produção de papelão e embalagens que dão uma indicação do clima existente entre os empresários. De forma similar, no passado elaboravam-se índices sobre as carteiras de algumas encomendas de produções que deveriam ocorrer nos próximos meses. Mesmo com o avanço das tecnologias de informática, parece que um grupo de economistas não querem que estes dados mais objetivos sejam elaborados, pois as incertezas também são matérias-primas preciosas para elevação das margens do setor financeiro.