Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Competitividade Internacional das Atividades Produtivas

16 de junho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: competitividade da indústria, da agricultura e da mineração, o câmbio determinado pelos influxos financeiros internacionais | 2 Comentários »

Os industriais brasileiros são os que mais reclamam de estarem sendo excluídos do mercado, pois não conseguem manter a sua competitividade, principalmente com os produtos chineses, mesmo sendo eficientes dentro de suas fábricas. O câmbio extremamente valorizado que vem sendo estabelecido pelo forte influxo de recursos externos, os juros mais altos do mundo praticados no Brasil, os pesados tributos locais e as limitações da infraestrutura brasileira não permitem a continuidade de suas atividades, passando a aumentar seus componentes importados ou mesmo produtos acabados. Mesmo as empresas produtoras de commodities agropecuários e minerais estão com suas competitividades cada vez mais comprometidas, fazendo com que o ritmo da exportação venha se reduzindo. As importações estão aumentando, e as contas externas conseguem ser mantidas pelos fortes influxos de recursos financeiros externos, influenciados pelas diferenças das taxas de juros internas e do mercado internacional.

Os analistas econômicos indicam que o câmbio brasileiro não apresenta tendências de mudança, os juros internos continuarão a se reduzir lentamente, as tributações apresentam dificuldades de reformas significativas e as melhorias na infraestrutura continuarão ocorrendo, mas incapazes de alterar o quadro de forma marcante. Estarão as atividades produtivas fadadas ao desaparecimento?

Grafico Comercio Exterior

As dimensões brasileiras não permitem que a economia brasileira viva dos serviços, ainda que eles venham crescendo e continuarão a se expandir. O Brasil necessita utilizar os seus recursos naturais para criar os empregos não só nas atividades agropecuárias como minerais, mas agregar valor nos seus produtos, criando empregos industriais, pois somente os serviços não são capazes de sustentar uma economia das dimensões da brasileira.

Será necessário criar mecanismos para o controle dos influxos de recursos externos, se possível por um entendimento internacional, mas se não, mesmo com medidas locais, alongando aos poucos o prazo de permanência dos mesmos, privilegiando os voltados à produção. Os juros locais não precisam mais se situa nos elevados patamares do passado, e suas reduções podem ser aceleradas. O mesmo deve acontecer na melhoria da infraestrutura.

Mas o conjunto das medidas necessita de um planejamento mais claro que mostre a todos os empresários quais os setores que serão considerados prioritários para o crescimento e criação dos empregos indispensáveis. Muitos países contam uma perspectiva de prazo mais longo, e o Brasil possui uma biodiversidade que precisa ser mais bem aproveitada. Mesmo não chegando ao nível da China, que não pode ser considerada uma economia de mercado, mas hoje as autoridades da maioria dos países estão mais presentes na economia que se convencionou chamar de indicativa.

As pesquisas, como os preparos da mão-de-obra especializada, necessitam ser direcionadas para os setores que possuem melhores condições de competição internacional, e as tributações destes setores precisam contar com reduções ou isenções, como ocorre até nos Estados Unidos nos segmentos de tecnologia de ponta. O ideal seria contar com uma política industrial, dentro dos limites possíveis dentro das regras da Organização Mundial de Comércio.

O Brasil continuará necessitando de recursos financeiros provenientes do exterior, mas a preservação de suas atividades produtivas deve contar com prioridade, pois não somos um simples entreposto comercial, mas uma economia emergente com as melhores condições para um crescimento significativo, que simplesmente pode ser mais bem normatizado, apesar das resistências que pode encontrar.


2 Comentários para “A Competitividade Internacional das Atividades Produtivas”

  1. Gervásio Frutuoso Goulart
    1  escreveu às 15:26 em 16 de junho de 2011:

    Prezado,
    A mídia nacional de um modo geral parou de divulgar notícias sobre o Japão. O colega tem informações sobre a reconstrução do país após o tsunami?
    Gervásio Frutuoso Goulart

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 21:59 em 16 de junho de 2011:

    Caro Gervásio Frutuoso Goulart,

    Obrigado por ter utilizado o nosso site. A situação no Japão continua a mesma, com a reconstrução em andamento, mas com dois problemas mais urgentes: de um lado, o político, pois a sustentação do governo Kaoto Kan está cada vez mais difícil, discutindo-se um acordo amplo depois de sua queda, que deverá ocorrer, no máximo no próximo mês de julho; de outro lado, os problemas da usina nuclear de Fukushima Daiichi, em suas diversas unidades, continuam as mesmas, e os avanços para o seu controle contiinuam lentas e complexas.
    A adaptação das empresas continuam satisfatórias, com algumas limitações menores. A redução do fornecimento, mas também do consumo de energia continuam aos níveis necessários, com a adoção do chamado “cool biz”, bem como mudanças de alguns turnos de trabalho para fora do pico, em algumas indústrias, e a colaboração de toda a população. Mas o calor mais intenso do verão deverá ocorrer em fins de julho e durante o mês de agosto, no Japão.
    O financiamento do público para o déficit governamental foi ligeiramente abaixo da meta estabelecida, mas não se esperam maiores dificuldades. Os trabalhos voluntários continuam, e existem centenas de ofertas de aposentados (com mais de 60 anos) para trabalharem nas condições de exposição da radiação, que está afetando alguns mais jovens. Os estudos dos efeitos de radiação, inclusive com os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nakasaki indicam que, quando existe uma pre-disposição à ocorrer, o cancer se manifesta em algumas pessoas depois de 10 anos. Os idosos se ofereram ao governo, mas de 200 voluntários, mas a resposta é que somente alguns mais capazes, engenheiros e especialistas, serão aproveitados, pois eles entendem que os riscos dos mais idosos é mais baixo, estando com expectativa de vida mais curta que os jovens, e não possuem mais responsabilidades com seus filhos.
    Tudo que está sendo feito impressiona a todos, pelo espírito público da população japonesa, que está aceitando o desafio com galhardia.
    Os dirigentes da NEPCO, a estatal que cuida da usina, estão sendo criticados, bem como o governo que vem sendo considerado inepto, havendo até acusações de interesses escusos relacionados com os interesses desta empresa. Os volumes das indenizações a que a NEPCO está sujeita exigem subsídios do governo.
    Como V. deve estar acompanhando, o efeito internacioal desta crise japonesa, está aumentando a resistência mundial para a ampliação desta fonte de energia, mas que deverá continuar ocorrendo em alguns países, mas esforços vem sendo feito para a alteração da matrix energetica, mesmo com custos mais altos.
    Paulo Yokota