As Feiras Livres Em Todo o Mundo
22 de junho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: feiras livres, na China, na Europa, no Brasil | 4 Comentários »
A saudosa professora Alice P.Canabrava ensinava na FEA-USP, no seu curso de história econômica, que a Europa medieval tinha desaparecida a partir do surgimento das feiras em algumas cidades atraindo comerciantes de outras localidades. Na China, desde o surgimento da Rota da Seda, formavam-se feiras em algumas cidades ao seu longo, e mais recentemente, mesmo quando o regime era ainda comunista e chefiada pelo Mao, os agricultores entregavam metade de sua produção para o Estado e comercializavam a outra metade em feiras locais, enriquecendo-se mais que os que viviam nas cidades. Tive a oportunidade de constatar pessoalmente esta abertura em 1985, já com a forte reforma promovida por Deng Xiaping.
Até hoje, em cidades como Paris ou Roma, existem feira livres, onde os pequenos produtores rurais comercializam de tudo da sua produção no meio rural. Queijos, pães, verduras e hortaliças, embutidos, frutas, ovos, tudo da melhor qualidade, apreciada pelos compradores, mais que nos supermercados, por serem mais frescos e rústicos. Em Aix, em Provence, onde me encontro hoje, existe uma feira diária numa das praças próximas à Prefeitura, que sempre é interessante visitar. No Brasil e em São Paulo, elas estão se reduzindo, vendendo produtos que adquirem no Ceagesp, no atacado.
Produtos em uma feira livre em Paris: qualidade indiscutível
Foi nas feiras que o mercado começou a funcionar, com a oferta e a procura se encontrando e estabelecendo os preços. Descobriu-se que era um mecanismo eficiente e democrático, que permitia estabelecer um bom entendimento entre as duas partes, sem a interveniência sempre distorcida das autoridades. O mercado fica tanto com a oferta como a procura pulverizada, sem a possibilidade de monopólios ou monopsônios (onde existem poucos compradores).
O estabelecimento de grandes redes de supermercados acaba controlando o mercado, prejudicando os produtores como os consumidores. Hoje, em qualquer parte do mundo, os fornecedores destas redes recebem cerca de 20 a 30% do preço final, e os compradores são explorados por propagandas enganosas. A escolha do consumidor fica distorcida, introduzindo imperfeições neste mercado.
Estas feiras devem ser estimuladas, com aperfeiçoamentos das barracas, como se encontra na Bélgica, onde os veículos dos fornecedores abrem suas portas, mantendo a qualidade dos produtos comercializados, controlando-se o nível de sua refrigeração.
A única forma de combinação da eficiência econômica com o sistema democrático é por intermédio deste mercado, onde as feiras continuam sendo importantes, tanto no Ocidente como no Oriente.
Olá, estou fazendo um artigo sobre desperdício de alimento na feira livre; desperdício de energia nas feira livres da Europa. Existe o mesmo desperdício de alimentos que existe no Brasil? Grata
Cara Regina Helena,
Sempre existe um pouco de desperdício, pois em qualquer lugar no mundo, os produtos hortifrutigranjeiros não são perfeitos. Mas, com as modernas técnicas de produção agrícola eles estão se reduzindo. Na Europa, no geral, os produtos que vem as feiras livres já vem preparados para uso imediato, com uma triagem feita ao nível dos sítios. Utilizam-se muitos veículos apropriados com a devida refrigeração para que os produtos não se estraguem. No Japão, muitas partes dos alimentos, como as folhas e os cabos de legumes também são aproveitados para a produção de conservas. Também no Brasil muitos produtos já vem preparados das zonas de produção, em embalagens adequadas, para serem vendidos diretamente nos supermercados. O segredo parece o aproveitamento de muitos produtos que não são perfeitos para serem apresentados nas mesas, para produção de alimentos preparados, economizando também energia, não havendo a necessidade de tanta refrigeração como nos pontos de venda do Brasil, que consomem grande quantidade de energia, que precisa ser conservada para manter a sustentabilidade.
Paulo Yokota
É admirável encontrar um economista da estatura do Dr. Paulo Yokota dedicar um artigo a um assunto tão singelo como as feiras livres.
Essas pequenas demonstrações de humanismo iluminam mais ainda sua brilhante biografia.
Caro Luiz Antônio de Andrade,
Muito obrigado pelo seu comentário.
Paulo Yokota