A Difícil Arte da Política Econômica
15 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: coluna da Claudia Safatle, economistas do mercado, posição da FVG, Valor Econômico
Sempre que se aproxima a reunião do Copom do Banco Central do Brasil, que decide o valor do juro básico da economia brasileira representado pela Selic, os economistas locais manifestam suas opiniões que são refletidas pela imprensa especializada, onde o Valor Econômico se destaca. A FGV – Fundação Getúlio Vargas, numa entrevista de Régis Bonelli, expressa a opinião que a economia brasileira ainda está aquecida, o que leva a posição de continuidade do endurecimento na política monetária. Numa pesquisa feita pelo jornal com 35 economistas, 25 esperam que a Selic vá além de julho, prevendo uma alta até o final do ano, muitos expressando as preocupações com a inflação de 2012.
Apesar dos economistas formados nas gerações anteriores se preocuparem mais com a “política econômica” como uma arte, e não como uma ciência exata que mecanicamente permite antecipar o que vai acontecer com a inflação como parece predominar entre os mais jovens, que sempre estão baseados em dados do passado, há dificuldades para que transmitir que existem muitos outros fatores que costumam ser subestimados, principalmente com os relacionados com o sistema financeiro, que sempre tendem a elevar os juros como medida restritiva para combate à inflação.
Os dados estão mostrando uma preocupante deterioração do quadro mundial, com países europeus, como a Itália, tendo que adotar uma política fiscal muito austera. Barack Obama luta com o Congresso para elevar o seu nível de endividamento, para evitar um impensável default norte-americano, ou seja, incapacidade de pagar os seus compromissos nos próximos meses. Além dos outros problemas como o da Grécia, da Espanha, de Portugal e da Irlanda.
Muitos argumentam que os países emergentes, como a China, a Índia e mesmo o Brasil, continuam com ritmos de crescimentos elevados. Mas é impossível concluírem que eles não serão afetados pelas dificuldades por que passam os Estados Unidos, a Europa e o Japão, para citar os mais influentes mundialmente. É evidente que o crescimento dos emergentes já está sendo substancialmente reduzido, dos altos patamares em que se encontravam. A inflação mundial, com o tempo, tenderá a diminuir com este desaquecimento, como já vem ocorrendo em alguns preços.
A inflação brasileira deve-se em parte à indexação ainda restante na economia brasileira, que se baseia sempre nos dados do passado. Se aluguéis, energia elétrica, serviços de comunicação, e outros serviços públicos ainda continuam subindo, deve-se a estas indexações que os criadores do Plano Real ainda não conseguiram eliminar. E eles acabam induzindo expectativas inflacionárias que são aproveitadas pelos que desejam reajustar os seus preços. Derrubar estas tendências com elevações de juros implica em custos muito elevados para a sociedade, existindo formas alternativas, como as que foram obtidos por Lula da Silva utilizando o seu carisma. Ninguém deseja a volta da inflação, muito menos a presidente Dilma Rousseff que vem declarando publicamente que o seu combate é prioritário.
A economia brasileira já reduziu substancialmente o seu ritmo de crescimento, e os preços dos produtos agrícolas já se acomodaram, ainda que mantenham um patamar elevado, contribuindo para o crescimento da economia. Inflação é crescimento constante dos preços, não a manutenção do seu patamar em níveis elevados.
Esforços sérios estão sendo feitos do ponto de vista fiscal para que o financiamento da dívida pública não exija juros mais elevados, que aumentariam as condições para influxos adicionais de recursos financeiros externos, valorizando o câmbio, cortando as exportações e aumentando as importações, com consequências danosas sobre o emprego.
Portanto, um pouco mais de arte e menos de soluções mecânicas.