Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Desafios e Caminhos da Amazônia

28 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: a logística indispensável, prioridades da CNI, publicação a ser examinada com cuidado, suplemento do Valor Econômico

Mesmo que a Amazônia venha sendo objeto de interesses por séculos, inclusive internacionais, o fato concreto é que ainda se conhece pouco sobre a sua realidade e as dificuldades existentes para o seu aproveitamento racional, respeitando o meio ambiente. O jornal Valor Econômico publica um suplemento especial que merece as mais profundas atenções, inclusive por que envolve um projeto inédito capitaneado pela CNI – Confederação Nacional da Indústria, denominado Norte Competitivo, elaborado pela consultoria Macrologística, selecionando 71 projetos.

Os mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, que representam mais de 60% do território brasileiro, servido basicamente pelas suas vias naturais que são os grandes rios navegáveis, necessitam ser complementados por infraestrutura que ainda é precária, e a pouca existente é mal conservada. As explorações de suas riquezas naturais, tanto minerais como de biodiversidades não são detalhadamente conhecidas, mesmo reconhecendo-se as suas potencialidades.

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Sempre poderá haver discussões sobre os projetos selecionados, que se concentram nos relacionados com a infraestrutura necessária para o escoamento das produções possíveis na Amazônia, inclusive na sua integração com aos vizinhos andinos, para escoamento para o Pacífico, sonho que está se concretizando aos poucos.

Ainda que estudos venham sendo efetuados, pouco se conhece de todas as potencialidades existentes. E já se sabe da existência de outras reservas minerais de grandes dimensões, além do complexo de Carajás, mas cuja exploração depende também das demandas do mercado internacional.

Aqueles que tiveram oportunidade de percorrer por partes substanciais desta grande Amazônia, que ultrapassa as fronteiras brasileiras, percebem que sempre se apresentam novas oportunidades. Quando o grupo Paranapanema descobriu as possibilidades das áreas próximas à atual Presidente Figueiredo, concentrado em cassiterita de alto teor, como outros minérios, acabou perturbando a Bolsa de Metais de Londres.

A exploração do complexo de Carajás permite só ela o abastecimento mundial da demanda de minério de ferro por séculos, e tal era a qualidade e a quantidade que justificou a construção da ferrovia Carajás-Itaqui para o seu escoamento pelo porto maranhense, com contratos de longo prazo firmados com as siderurgias japonesas, que foram descontados para o seu financiamento.

Muitos sonhos já foram encerrados no passado longínquo, como a ferrovia Madeira-Mamoré, Fordlândia para a produção e escoamento da borracha, que acabou marcando um ciclo. Outros como Jari acabaram se transformando radicalmente, continuando a possibilitar a produção de celulose em grande escala. Ainda existem projetos que podem se desenvolver como Albrás/Alnorte, tanto para a produção de alumina como de alumínio, dependendo da disponibilidade adicional de energia elétrica, pois a de bauxita é abundante.

A marca que diferencia a Amazônia das demais florestas do mundo é a sua grande biodiversidade, parcialmente conhecida deste os indígenas que os utilizam como seus medicamentos. As essências florestais como as espécies animais são absurdamente variadas, além dos microorganismos ainda pouco conhecidos. As pesquisas ainda são isoladas, apesar dos esforços efetuados por organizações como a INPA – Instituto de Pesquisa da Amazônia e algumas outras pequenas unidades acadêmicas.

É evidente que os satélites e outros recursos mais atuais aceleram alguns conhecimentos que precisam ser confirmados pelos estudos in loco. Quando da construção da Transamazônica, por exemplo, mesmo os levantamentos aerofotogramétricos e com o uso de radares como do Radambrasil, acabavam apresentando surpresas enormes dadas às exuberâncias da floresta. Os conhecimentos estavam limitados às margens dos grandes rios, quando os grandes espaços entre eles, normalmente de 500 quilômetros ainda eram de conhecimentos precários.

Tive o privilégio pessoal de trabalhar, por décadas, em várias partes desta Amazônia como especialista em planejamento regional, na faixa de fronteiras internacionais, bem como seis anos na presidência do Incra que implementou centenas de projetos na região. Participei parcialmente de projetos como a Transamazônica, Carajás, colonização de Rondônia, implantação da Perimetral Norte, da consolidação da Cuiabá-Porto Velho, da Cuiabá-Santarem, além de executar trabalhos fundiários em diversas áreas desde Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Maranhão como nos novos Estados de Mato Grosso do Norte e Tocantins percorrendo até os cafundós desta vasta região. E só posso afirmar que conheço muito pouco desta parte do Brasil, mas parece que adquiri a capacidade de ter uma ideia de suas potencialidades. O suficiente para recomendar estudos profundos desta publicação e outros trabalhos efetuados na região.