Dificuldades na Eliminação dos Preconceitos
25 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: caso de Harlem, outras situações, preconceitos arraigados | 2 Comentários »
Todas as grandes metrópoles do mundo passam por uma evolução no tempo, como ensinava um sábio professor de sociologia, Heraldo Barbuy, nos cursos da FEA-USP. Depois de um período de ascensão, surgia nos arredores das áreas mais dinâmicas uma periferia que se deteriorava, até um novo ciclo de melhoria. No caso de Nova Iorque, um artigo publicado no The New York Times, republicado no suplemento da Folha de S.Paulo, de autoria de Guy Trebay, informa que no bairro de Harlem um restaurante conquistou um grande prestígio, recebendo clientes VIPs que se mistura à população local, numa recuperação que vem se processando há décadas naquela região antes deteriorada.
Apesar da fama de perigo de Harlem, tive a oportunidade de visitar à noite um local onde um bom conjunto tocava jazz da melhor qualidade com um nissei brasileiro que tinha uma frota de veículos para entregas de encomendas em Nova Iorque. Ele conhecia muito bem a periferia da ilha de Manhattan, caminhando a pé ruas que, por preconceito, eram consideradas perigosas. Evidentemente a cozinha dos afro-americanos era pesada, mas a música ótima.
Harlem: recuperação das áreas deterioradas
Hoje, Harlem tende a se tornar uma nova Soho que também passou por estas fases, como muitas outras áreas de Nova Iorque ou grandes metrópoles onde o número de imigrantes de todo o mundo continua aumentando. Continuam havendo áreas que, por preconceito, são consideradas mais perigosas, mas, na medida em que são incursionadas pelos mais ousados, acaba se constatando que suas populações apresentam os mesmos problemas que são encontrados nas consideradas mais nobres.
Em muitas metrópoles acabam se formando áreas como as ChinaTown, onde predominam orientais, nem todos de origem chinesa. Ou aglomerados hindus, árabes ou de origem africana, havendo um exagero de preconceito com as suas populações. Há que se admitir que com a globalização esteja se acelerando também os fluxos de recursos humanos.
Mas alguns acabam ficando com a fama que não corresponde mais à atual realidade. Por exemplo, em São Paulo, o bairro da Liberdade continua sendo conhecido como “de japoneses” quando hoje os comerciantes chineses e outros orientais aumentaram muito, inclusive alterando o panorama dos que lá habitam totalmente diverso do período logo depois da Segunda Guerra Mundial.
Estas populações possuem uma grande tendência de acompanhar a evolução do mercado. Na Europa, onde a culinária japonesa, notadamente os sushis e sashimis, acabou substituindo os antigos chamados chineses. No entanto, ela está sendo preparadoa de forma precária pelos comerciantes chineses e coreanos, em grande número, pois o fluxo de imigrantes japoneses reverteu-se há décadas.
Tudo isto seria irrelevante se a qualidade fosse preservada, mesmo que aperfeiçoamentos venham se ocorrendo, ajustando-se aos paladares locais. Mas confesso que é extremamente estranho experimentar um sushi com tabasco como o que provei em Miami ou sashimis preparados por chineses em Paris ou Provance, ainda que estes profissionais se esforcem.
Acho que estes preconceitos ocorrem pela associação de imagens que fazemos ao deparar com algo. Se virmos um imigrante africano, lembramo-nos de muitos que vem pra cá trazendo drogas encapsuladas no corpo. O mais natural são os policias dos aeroportos vistoriarem logo eles por isto.
Se virmos à África nos lembramos da violência, ditadores sanguinários e miséria somada a AIDS, lugar atrasado sempre pedindo ajuda humanitária, dinheiro e entre outras. Tudo isto somado gera a imagem da África.
Caro Tiago,
Neste artigo que V. comentou não nos referimos aos preconceitos com relação aos africanos. Falamos de áreas deterioradas das grandes metrópoles, como a cracolância em São Paulo. Existe uma imagem distorcida sobre a África também, pois aquele continente conta com regiões desenvolvidas como a do Brasil. O problema parece a nossa tendência de generalizar conhecimentos isolados, que podem ser verdades em alguns situações específicas. No artigo comentamos sobre Harlem que está em recuperação surpreendente.
Paulo Yokota