Dois Artigos Importantes do Project Syndicate
29 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia | Tags: análises sobre a China e seus relacionamentos externos, artigo de Stephen S. Roach republicado no O Estado de S.Paulo, artigo de Yu Yongding republicado no Valor Econômico
Project Syndicate é uma espécie de ONG onde estudiosos importantes publicam seus artigos, que acabam sendo reproduzidos em importantes jornais de todo o mundo. Stephen S. Roach, da Universidade de Yale e do Morgan Stanley Asia, escreveu o artigo que O Estado de S.Paulo republica hoje sob o título “Leiam os lábios da China”. Yu Yongding é presidente da Sociedade Chinesa de Economia Mundial. Ele escreveu o artigo que Valor Econômico republica hoje com o título “A crescente inflação chinesa”. Ambos são de grande importância para entender a economia chinesa e mundial no momento atual.
Stephen S. Roach afirma que os chineses admiram os Estados Unidos, mas perderam a confiança no governo americano, o que ele percebeu visitando Pequim, Xangai, Chongqing e Hong Kong. Depois da crise do subprime, o atual debate sobre o limite da dívida levou as autoridades chinesas a ficarem estarrecidas com a incapacidade dos norte-americanos de formularem uma política para a estabilidade financeira.
Os chineses têm US$ 2 trilhões investidos em ativos baseados no dólar, e se sentiam seguros com esta moeda considerada reserva mundial. Mas estes tempos acabaram, e não veem mais sentido em manter esta política. Suas exportações continuam competitivas, mas depois da crise de 2008-2009 não veem como elas vão continuar ativas como no passado. Os riscos são demasiadamente elevados para mantê-los diante dos desarranjos políticos. Existe um ceticismo com relação às correções possíveis, e os chineses estão conscientes das suas dificuldades macroeconômicas para manter o seu crescimento dependente das exportações, voltando-se para o mercado interno.
Seu novo 12º Plano Quinquenal volta nesta direção, e sua moeda desvalorizada não faz mais sentido. A China deverá reduzir a compra de títulos norte-americanos e não acreditam mais nas promessas dos Estados Unidos. A China está dizendo “não”, e como os americanos vão se safar?
No artigo muito claro de Yu Yongding, reconhecendo as dificuldades dos Estados Unidos e da Europa, as economias emergentes enfrentam problemas inflacionários, que chegam a 6,4% em junho na China, onde os preços dos alimentos influenciam muito, entre eles a carne de porco. Ele acredita que os preços começarão a cair brevemente, numa análise semelhante ao das autoridades brasileiras.
Segundo ele, o crescimento chinês já começou a cair em função das medidas tomadas pelas autoridades monetárias, com sucessivas decisões para elevação dos juros e restrições à expansão monetária. Ainda que se mantenha num nível elevado, quando comparado com o resto do mundo. Ele acha que a demanda externa continuará baixa no segundo semestre de 2011.
Como no Brasil, ele pensa que a política monetária poderá começar a ser mais flexível. Entende que os problemas chineses são mais estruturais que cíclicos, e o crescimento da economia interna continuará ainda modesta nos próximos cinco anos. Mas, observando o comportamento dos últimos 30 anos, não acredita que tenham dificuldades para se safar, ainda que a oportunidade para os ajustes já tenha passado.
Com análises e informações de profundidade, estes dois artigos devem ser lidos por todos que se interessam sobre a economia mundial, de onde a brasileira pode aprender muito.