Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Pequenas Comparações da China dos Últimos 25 Anos

22 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: comparações de viagens feitas pela China em 1985 com as atuais, distorções das visões ocidentais, mudanças materiais

Tive a oportunidade fazer uma longa viagem particular pela China, país onde me preparava para instalar o escritório de uma trading brasileira em Beijing. Acompanhado de minha família, minha esposa e três filhos, percorremos cidades como a própria capital, Xangai, Xian, Luoyang e Hangzhou fugindo dos pacotes turísticos que já existiam. Recentemente, um grupo de jornalistas latino-americanos, inclusive Marli Olmos, do Valor Econômico foi convidado pelo governo da China para conhecer entre outros lugares Beijing, Xangai e Wuhan, pois os chineses continuam achando que os ocidentais conhecem pouco do verdadeiro País do Meio. O Valor Econômico publicou alguns artigos que foram elaborados com base nestas visitas, com extrema competência.

Da comparação das impressões destas viagens pode-se colher algumas observações importantes sobre o que mudou neste período de acelerado desenvolvimento da China, e o que permanece com as características que diferenciam este país que desperta, hoje, a curiosidade de todos dada à importância mundial que ela conquistou, ainda que de forma extremamente resumida.

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É evidente que a China de 1985 era muito diferente da atual, pois nestas últimas décadas houve naquele país um desenvolvimento que impressiona o mundo, com poucos paralelos na história da humanidade. Em 1976, terminava a Revolução Cultural e em 1979 Deng Xiaping iniciava as reformas que mudariam totalmente a China, mas ainda em 1985 poucos eram os investimentos estrangeiros naquele país.

Os japoneses estavam entre os primeiros que intensificaram o intercâmbio com a China transferindo suas tecnologias e estavam impressionados com a velocidade com que os chineses absorviam estes conhecimentos. Fazer uma visita de uma família isolada pelo interior da China parecia uma aventura, mas permitiu constatar que realmente o ocidente conhecia pouco daquele país, onde era possível viajar de forma segura.

O que se pode constatar em 1985 é que os chineses tinham um comportamento muito mais aberto do que os japoneses que eram reservados, tanto nos contatos pessoais como até nas discussões das atrocidades cometidas pela Revolução Cultural, inclusive com os turistas estrangeiros. Muitos guias competentes eram professores universitários, alguns falando português e espanhol, pois tinham sido educados em Macau. Outros dominavam o inglês com facilidade, dada a existência de Hong Kong.

Eles mostraram, sem constrangimento, a pobreza do país com muitos ocupando pequenas e apertadas residências em Xangai, e a presença de chineses do exterior, como de Taiwan, Cingapura ou na ocasião Hong Kong. Na recente viagem dos jornalistas, eles viram uma China que apresenta muitas cidades semelhantes às mais desenvolvidas da Europa, como relatado no artigo do caderno Eu & Fim de Semana no artigo esclarecedor da Marli Olmos. Ainda que em ambiente fechado, expuseram seus pontos de vista oficiais sobre o sistema de partido único, bem como as restrições dos direitos humanos, sem uma referência direta à prisão do ativista Liu Xiaobo, Prêmio Nobel da Paz.

A China, que contava com um mínimo de infraestrutura em 1985, hoje dispõe de boas estradas, trens rápidos, arranha-céus, bons aeroportos, os hotéis luxuosos comparáveis com os melhores do mundo. Suas lojas estão repletas de artigos das melhores grifes internacionais. Suas ruas estão ocupadas de carros, quando no passado estavam inundadas de bicicletas. Os pontos turísticos que já eram bons melhoraram muito para receber milhares de turistas para acolher estrangeiros e nacionais.

Se já era possível transitar pelas cidades chinesas livremente, hoje as restrições são mínimas, nada lembrando o período curto de comunismo. Eles continuam seguros que são o País do Meio, contam com milênios de história e cultura, não se envergonhando de informar que a primeira dança da famosa Ópera de Peking não é chinesa, mas hindu, nada tendo das óperas europeias.

Continuam alegando que contam com muitos pobres e necessitam continuar crescendo, para proporcionar melhores condições de vida para a sua imensa população. Realmente, os ocidentais precisam conhecer melhor esta fabulosa China que também tem os seus problemas e limitações, com grandes congestionamentos e uma elevada poluição. E onde a culinária continua fabulosa e muito diversificada.