Tentando Entender os Problemas do Etanol no Brasil
27 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, webtown | Tags: causas da diminuição da atual safra, falta de etanol em plena safra, outros problemas
Para o público em geral que vem acompanhando os noticiários relacionados à falta de etanol em plena safra no Brasil, é difícil entender o problema, diante das informações anteriores de pesados investimentos estrangeiros e da Petrobras neste segmento. Algumas informações podem ajudar a entender os problemas que estão ocorrendo, ainda que não sejam completas e possam ser consideradas insuficientes. Um primeiro aspecto é que houve uma queda da produção brasileira em função de fatores climáticos.
Muitos dos investimentos estrangeiros e até da Petrobras foram efetuados nas usinas que dependem do fornecimento da cana de açúcar que não cresceu como o esperado. Muitas razões influenciaram neste comportamento, sendo necessário destacar algumas consideradas mais relevantes. As autoridades brasileiras entenderam o etanol como um combustível, na mesma categoria dos derivados de petróleo, cujos preços vêm sendo controlados para evitar o agravamento dos problemas inflacionários. Os operadores privados tendem a se retrair quando isto acontece, pois seus retornos acabam dependendo das autoridades, e não do mercado ou de sua eficiência.
As usinas costumam contar com parte das produções próprias de cana, mas dependem também dos fornecimentos de terceiros. Os estrangeiros assim como a estatal brasileira não costumam ser eficientes nas produções agrícolas que dependem de uma série de fatores que exigem decisões rápidas, que normalmente sãor tomadas pelos agricultores. Portanto, os investimentos efetuados não refletem necessariamente no aumento da produção da cana.
O etanol é um produto que é produzido durante a safra, mas necessita ser armazenado para o uso durante todo o ano. Estas estocagens exigem recursos financeiros que têm um custo elevado no Brasil, e nem os produtores nem a Petrobras desejam se encarregar destas despesas, dependendo das decisões das autoridades, que sempre tendem a pensar nos efeitos inflacionários com prioridade. Muitos produtores desejam evitar estes riscos. A decisão de considerar o etanol como combustível e não uma commodity similar aos demais acabou sendo considerado por muitos analistas como um erro das autoridades.
As importações de etanol dos Estados Unidos que o produzem a partir do milho, com eficiência mais baixa, continua sendo fortemente subsidiado pelo governo daquele país, para se manterem competitivos com os produzidos a partir da cana de açúcar. Assim, a importação brasileira de etanol norte-americano pode acabar sendo mais econômica que a produção local, em algumas conjunturas.
As produções brasileiras, mesmo com as dificuldades dos custos das estocagens, vinham sendo suficientes para o abastecimento local, inclusive o seu aumento, mas acabaram sendo perturbadas recentemente. Muitas usinas podem optar entre a produção de açúcar e de etanol e, na medida em que os preços internacionais de açúcar ficaram elevados, houve muitas opções pela sua produção, com a redução do etanol.
A gasolina brasileira tem uma participação de etanol, que, dependendo do mercado, pode ser alterada pelas autoridades, reduzindo ou aumentando este percentual. Como resultado, muitas decisões acabam dependendo tanto das autoridades como dos mercados que estão interligados, tornando complexa administração de todo o conjunto.
Em condições normais, as produções de cana e do etanol devem continuar crescendo, na medida em que haja transparência nas políticas governamentais, para não aumentar o risco dos produtores privados. Há uma tendência para a redução dos subsídios norte-americanos sobre o etanol produzido a partir do milho, por razões orçamentárias. Também existe uma possibilidade que as taxas incidentes sobre o etanol importado do Brasil pelos norte-americanos tendam a ser eliminadas, ou mesmo reduzidas.
As produções de etanol de outros países também devem crescer. Tudo indica que não havendo perturbações provocadas pelo governo, este combustível menos poluente tem todas as condições para aumentar, abastecendo tanto o mercado interno como externo.