Considerações Sobre as Relações Bilaterais Nipo-Brasileiras
5 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: reflexões, reuniões do CNI – Nippon Keidanren, Salvador Bahia 9 e 10 de agosto
No mundo atual, cada vez mais globalizado o Japão vem passando por um ritmo de crescimento econômico modesto, abaixo do que já se obteve no passado, despertando surpresa de muitos. Isso, mesmo com o crescimento recente de seus vizinhos mais próximos e dos imensos recursos que o país acumulou no passado, conquistando o status de uma economia de alto nível de renda per capita. Muitos fatores provocam este comportamento, entre eles o relativo envelhecimento de suas instituições e população, bem como a consolidação de sua cultura dentro de um arquipélago. Afetado recentemente pelos desastres naturais, não vem obtendo na reconstrução uma motivação suficiente para mudanças nas suas tendências recentes, galvanizando a disposição de esforços de sua população. Sente-se que procura alternativas para recuperar o seu dinamismo.
Parece que o Japão persegue uma reestruturação significativa de sua economia, reconhecendo que algumas das suas atividades necessitam contar com condições que podem dispor no exterior. O Brasil pretende manter um ritmo das economias emergentes, a fim de aumentar as possibilidades de melhora do padrão de vida de sua população, contando com potencialidades concretas para tanto, que podem ser aceleradas pelo aumento de presenças de empresas estrangeiras que tragam novas tecnologias para enfrentar seus desafios e ampliem os acessos aos mercados no exterior.
Todos constatam que existe uma simpatia recíproca entre os dois povos, brasileiros e japoneses, pois ao longo de um centenário de intercâmbio bilateral não estiveram diretamente envolvidos em conflitos. Pelo contrário, contam com iniciativas que os credenciam como candidatos naturais para aumento do seu relacionamento, além da colaboração no equacionamento das questões mundiais. Além das complementaridades evidentes, o incremento do seu relacionamento pode estimular ambas as economias, sem restrição significativa, passando para um patamar de intercâmbio superior ao que vêm mantendo no passado recente, com envolvimentos mais profundos, por exemplo, no campo tecnológico.
Ambos os países lutam nos fóruns internacionais para uma maior facilitação do comércio e do investimento, e estão engajados também no estabelecimento de mecanismos bilaterais ou regionais. Tanto o Japão quanto o Brasil dão grande importância para as inovações tecnológicas, indispensáveis para atingir maior eficiência, com profundo respeito ao meio ambiente e aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos de governança, com ampliação dos benefícios para toda a população, prioritariamente para os menos favorecidos, que resultam parte do aumento de suas expectativas de vida.
Entendem que o adequado preparo dos recursos humanos é vital para conquistar patamares avançados de inovações tecnológicas, transformando em realidade operacional muitos dos potenciais que possuem, dotando suas populações ativas com capacidade para suportar os encargos sociais indispensáveis. As experiências internacionais acabam sendo estratégicas e partes dos seus recursos humanos acumularam estas vivências, sendo algumas ainda estão subaproveitadas.
Por se situarem geograficamente a grande distância e pelas experiências recíprocas acumuladas durante décadas, entendem que a infraestrutura e a logística podem superar tecnologicamente muitas das limitações impostas pelos custos de transportes, tanto internamente como no cenário internacional.
A energia e os demais recursos indispensáveis para a sustentação de suas atividades, sempre com vistas à preservação do meio ambiente para atender as necessidades de suas populações futuras, exigem inovações que estão ao alcance no futuro próximo. Vem demonstrando o seu apreço às fontes renováveis e não poluentes, contribuindo para o seu uso comercial.
Ampliaram, em conjunto, sua participação no abastecimento mundial de alimentos e se mostram dispostos a passos adicionais para utilizar todas as potencialidades dos agronegócios para atendimento dos mercados mundiais que estão melhorando seus padrões de consumo.
Ainda existe inovações que podem contribuir para o bem-estar da humanidade mediante o aproveitamento da biodiversidade brasileira, bem como tirar partido dos recursos marítimos cujas potencialidades ainda não estão sendo utilizadas comercialmente com a intensidade desejada, inclusive com o seu manejo adequado. Brasil e Japão são países privilegiados pelos seus oceanos que podem apresentar soluções para as limitações que se apresentam.
A água já é um fator escasso, e o Brasil é detentor do maior estoque mundial deste precioso líquido, ao lado de sua rica biodiversidade. O Japão, dentro do seu arquipélago, desenvolveu uma cultura para preservar a sua qualidade. O intercâmbio bilateral nesta área pode prestar uma grande ajuda para a humanidade e bem-estar de suas populações.
São amplas as possibilidades decorrentes do aumento das colaborações profundas e recíprocas que ficam ofuscadas diante dos incrementos de outros intercâmbios que se intensificaram recentemente. O Brasil ajudou na recuperação do Japão logo depois do término da Segunda Guerra Mundial, fornecendo encomendas para aproveitamento dos recursos humanos disponíveis. O Japão colaborou decisivamente nas fases passadas do desenvolvimento brasileiro.
Hoje, apresentam-se novas necessidades e conveniências para uma nova fase de intensificação do intercâmbio bilateral tanto para aproveitamento das oportunidades que se oferecem quanto para a dinamização de suas economias com um todo, numa fase em que o mundo enfrenta desafios significativos.