O Plano Brasil Maior
3 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: Brasil Maior, cenário internacional adverso, conjunto de medidas para estimular as exportações, restrições às importações predatórias
Reconhecendo que as condições externas estão se agravando, mesmo com o aumento do teto do endividamento público nos Estados Unidos, o governo brasileiro resolveu acelerar a divulgação do seu plano Brasil Maior, procurando estimular as suas exportações, como evitando as importações consideradas predatórias. Os problemas mundiais se acumulam com as dificuldades japonesas e de países europeus, provocando uma exagerada valorização do Real, com o influxo de recursos financeiros no Brasil, que estimula as importações e prejudicam as exportações.
O governo anuncia que se trata somente de um primeiro passo que será complementado por outros que estão sendo estudados, como o conjunto de medidas destinado ao incentivo das pesquisas e inovações tecnológicas, que devem promover uma elevação do patamar da eficiência tecnológica. Antecipa-se às críticas que o plano seria difuso, sem que fique clara a estratégia para a obtenção das metas estabelecidas, e que nem todos os problemas estão adequadamente atendidos.
Com as medidas tomadas pelos Estados Unidos para recuperar a sua economia, mesmo com a quebra de confiança dos norte-americanos nas autoridades daquele país, está se inundando o mundo com dólares. Parte deles, junto com os recursos financeiros de outros países desenvolvidos, flui para economias como a brasileira que continuam proporcionando, com baixos riscos, remunerações compensadoras. A exagerada valorização do Real acaba provocando dificuldades para as atividades exportadoras do Brasil, exigindo que parte delas tenha que ser exonerada, tanto do ponto de vista fiscal como dos custos relacionados com o custo da mão de obra, para serem mantidas competitivas.
Os altos juros pagos pelo Brasil necessitam ser reduzidos, mas as autoridades continuam temendo que medidas drásticas acabem provocando um refluxo volumoso e rápido destes recursos necessários para o financiamento do desenvolvimento. Como alternativa, procura-se corrigir algumas das muitas distorções que foram se acumulando ao longo do tempo.
Ainda não se chegou a um conjunto coordenado e interligado das ações governamentais que estão dispersas por muitos organismos, sem que haja um consenso razoável dos muitos setores envolvidos. Mas o plano acaba transmitindo a impressão que o governo não está alheio aos problemas do setor produtivo, trabalhando dentro de limites a que está sujeito.
Como os objetivos são múltiplos, acaba se dando indicações confusas de prioridade para o setor privado, bem como empresários estrangeiros interessados em aproveitar as oportunidades de investimentos no Brasil. De um lado procura-se estimular os setores de tecnologia de ponta, mas de outro, alguns setores menos dinâmicos como o de têxtil e confecções acabam sendo contemplados, diante da intensidade dos empregos a serem preservados.
Procura-se estimular o aumento dos investimentos, dando uma visão sistêmica dos setores envolvidos, mostrando as sinergias que podem decorrer de suas considerações conjuntas. Reconhecem-se a importância da gestão e a necessidade de menor burocracia nas decisões governamentais, bem como atendimento de segmentos como os de pequenas e médias empresas e aperfeiçoamento dos recursos humanos.
Na falta de um diagnóstico mais completo não se identificam os recursos que serão utilizados, como os da biodiversidade e dos minerais, bem como outros abundantes na economia brasileira que seriam aproveitados com maior eficiência. Os gargalos existentes na infraestrutura não ficam claros, como já estivessem sendo superados por outros programas como o PAC, quando se constata que a velocidade da implementação de muitos projetos está a desejar.
Para atender as múltiplas necessidades políticas, multiplicou-se o número de ministérios e agências governamentais, sem que a subordinação e a hierarquização fiquem explicitas, como se os conflitos tendam a ser resolvidos naturalmente pela prática da ação governamental.
O risco que se percebe é que as oportunidades sejam perdidas no tempo de suas realizações, com as necessidades de atendimentos das necessidades como as relacionadas com a preservação do meio ambiente.
Como a economia brasileira foi beneficiada com a elevação das atividades em todo o mundo, no momento em que se sente que haverá um arrefecimento do crescimento em todo o mundo, não se consegue ter uma ideia clara se as medidas que estão listadas bem como suas complementações sejam suficientes para preservar todos os objetivos e interesses do Brasil, mesmo que se queira reconhecer a necessidade de um grande pragmatismo no atual mundo sujeito a grandes mudanças na sua evolução.
Com um primeiro passo, pode se considerar aceitável, mas é preciso admitir que seja pouco diante do tempo de preparo da atual administração bem como do tempo em que já se está no comando, mesmo reconhecendo todas as dificuldades políticas, inclusive provenientes do exterior.