Reuniões Finais Entre Empresários Brasileiros e Japoneses
10 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: agrobusiness, conclusões, novas agendas, seções sobre energia renovável, tecnologias avançadas | 14 Comentários »
Foram concluídas as reuniões entre empresários brasileiros e japoneses em Salvador, Bahia, com uma avaliação positiva. Nas seções de hoje foram discutidas ainda os problemas de energias renováveis, como a do etanol, economia de combustível e atuações dos japoneses neste setor no Brasil. Nas novas tecnologias avançadas, foram apresentadas as formas de atuação da Embraer e da Braskem, bem como a petroquímica Toray e os resultados de Hitachi nos trens rápidos, todas de boa qualidade. No agrobusiness, foram apresentadas as novas explorações florestais, a atuação da Multigrain e produções de defensivos, com um estranho pedido para facilitar a venda de terras cultiváveis para grupos estrangeiros. Na nova agenda, foram sugeridas intensificações nos contatos pessoais entre brasileiros e japoneses, sempre úteis, principalmente com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, facilitando a volta dos voos aéreos diretos. E foram apresentados bons resumos das discussões e efetuado o encerramento de praxe.
As expectativas sobre as reuniões foram superadas, mesmo com a presença limitada dos empresários e das autoridades brasileiras, com os japoneses insistindo em apresentar a segurança dos trens rápidos do Japão, e seus avanços tecnológicos, mostrando a conveniência de sua utilização no Brasil, apesar dos seus custos elevados. Observa-se que não conseguiram ainda um envolvimento político adequado para que sua proposta possa ser a vencedora. Muitos novos participantes japoneses estiveram presentes, mostrando que o Brasil é alvo de grande interesse, principalmente diante o crescimento mais modesto do Japão e do resto do mundo.
Ficou evidente que tanto os empresários brasileiros como japoneses ainda necessitam ampliar os seus conhecimento recíprocos, pois sabem pouco das condições vigentes em ambos os países, salvo as grandes organizações como a Petrobras e a Vale. A temporariedade dos empresários japoneses no Brasil, com rodízios nos períodos de três a quatro anos, pouco permite que eles obtenham relacionamentos profundos com os brasileiros, conhecendo os meandros políticos locais.
Apesar do interesse no Brasil, ainda não conseguiram relacionamento com empresas de outros países já estabelecidos no Brasil por muitas décadas, de forma a poder montar consórcios para disputarem grandes projetos. As complexidades fiscais e de todas as burocracias indispensáveis sempre são apontadas como dificuldades que aumentam seus riscos. Não estão envolvidos com as demandas da nova classe média.
Ainda pensam no abastecimento do Japão de matérias-primas minerais e commodities agropecuárias, sem uma industrialização mais avançada que adicione valor aos produtos exportados. Não se pensa o Brasil como um país que sirva de base para a exportação de produtos industrializados para outros países vizinhos, ou terceiros mercados. Ou no simples fornecimento dos seus produtos de alto valor agregado, disputando os projetos de infraestrutura que foram largamente apresentados.
Não cogitam de estabelecer centros de pesquisa no Brasil para os novos desafios existentes, bem como as demandas das autoridades ou da população local. Ainda não chegaram a descobrir os mecanismos de associação com os grupos locais, inclusive para operações em terceiros mercados.
De qualquer jeito, parece haver um maior interesse, lamentando-se que atuem sem a colaboração de empresas ou grupos que estejam mais profundamente arraigados no Brasil. Em qualquer país no exterior, sem o adequado envolvimento com os nacionais, sempre acaba ficando mais difícil realizar bons negócios que também sejam duradouros.
Dr. Paulo, é impressionante como a apatia do empresariado japonês em relação ao Brasil contrasta com a disposição dos coreanos, vide a Hyundai e Samsung. Será que essa falta de vontade nipônica é só com o Brasil, um grande mercado emergente?
Caro Mike,
Não vejo apatia. O fato concreto é que eles estão na Ásia, com vizinhos que crescem rapidamente, e é mais do que natural que tentem aproveitar as oportunidades que descobrem na região. O Brasil, ainda que esteja melhor pela nossa ótica, é fato que cresce menos que a China e a Índia.
Paulo Yokota
Crueldade do Mike.
Hoje acordei, passei um Salompas no tornozelo,peguei minha moto Honda,coloquei o capacete da Arai e fui ao supermercado , onde comprei Yakult e sucos da Ajinomoto.Passei pela Teodoro Sampaio, e nas vitrines vi guitarras da Ibanez, baterias da Tama e teclados da Korg.Chegando no trabalho usei canetas e lápis da Sakura e Pentel para desenhar e cortei papéis com estilete amarelo da Olfa.Meu colega me chamou para almoçar no Sukiya que abriram na Liberdade, mas não tive tempo e comi um Miojo mesmo.Atrasado, gravei meus arquivos num DVD da Sony e despachei pelo motoboy, que usava uma moto Yamaha com pneu Bridgestone.Na volta,pela avenida Paulista,vi uma máquina ‘gachapon’ numa banca de jornal.Etc, etc…
A industria japonesa é uma das mais diversificadas do mundo, com marcas de valor em qualquer setor, não só eletrônicos e automóveis.Só os EUA os superam nessa diversificação.É só observar que eles estão há décadas no Brasil, muitas vezes empregando muitos brasileiros em fábricas daqui e, se há esse tipo de encontro na Bahia, é porque há o desejo de aprofundar essa relação.Bom para os dois lados.
Só não sei de onde o povo tira que os coreanos são os únicos asiáticos que investem no Brasil de hoje.Aliás, a Toyota e a Hyundai investiram agora o mesmo montante de dinheiro no país, em plantas novas no interior de SP.E tanto a Toyota como a Honda vendem mais (ainda, pelo menos)no Brasil do que o grupo Hyundai/Kia.
A Sony anunciou que 2010 foi o melhor ano dela no país e vai se debruçar sobre a nova classe C.São líderes em câmeras fotográficas no Brasil.
A Panasonic comprou um baita terreno em Minas para fazer a linha branca, etc.
Realmente, não sei de onde vem essa ideia de que os japoneses, no aspecto geral,estão parados.
Quanto a TVs e monitores, aí sim, devo dizer que os japoneses dormiram no ponto.Meus amigos no Japão me mostram a qualidade das marcas locais e fico espantado que pararam de exportar como nos anos 80.Sharp, Toshiba, Hitachi fazem coisas que só ficam lá e, talvez, Europa ocidental e EUA.
Caro Raphael,
Obrigado pela sua contribuição para estas discussões. Acredito que os japoneses estão com presenças diversificadas, e estão procurando um novo ciclo, pois seu meercado interno, como os dos países desenvolvidos não estão muito dinâmicos, enquanto os emergentes continuam apresentando perspectivas mais atraentes.
Paulo Yokota
Dr. Paulo, a Coreia também fica na Ásia. Como os coreanos conseguem atuar agressivamente em várias frentes geográficas?
Caro Mike,
Eles são novos tigres asiáticos, e logo serão superados por outros que vão surgindo.
Paulo Yokota
Sinto que as empresas japonesas foram ultrapassadas por várias concorrentes asiáticas porque as gestões continuam falhas e lentas. Sem dizer que os executivos japoneses pouco se atualizam e preferem ficar fechados em seus mundinhos. Enquanto isso, Coréia e China avançam de modo mais agressivo e certeiro.
Uma pena.
Caro Egregora,
Sempre as novas empresas que atuam no mercado internacional necessitam ser mais agressivas para poderem contar com uma participação neste mercado.
Mas, ainda não contam com mecanismos de relacionamento com o Brasil como os japoneses.
Paulo Yokota
Outros dados curiosos: a Fuji Heavy premiou a Subaru do Brasil como a subsidiária que mais cresceu no ano passado, no mundo.
A SUV de luxo da Mitsubishi já vende mais que a Captiva da GM, por aqui.
A cerveja mais vendida no nordeste agora é da Kirin.
Kawasaki vai fazer motos grandes em Manaus.
Nikon vai fazer cameras DSLR aqui no nosso país.
Melhor parar, que já estou parecendo um torcedor de futebol.Mas, pra mim, não faz sentido.
Caro Raphael,
Não tenho dúvidas que os japoneses estão fazendo investimentos no Brasil e mandando muitas missões para examinar as oportunidades. Mas é preciso que este interesse se transforme em intercâmbios efetivos. Quanto a Kirin, ainda existem pendências jurídicas e tenho dúvidas se haverá um final feliz, pois parece que estão mal assessorados por bancos estrangeiros, e não se trata de um setor estragético.
Seria interessante que as produções brasileiras das empresas japonesas visassem também terceiros mercados, pois é vital para o Brasil ampliar as exportações.
Paulo Yokota
Raphael,
Não estou sendo cruel. São os números que mostram que há dez anos o comércio bilateral Brasil-Japão era 4 vezes maior que Brasil-Coreia. Hoje, estão quase empatados, e tendendo a virar pois as importações vindas da Coreia estão fortes.
Quanto aos investimento direto, em termos relativos, também os coreanos foram mais agressivos.
Pior que perder oportunidades, é repousar sobre os louros.
Há dez anos, LG era só marca de leite…
Abçs!
Mike
Caro Mike,
Tenho a impressão que os coreanos são mais agressivos, mas a dimensão da economia coreana é mais modesta e possuem um mercado interno menor. O Brasil tem pretensões de se tornar uma economia importante, e não um mero entreposto comercial.
Quanto aos japoneses, ainda que enfrentem dificuldades, estão se mostrando mais agressivos com relação ao Brasil, mas é preciso que isto se transforme em estatísticas paupaveis.
Paulo Yokota
Yokota-san,
Suas reportagens são muito interessantes e mantem a gente atualizado em relação a Asia em geral.
Sobre os japoneses, creio eu que a cautela é a referencia deles, e são “gatos escaldados“ que já se retiram daqui na decada de 80, com as instabilidades do primeiro governo civil que o Brasil teve. E o retorno esta acontecendo gradativamente.
Abração
Yoshio Hinata
Caro Yoshio Hinata,
Não somente as empresas japonesas fizeram investimentos no Brasil, nem sempre bem sucedidos. Lamentavelmente, eles tendem a imitar o que os outros fazem, e recentemente efetuaram muitos investimentos na China, e muitos não conseguem os resultados que esperavam. A cautela é recomendável a todos, inclusive brasileiros que efetuam investimentos no exterior.
Paulo Yokota