Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Tendências Expressas na Imprensa Internacional

28 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: além dos editoriais, conveniência da objetividade, tendências nas notícias

Deve se reconhecer que mesmo que os jornalistas procurem a maior objetividade nos seus artigos, sempre existem algumas influências dos seus valores pessoais nas notícias escolhidas e dos ângulos de suas observações. Tudo indica que, recentemente, existe um exagero no trato dos problemas que estão sendo enfrentados no mundo, que são graves, mas não podem ser considerados calamitosos. É evidente que os jornalistas sempre procuram os fatos inusitados e a normalidade nunca atrai os leitores. Assim, ainda que as mais credenciadas instituições estejam prevendo que os Estados Unidos, a Europa e o Japão tenham crescimentos razoáveis em 2011, que giram em torno de 2 a 3%, destacam-se as dificuldades para uma recuperação mais vigorosa no mundo considerado desenvolvido.

A previsão é que os países emergentes, como a China, a Índia, a Rússia e o Brasil, ainda que tenham crescimentos menos acentuados que no passado recente, apresentarão crescimentos iguais ou superiores ao do mundo, mostrando que continuam funcionando como locomotivas internacionais. Ainda assim, destacam-se as críticas que estes crescimentos estejam prejudicando os empregos no mundo desenvolvido, fazendo com que sua recuperação fique mais difícil. Todos admitem que as dificuldades recentes estejam ligadas aos aumentos dos fluxos financeiros internacionais, tendo provocado um aumento de consumo acima da produção, aumentando o endividamento de muitos países. Ora, pelo que se sabe, as instituições financeiras relevantes no mundo são dos países industrializados, e os banqueiros internacionais continuam resistindo a controles adequados.

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Nenhum país é perfeito e deve-se admitir que a presença dos governos venha ganhando novamente uma importância maior do que no período em que exaltou o liberalismo, com interferências que são considerados inadequados para o perfeito funcionamento das economias de mercado. Mas, ainda assim, ninguém pode afirmar que os mecanismos de mercado resolvem todos os problemas da humanidade, pois tendem a acentuar as concentrações e as desigualdades, beneficiando os que atingiram estágios mais avançados de desenvolvimento com antecedência, e prejudicando os que estão relativamente atrasados.

Há que se admitir que os mecanismos de mercado sejam os mais adequados para realizar os sonhos de eficiência econômica e liberdade dos homens, pelo que se conhece pelo estudo da história. E como afirma o professor Delfim Netto, eles não foram inventados por ninguém, mas sendo aperfeiçoados ao longo do tempo, com avanços e retrocessos. Quando os seres humanos atingem padrões de consumo mais elevados, acabam por aspirar maior liberdade política, e não existe uma única forma para que isto seja atendido. O conceito de democracia baseado na Revolução Francesa e na Revolução Americana não pode ser considerado o único, pois de conformidade com a história e a cultura de cada povo também parecem existir meios de conciliar estas aspirações.

No noticiário parecem predominar, infelizmente, fortes condenações às opções chinesas, mas o mesmo não acontece com países como Cingapura. que conseguiram o seu desenvolvimento com padrões semelhantes. Também parecem exagerar as dificuldades econômicas, ainda que algo próximo a 95% das economias continuem trabalhando da mesma forma para atender as necessidades humanas, sendo somente uma pequena parcela a mais afetada pelas limitações. É claro que todos desejariam que o crescimento observado nas últimas décadas continuasse com a mesmo vigor, mas deve-se admitir que os ciclos sejam da natureza das economias capitalistas.

O que se deseja insinuar é que o mundo continua o mesmo, não havendo motivos para um pessimismo maior.