Autoridades Fazem o que é Preciso e não o que Querem
16 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: ação conjunta de instituição de peso, aumento dos tributos para carros importados no Brasil, liquidez para o sistema bancário | 8 Comentários »
Muitas vezes, as decisões das autoridades em todo o mundo contrariam suas intenções para evitar problemas maiores, assunto sempre difícil de ser compreendido pela opinião pública. Atuando conjuntamente, o Banco Central Europeu, o FED dos Estados Unidos, o Banco Nacional Suiço, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão deram liquidez ao mercado, pois não era mais possível que os bancos privados internacionais conseguissem recursos para a continuidade de suas operações. Todos sabem que eles estão carregados com empréstimos feitos para países europeus que não têm condições de honrar seus compromissos e isto deveria ser um assunto privado. Mas a insolvência de um banco a esta altura provocaria um movimento em cadeia, paralisando todo o mercado mundial, como aconteceu em 2008.
Ainda que esta situação decorra da falta de cuidado dos bancos e sua intenção de ganhos substanciais com riscos elevados, a medida que acaba os beneficiando precisava ser tomada, pois o mal que ocorreria para toda a economia mundial seria uma nova crise como a que se provocou há alguns anos e ainda não está resolvida adequadamente. Todas as populações acabam pagando para que os dirigentes do sistema financeiro continuem ganhando, não sendo punidos pelas suas operações arriscadas.
Há uma revolta com as autoridades norte-americanas, mesmo sabendo-se que os banqueiros ganharam o que não deviam na crise de 2008, e os recursos utilizados prejudicaram toda a população dos Estados Unidos e até do mundo, deixando milhões mais pobres, além dos aposentados e os que perderam suas residências. O desemprego continua elevado, e Barack Obama continua com o seu prestígio político em queda. Ainda assim, diante de um mal maior, precisam repetir assistências aos bancos, como decidido ontem.
Todos sabem que os principais bancos privados do mundo compraram títulos de países europeus em situação difícil, recebendo juros mais elevados, concedendo prêmios para seus administradores. E agora precisarão amargar prejuízos, pois é necessário provocar, no mínimo, um reescalonamento de prazo mais longo, com parte da redução destas dívidas e seus juros. E recursos públicos estão sendo utilizados para evitar a derrocada destes bancos mal administrados, cujos dirigentes continuarão com elevadas remunerações, ainda que o povo desempregado e os idosos que necessitam de assistência dos governos estejam sendo prejudicados. Do contrário, haveria um “efeito dominó” paralisando todo o sistema financeiro mundial, com prejuízos muitas vezes maiores para todos.
Estes processos são rápidos e desastrosos. As autoridades estão tentando uma solução de curto prazo, esperando que países altamente endividados que estão sendo denominados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha – e “pig” em inglês significa porco) reduzam seus déficits fiscais, cobrando mais impostos e reduzindo seus gastos, ao que continuam resistindo.
Numa escala menor, quando o governo brasileiro eleva fortemente os impostos sobre os carros importados para proteger a produção interna, mesmo sabendo que tais medidas podem desencadear alguns problemas, pode-se afirmar que decisões desagradáveis estão sendo tomadas, para evitar o problema maior que é o desemprego dos operários brasileiros. A presidente Dilma Rousseff está deixando claro que continuará protegendo a economia brasileira e reduzindo a inflação, ainda que medidas antipáticas tenham que ser tomadas.
Existem muitos analistas que supõe que o sistema bancário possui tal influência que pode contrariar o governo e o Banco Central do Brasil. Mas a determinação das autoridades está mostrando que, mesmo com os custos que precisam ser arcados, há uma clara determinação que os objetivos escolhidos serão perseguidos, com a manutenção de um mínimo de crescimento, com uma inflação controlada, não se curvando diante dos interesses do setor financeiro.
Dr. Paulo,
Sobre a questão do que precisa ser feito, gostaria que o sr. comentasse sobre a decisão do governo de aumentar o IPI sobre os carros importados. Considerando que o real está valorizado, e que países como a China e Coreia manipulam o câmbio, parece-me que a decisão brasileira foi acertada.
Caro Mike,
Tratei do assunto, rapidamente, no final do artigo. Acredito que a decisão foi correta, mas poderá ser contestada no ambito da OMC, que pode gerar uma grande disputa.
Paulo Yokota
Se um determinado mercado precisa de proteção para existir, então ele não deveria existir!
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1109
Caro Marco,
Infelizmente não é como V. pensa, pois em economia sempre existem as chamadas economias de escala e de aglomeração. Os que chegaram antes acabam prejudicando os que chegam depois, como os emergentes. E é preciso ter as mesmas condições que historicamente os desenvolvidos tiveram. Alem disso, no caso do sistema financeiro, a quebra de um só banco de porte pode causar dificuldades universais, e profundas, como já aconteceu no passado recente.
Paulo Yokota
O estado cria dificuldades e vende facilidades. Não concordo com o com o que o Senhor pensa, mas respeito muito. Os únicos responsáveis pelas instabilidades econômicas são os estados, o povo nunca parou de trabalhar, nunca parou de consumir, nunca gastou com guerras inúteis, corrupção e etc. Os estados estupram seus cidadãos via impostos, que eles gastam muito mal e por consequencia entram em recessão. Só o livre mercado pode dar jeito nessa baderna que o mundo se transformou.
PS: O Senhor já leu A revolta de Atlas da autora Ayn Rand?
Lhe indico!
Abraço!
Caro Marco,
Lamento informar que a posição que V. defende, que consubstanciou o chamado Consenso de Washington já foi abandonado até pelos que o defendiam. A recente história mundial demonstrou que o mercado é um mecanismo útil, mas sem um Estado que o sustente e corrija algumas de suas distorções, não se chega a resultados razoáveis. Hoje, todos os países voltaram ao que se chama Estado indutor, principalmente para as economias que chegaram tardiamente ao desenvolvimento, e que como emergentes estão ajudando agora os chamados países desenvolvidos, como os europeus.
Paulo Yokota
Sr Paulo, quer dizer que os economistas da escola austríaca desistiram dos ideais de Mises, Hayek e outros e se tornaram keynesianos? Não sou profundo conhecedor desses assuntos, sou apenas um curioso que se interessa muito pelos ideais libertários.
Acho que todas as vezes que o estado se entromete na economia ele pune os cidadãos produtivos com mais e mais impostos para financiar suas burocracias pouco eficientes.
Abraço
Caro Marco,
Na realidade os preciosos ensinamentos como o de Hayek foram transformados em recomendações políticas, como o do Consenso de Washington, que também acabou sendo distorcidos, enfatizando somente o que interessavam aos países já desenvolvidos. Como sempre, existe um processo contínuo de evolução com algumas tendências que, passam com seus fracassos, voltando-se em ciclos de tendências contrárias. O que parece dominar no momento é uma tendência intermediária que procura preservar as vantagens das economias de mercado, juntando também as considerações políticas de melhor distribuição da renda. O Professor Delfim Netto vem entatizando que o próprio mercado necessita das garantias oferecidas pelas autoridades, para o seu funcionamento razoável. Isto leva ao que está se denominando Estado indutor.
Mesmo o mundo desenvolvido, com os problemas que estão sendo enfrentados atualmente, admitem que algum tipo de controle precisa ser estabelecido sobre os exagerados fluxos financeiros, o que está sendo discutido no âmbito do BIS, com a resistência dos representantes do sistema financeiro, que incorporam muito dos movimentos chamados de manada, que nada apresentam de racional, mas são dominados pela psicologia social.
Paulo Yokota