Dúvidas Razoáveis Sobre os Grandes Bancos Internacionais
19 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: dificuldades de compreensão, perdas no UBS, responsabilidades, tradições suíças
Ninguém deve apontar irresponsavelmente as razões das falhas que vêm ocorrendo em alguns bancos internacionais, mas todos acabam ficando apreensivos quando o tradicional UBS, cujo nome veio do centenário Union Bank of Switzerland – o maior banco suíço, que era considerado como das melhores instituições bancárias do mundo, informa que houve irregularidades na organização cujos prejuízos foram inicialmente estimados em US$ 2 bilhões, ainda que esta cifra não coloque o banco em risco. Hoje, o site da Bloomberg informa que a nova estimativa é de US$ 2,3 bilhões e seu CEO Oswald Gruel não cogita de pedir demissão. Para quem é do tempo em que os bancos suíços eram o símbolo máximo da segurança bancária, e tendo sido responsável pela fiscalização dos bancos brasileiros, portanto, não um simples leigo no assunto, estas informações são no mínimo surpreendentes.
Como a maioria dos bancos internacionais, quando da crise de 2008, o UBS teve que elevar o seu capital em US$ 46 bilhões dos seus investidores para fazer face às suas dificuldades, inclusive com recursos da Confederação Suíça, portanto, dinheiro público. Seus dirigentes, como a maioria dos grandes executivos responsáveis por instituições semelhantes, são remunerados regiamente, participando dos seus lucros ainda que potenciais, com cifras assustadoras. Atualmente, estes bancos necessitam ser assistidos pelas autoridades monetárias, novamente, diante das operações de elevado risco que vieram efetuando nos últimos anos, com devedores que não podem honrar os seus compromissos.
Ainda que todas as irregularidades estejam sendo investigadas por uma comissão de especialistas internacional especialmente designada para tanto, até agora se divulgou que elas foram cometidas por um jovem de 31 anos de origem em Ghana, Kweku Adoboli, que teria estudado na University of Nottingham, formado em 2003 em computação e administração. Como não se trata de uma falha que seja uma novidade, tendo se registrado outras atribuídas a um simples operador em outra instituição, é no mínimo assustador que tais montantes possam ser decididas somente por uma ou algumas pessoas de baixa hierarquia.
O sistema bancário tem um poder imenso e se autoridades decidem assisti-lo mesmo que saibam de seus abusos é porque o estrago que pode provocar em toda a economia mundial é catastrófica. Uma paralisação de suas operações numa instituição de porte, como ocorreu há poucos anos, pode acabar desencadeando uma crise sistêmica que contagia a todos, gerando uma quebra geral de confiabilidade.
Ainda que os bancos sejam, na maioria, instituições privadas, necessitam ficar sob a supervisão das autoridades, mas seus dirigentes resistem às regulamentações mais rígidas, de interesse internacional. Hoje, existe um entendimento que o BIS – Banco Internacional de Compensações que funciona como um Banco Central dos Bancos Centrais da grande maioria dos países seja a centralizadora das regulamentações.
A primeira fiscalização deve ocorrer internamente nos próprios bancos, havendo regras estabelecidas conhecidas como compliances, que funcionam de conformidade com o estabelecido no BIS. As auditorias externas ainda deixam a desejar, pois seus serviços são contratados pelos próprios bancos e seus relatórios apresentam muitas ressalvas. Existem outras fiscalizações feitas pelas autoridades que, no caso brasileiro, que é feito pelo Banco Central.
Parece que a dificuldade reside hoje nas cifras astronômicas que são movimentadas diariamente, com grande velocidade usando os instrumentos disponíveis na informática. De qualquer forma, espera-se que os casos em foco, bem como outros, provoquem um aperfeiçoamento colocando os interesses coletivos acima das liberdades privadas, quando indispensáveis.