Educação, Consciência e Engajamento São Traços de Longevidade
27 de setembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: idosos centenários no Japão, prof. James P. Smith - Universidade de Chicago, The Longevity Project - Universidade Califórnia-Riverside.
Editorial do The Japan Times (More Centenarians than ever– 25/09/2011)) afirma que o Japão envelhece cada vez mais. Levantamento realizado pelo Ministério da Saúde e do Bem-Estar indica que o número de centenários japoneses atingiu a cifra de 47.000 idosos, no Keiroh-no-Hi (Dia do Respeito ao Idoso), este ano celebrado em 19 de setembro. Pessoas com mais de 65 anos perfazem 23,3% da população. Quanto aos com mais de 100 anos, mulheres totalizam 41.000, e homens, 6.000: 87,1% dos centenários japoneses são mulheres. No mundo todo, mulheres vivem em média 5 anos mais do que homens, mas a disparidade no Japão surpreende. Pesquisas procuram as possíveis causas: genética, estresse, comportamentos de risco, equilíbrio emocional. Mas nenhuma decisão conclusiva, por ora. Avaliações mais detalhadas são desejadas.
É o que têm feito estudiosos como o prof. James P. Smith, PhD pela Universidade de Chicago, economista demográfico e da saúde, da organização não lucrativa Rand Corporation. Segundo o professor, cada sociedade tem uma expectativa de vida média para o país como um todo, e, dentro do país, há diferentes extensões de vida para os diversos segmentos (sexo, raça, região geográfica, educação, religião etc.). Para ele, o fator social mais significativo é a educação escolar, e isso tem sido observado em todos os países pesquisados – com enfoque na China, Coreia, Japão. Verificou-se que a expectativa de vida aos 35 anos pode ser estendida por até um ano e meio a cada ano extra de frequência escolar. Acredita-se que pessoas com menos escolaridade tenham menor capacidade de planejar o futuro, e tendem a adiar recompensas. Optar por uma vida ou comportamento saudável hoje, por exemplo, implica em sacrifícios para obter gratificações apenas no futuro.
James P. Smith e a capa do The Longevity Project – book)
Tais conclusões são corroboradas em parte por pesquisas realizadas pelos PhDs da Universidade da Califórnia – Riverside, Howard S. Friedman e Leslie R. Martin em seu livro The Longevity Project (O Projeto Longevidade), Hudson Street Press, Maio/2011. Os autores apresentam resultados obtidos ao longo de 80 anos com 1.500 alunos de 4 e 5 anos, indicados por seus professores, na área de São Francisco, Califórnia. A pesquisa, iniciada em 1921 pelo dr. Lewis Terman e continuada pelos dois professores, aponta e derruba muitas ideias que, segundo eles, mitificam o conceito de vida longa e saudável. No seu estudo, eles não acharam, por exemplo, correlação relevante entre corpo bronzeado e sarado por exercícios, e expectativa de vida. Tampouco uma vida calma significa longevidade: trabalho árduo e estressante é elo que leva a viver mais, pelos desafios que oferece. Claro, se for ocupação prazerosa para a pessoa. Nem a genética é índice crucial de longevidade: os genes constituem cerca de um terço dos fatores que influem para vida longa.
Pois eis a chave para a longevidade: consciência e sociabilidade, estar conectado ao mundo que nos cerca. As pessoas conscientes são propensas a ser mais responsáveis, a procurar vida mais saudável, a evitar vícios, e a obedecer a prescrições médicas, leis civis, códigos de trânsito etc. Tendem também a viver situações mais saudáveis (casamentos felizes, amigos leais e sensatos, trabalhos mais condizentes para si), e não se arriscam em situações de perigo, se afastam de gente e coisas nefastas. Enfim, pessoas conscientes possuem qualidades que indicam prudência, bom senso, perseverança, boa organização – o que para alguns pode até parecer uma personalidade apenas neurótica. Os autores escorregam em certos conceitos: eles se afastam da ciência para fazer conjeturas subjetivas (que em tese eles abominam) ao induzir que a felicidade é resultado da boa saúde e longevidade. Pois a lógica aponta o inverso: não é a felicidade íntima que leva à boa saúde e longa vida?
Portanto, estudar continuamente, ser consciente e responsável, estar conectado com o mundo real (não só virtual!) que nos cerca, e ter uma boa rede social (real, e não apenas virtual!), são elos que nos ligam a uma longa e saudável vida. Porém, nada impede que continuemos a manter uma dieta equilibrada e a praticar o nosso pilates e caminhada de cada dia, por que não?