Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Sabedoria Popular Que os Economistas Não Entendem

20 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: Banco Central passando a apoiar, criação de novas moedas, estimulo à atividade local | 6 Comentários »

Nem mesmo os que procuram acompanhar a evolução da economia, notadamente nas periferias dos centros urbanos ou nas pequenas cidades brasileiras, não se davam conta do assunto que está sendo destacado num artigo do The Wall Street Journal, republicado no Valor Econômico de hoje, de autoria de Paulo Prada. Refere-se à criação de moedas locais de circulação restrita, com lastro no real, que acabam estimulando as modestas economias da periferia ou pequenas cidades, acabando por ser estimulada pelo Banco Central depois de sua restrição inicial.

Informa-se, com base num caso concreto do Capivari, uma moeda utilizada em Silva Jardim, pequena cidade distante 104 quilômetros do Rio de Janeiro. O impressionante é que se informa que existem 63 moedas deste tipo em todo o Brasil, o que é desconhecido até por economistas mais experientes que conhecem muitas partes deste imenso país.

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Banco Capivari e cédulas de Capivari e foto área da pequena Silva Jardim, no Rio de Janeiro

Quando o Banco Central recebeu as primeiras denúncias destas moedas, posicionou-se no sentido de coibi-las. Mas, verificando que eram de pequena monta e lastreada no real, estimulando as economias locais quase na forma de cooperativismo, acabou por incentivá-las. Hoje, existem pequenos estabelecimentos que contam com alguns funcionários e segurança adequada. Eles fazem o depósito de pequenos valores num estabelecimento bancário, em real que lastreia estas novas moedas. Elas são utilizadas entre os habitantes de pequenas cidades ou até favelas, estimulando a compra nos estabelecimentos que concedem até descontos para as compras efetuadas com elas.

Ainda que existam alguns casos de resistências, já aparecem estas moedas em valores diferenciados, com emissões de notas com algum aperfeiçoamento. Muitos levam nomes que se distinguem na região, como a Capivara, Palma etc.

São utilizadas para as mais variadas finalidades, havendo doações que são feitas nas igrejas, aquisição de jornais, compra de sorvetes, e até materiais de construção num caso que chegou a um valor de R$ 2.700, que proporcionou um desconto de 5%. A iniciativa se originou no Brasil através de um ex-seminarista de nome Joaquim Melo que trabalhava como ativista social, começando com quatro pequenos varejistas que aceitaram estas moedas, que foram se generalizando.

Informa-se que algo semelhante existe também em algumas localidades dos Estados Unidos. A finalidade é que os que são pagos nestas moedas, que circulam ao lado do real, só são aceitos na localidade, fazendo com que os gastos não fluam para centros mais avançados próximos da comunidade. Existem alguns casos em que estas moedas são estimuladas pelos prefeitos locais.

Como afirma um dos depoentes, o jornal que é vendido na localidade é o mesmo das grandes cidades, e acaba-se ajudando a sustentar o jornaleiro local. Hoje, existem o Banco Capivara como o Banco Palmas, devendo haver outros similares. Numa das localidades, a autoridade local está estimulando até o “Capivara Megastore”.

Há que respeitar estas iniciativas criativas que, sem prejudicar a economia brasileira, acaba estimulando as atividades locais e comunitárias, que sempre foram importantes. Os seres humanos vivem dos relacionamentos das pequenas comunidades, onde são conhecidos pelos seus nomes, e não sofrem a perda de identidade que acaba ocorrendo nas grandes metrópoles.

Parece ser um exemplo que pode ser adotado, com variações em outros países, cuidando-se de explicar as autoridades monetárias sobre estas iniciativas. Que tal se adotado pelas comunidades dos brasileiros residentes em algumas cidades japonesas ?


6 Comentários para “Sabedoria Popular Que os Economistas Não Entendem”

  1. Egregora
    1  escreveu às 19:25 em 20 de setembro de 2011:

    Os dekasseguis são tão desunidos que nenhuma ação de cooperativismo daria certo. O egoísmo impera e a mediocridade prospera. Uma pena!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 21:38 em 20 de setembro de 2011:

    Caro Egregora,

    Não concordo com o seu comentário. Inicialmente, os brasileiros e outros estrangeiros que trabalham e residem no Japão não devem ser considerados dekasseguis, que se referem aos antigos trabalhadores temporrários que vinham do norte, durante o inverno, para trabalharem no sul do Japão. Os atuais brasileiros residentes no Japão, mesmo com todas as dificuldades, são trabalhadores estrangeiros que tem visto para tanto e são bravos lutadores dispostos a enfrentarem ambientes que lhes eram estranhos. Quem se dispõe a abandonar a comoda situação onde nasceram e enfrentar o desconhecido merecem uma consideração adequada, como todos os imigrantes e para lá foram induzidos pelas circunstâncias. Muitos estão se saindo muito bem, e executam um trabalho comunitário respeitável, como não se encontra entre os que permaneceram no Brasil. Tenho-os na mais elevada conta, pois tiveram a coragem de lutar pela sobrevivência em ambientes que não lhes era familiar.

    Paulo Yokota

  3. Alex
    3  escreveu às 23:43 em 20 de setembro de 2011:

    Caro Yokota-san, sinto que a utilização do dinheiro em notas já começa a diminuir em várias partes do mundo. Afinal, estamos na Era do dinheiro eletrônico, não é mesmo? Pelo menos, aqui no Japão, essa política de estimular os consumidores a movimentarem o comércio do bairro onde residem, já é feita através dos cartões inteligentes, que além de servirem para crédito, também acumulam pontos de desconto em estabelecimentos determinados. Na minha opinião, essas ações sociais que surgem pelo Brasil só demonstram que o governo ainda sofre de descrédito popular. E vai continuar assim enquanto só pensar em proteger uma parte da população. Ou melhor, só aqueles que se julgam donos da nossa Pátria. Os filhos de sobrenomes tradicionais que defendem a concentração das posses e riquezas. Os japoneses estão percebendo mais claramente esse detalhe. E pelas últimas batalhas, parece que vai ficar mais difícil de convencer investidores daqui a acreditarem em parcerias verde-amarela. Fica aqui a minha torcida para que os dinheiros que estão surgindo aí no Brasil ajudem os verdadeiros brasileiros a recriarem as economias locais. E que as futuras empresas que eles estabelecerem, tenham como principal compromisso ser peça de um sistema justo de distribuição de renda e não um meio de exploração e de concentração de posses. Abs,

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 00:02 em 21 de setembro de 2011:

    Caro Alex,

    Não há dúvidas que o dinheiro plástico avança em todos os lugares, e mesmo a minha neta que tem somente 2 anos e 10 meses, quando minha esposa afirmou que não tinha dinheiro para comprar algo que ela queria, pergunto se não tinha cartão. Mas, o uso deste dinheiro que está se disseminando no Brasil e em alguns lugares dos Estados Unidos não depende da credibilidade do governo, mas o estimulo das atividades econômicas locais. Quanto a distribuição de renda, o Brasil assombra o mundo com a sua melhoria acentuada num prazo curto. A chamada nova classe média é que está consumindo e viajando pelo exterior, comprando suas casas. O desenvolvimento do interior brasileiro e de regiões nordestinas está num ritmo mais forte que o do Centro Sul. Entre as melhores escolas brasileiras, pelo exame do chamado Enem apareceu uma de Teresina do Estado de Piauí, batendo as privadas mais consideradas de São Paulo.
    É, o mundo mudou e o Brasil também. Hoje, os emergentes como o Brasil estão ajudando os antigos desenvolvidos como os países europeus.

    Paulo Yokota

  5. Tiago
    5  escreveu às 09:22 em 26 de setembro de 2011:

    Os economistas também não previram direito o valor do dólar em relação ao real, a palmo da sua frente! Diziam que o dollar ia diminuir até R$1,5 no final deste ano, e agora?Aumentando sem quê nem pra quê?
    Como o senhor explica isto, srº Paulo Yokota?

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 20:19 em 26 de setembro de 2011:

    Caro Tiago,

    É preciso não generalizar. Existem economistas como outros profissionais com posições diferentes, sendo que a maioria dos economistas são hoje ligados às instituições financeiras que possuem, em todo o mundo, interesses definidos. O câmbio é uma das variáveis mais difíceis de serem previstas, pois dependem de um grande numero de fatores, sendo que atualmente os fluxos financeiros, e não as importações e as exportações que mais influenciam. Os juros internos e externos também, alem dos desejos de segurança. Os melhores economistas afirmam, humildemente, que as melhores estimativas do câmbio de amanhã é o de hoje. Não sei qual a sua formação, mas imagino que mesmo nela existem posições variadas.
    Sejamos humildes, pois os seres humanos utilizam hipóteses que nem sempre se verificam, como que eles são racionais, quando são influenciados pelos comportamentos de manadas, que são mais psicológicos.

    Paulo Yokota