Saindo do Jugo do Sistema Financeiro
1 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, webtown | Tags: Banco Central baixa a taxa Selic, determinação do governo, perspectivas positivas | 4 Comentários »
Só os economistas e analistas ligados ao sistema financeiro podem ficar surpresos com a decisão do Copom do Banco Central do Brasil reduzindo em 0,5% a taxa Selic. Eles só expressavam as suas opiniões olhando a economia brasileira e mundial pelo espelho retrovisor, ou seja, para o passado e não para o futuro. Ainda que o nível de atividade da economia estivesse caindo, tanto no Brasil como no resto do mundo, alegavam a necessidade da manutenção de juros elevados, diante de um suposto risco inflacionário, quando são evidentes os sinais que a economia mundial está desaquecida, com redução das pressões inflacionárias. Os preços das principais commodities já passaram pelo ponto de máxima, havendo indícios que muitos cairão, como os de energias, diante de uma economia internacional com menor crescimento.
Alegavam que os serviços estavam com pressões inflacionárias, pois no passado conseguiram que muitas tarifas ficassem indexadas aos indicadores mais perversos, o que ainda não pode ser corrigido sem a quebra dos contratos firmados. O governo federal está determinado a cortar os custeios, e a redução dos juros sobre a dívida pública libera substanciais encargos que podem compensar alguns aumentos inevitáveis das despesas, como os decorrentes da correção do salário mínimo.
O Brasil está mais preparado para enfrentar eventuais problemas provenientes do setor externo, e a redução dos diferenciais de juros internos e externos devem contribuir para a redução dos influxos financeiros de recursos, minimizando a necessidade de acumulações adicionais de reservas internacionais, que não decorrem de superávits comerciais.
Os empresários vinham sofrendo com os juros elevados, bem como o câmbio extremamente valorizado. Mesmo reconhecendo que muitas correções exigem um bom espaço de tempo, o que sempre acontece na economia é que os agentes antecipam as tendências que se visualizam para o futuro.
O Brasil tem todas as condições para um crescimento razoável, sem pressões inflacionárias exageradas, e com sustentabilidade, preservando o meio ambiente e melhorando a sua distribuição de renda, como veio comprovando no passado recente. O seu mercado interno ainda conta com amplos espaços para a sua melhoria, e muitas empresas estrangeiras estão ampliando a sua capacidade de produção local, aumentando o valor adicionado dos produtos industriais.
Os minérios e os produtos agropecuários devem ser adicionados com valores em função de sua industrialização, criando empregos de qualidade no Brasil. Alguns equipamentos pesados devem contar com a margem de preferência quando produzidos no país, dentro das regras estabelecidas pela Organização Mundial de Comércio, mesmo nos projetos financiados pelo Banco Mundial ou o BID.
O governo está deixando mais clara a sua visão do Brasil dos próximos anos, e os empresários devem aproveitar a liquidez financeira internacional, de juros baixos, para efetivar seus investimentos, ampliando a capacidade de produção. As condições sempre reclamadas estão sendo atendidas e os investimentos em infraestrutura não devem sofrer reduções, pelo contrário, aproveitando os eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, com aceleração dos mecanismos de colaboração público-privados, devem atender os gargalos ainda existentes.
O Banco Central, como muitos outros organismos públicos, estão contando com dirigentes de carreira, não necessitando mais de diretores provenientes do sistema bancário privado. Já existem mecanismos para o preparo adequado dos recursos humanos tecnicamente preparados para o exercício das funções de Estado.
Tomando-se por base o seu vasto conhecimento sobre a Ásia e o Japão, gostaria de saber do autor deste blog, se os japoneses ainda usam, com frequência, dinheiro em espécie. Nos EUA, tem se tornado mais comum o emprego do dinheiro de plástico (cartões). Em alguns locais, os norte-ameircanos não aceitam mais dinheiro em notas.
Bom, o Japão é considerado como a “mãe da tecnologia” e presumo que, neste país, seja raro a utilização de cheques e cédulas.
Caro Marcelo Habib,
Ainda que os dinheiros de plástico estejam aumentando muito no Japão, existem alguns costumes arraigados, onde se usa notas de papel moeda, que necessitam ser novos. Os cheques são pouco utilizados, mas os numerários são bastante utilizados. No que se refere à tecnologia, existem hoje chips inclusive em carteiras de identidades que servem para tudo, inclusive passagens dos metrôs, pedágios e mesmo cartão de crédito. Com somente um documento/cartão pode se fazer tudo. Existem cartões para telefones que podem adquirir produtos em lojas de conveniência, ou fazer remessas de recursos, por exemplo, para familiares que vivem em outros países, que também podem adquirir com o mesmo cartão usado para telefonemas e compras em lojas de conveniência. Com a disseminação da Banda Larga, muitas compras podem ser feitas interativamente acionando as telas de televisão, com débitos automáticos em suas contas bancárias. Como o Japão é um arquipélago, com alguns satélites cobre-se todas as necessidades de comunicações rápidas, com todos os meios eletrônicos modernos, usando sistemas digitais de alta definição, que depois de algum tempo, também será utilizado no Brasil.
Paulo Yokota
Dr. Paulo,
Com certeza essa queda dos juros é muito bem vinda p/ o país, e tomara que o Brasil entre em uma nova era de prosperidade. É interessante observar a “opinião” de muitos economistas do mercado acusando o BC de ter sido precipitado. De fato, ainda bem que o Bacen não é mais dirigido pelos representantes dos rentistas.
Ter um corpo próprio e independente protege a instituição, tanto de ingerências como de relações promíscuas com o mercado.
Caro Mike,
V. deve estar ouvindo muitos comentários de colegas economistas que até falam na quebra de autonomia do Banco Central. Realmente, o que parece estar acontecendo é uma maior independência do sistema bancário privado, e as condições macroeconômicas brasileiras não necessitam das “mais altas taxas de juros do mundo”. Ninguem é a favor da volta da inflação, mas todos estão notando que há um desaquecimento na economia mundial, e as pressões das altas de preços não devem persistir, pois inflação não se confunde com preços que estejam em níveis elevados, mas o seu contínuo crescimento. Parece que já passamos do ponto de máxima, e a inflação não cai mais rapidamente pois alguns economistas que hoje estão criticando deixaram indexações em muitos serviços. Esperamos que a economia sofra menos que a de outros países, pois também vamos sofrer algum desaquecimento, infelizmente.
Paulo Yokota