Sobre Envelhecer Com Sabedoria, Bem-Estar e Felicidade

19 de setembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: alimentação saudável, aposentadoria planejada, descarte de doenças do espírito e do corpo | 2 Comentários »

Com o aumento da proporção de idosos em todo o mundo, atender os de mais idade tem exigido revisão orçamentária complexa dos governos. Em país de baixa natalidade como o Japão, a população idosa cresce em ritmo ascendente acelerado, trazendo os mais diversos problemas que mobilizam governo, entidades médicos-assistenciais, previdência social, e sociedade em geral.

A estatística dos corpos resgatados de pessoas que não conseguiram chegar aos abrigos de evacuação, quando do tsunami de 11 de março, comprova que 70% eram de gente com mais de 65 anos – que morava só e tinha dificuldade natural de mobilidade. A grande maioria das cidades litorâneas do leste japones é de populações mais idosas, visto jovens partirem para metrópoles e capitais em busca de estudos e melhores condições de trabalho. Agricultores e pescadores da região se constituem de gente com mais de 60 anos de idade. Há constantes movimentos e campanhas para chamar mão-de-obra jovem de volta à terra – para trabalhar lavoura e mares. Mas está difícil.

Por outro lado, sendo população que cresce e consome, idosos são também alvo da mercadologia. Produtos e serviços estão sendo especificamente voltados para os maiores de idade. Consultores econômico-financeiros, neurocientistas, psicólogos, fisicultores etc. lançam mil conselhos, dicas, planos e ofertas para os da “melhor idade”. Para a psicóloga Laura Carstensen, da Universidade Stanford, Califórnia, a experiência emocional vai ficando melhor à medida que se envelhece. Os idosos têm uma “alta da felicidade” porque para velhos independentes é mais fácil viver o aqui e agora: passam a investir somente em assuntos que lhes importam e a priorizar determinados objetivos pessoais ou emocionais. Têm o privilégio de serem mais seletivos em suas escolhas. Seja alimentação, roupas, passatempos, ou amigos, podem dar-se ao luxo de descartá-los se eles se tornam chatos e inconvenientes. É a parcela da população à qual estudiosos sociais atribuem índice de felicidade maior. Claro, se a pessoa envelheceu sadia e normal, com sabedoria e bem-estar – o que envolve muito preparo físico, mental, espiritual, intelectual.

Anchova, bonito, carapau, cavala, sardinha: peixes recomendados pelas avós japonesas

Por exemplo, na área da saúde: a médica paulistana dra. Chizuru Toma, que pratica o que chamaríamos “medicina do envelhecer com sabedoria e bem-estar”, defende que o ser humano adulto prescinde do leite bovino integral e seus derivados com gordura – que trazem muitos malefícios à saúde. A natureza fornece o cálcio em todos os produtos hortifrutigranjeiros, e em grande quantidade nos peixes. Nossas avós japonesas ensinavam que devemos comer peixes de carne vermelha ao menos três vezes por semana: iwashi (sardinha), saba/sanma (cavalinha), massu (anchova), aji (carapau), katsuo (bonito); são menores, mais fáceis de se achar e a preços mais acessíveis do que maguro (atum) ou sáke (salmão). Consome-se cru, cozido, grelhado, frito. O importante é manter a pele do peixe, que contém substâncias nutritivas. Valdete, mistura de afro-índio-portuguesa, casada com pescador nikkei, é dona de pequena e eficiente peixaria em mercado da minha redondeza. Ela proclama as dádivas dos mares e das águas, da sardinha em especial: tirante as escamas e guelras, aproveita-se tudo: os filés com peles, fritos; ou crus, em ceviches. Espinhas e cabeças, bem fritinhas, são ótimos aperitivos. Cozidas inteiras em pressão, com molho escabeche, as sardinhas podem ser saboreadas com as espinhas e cabeças – estas, notória fonte de lítio, de eficácia reconhecida na prevenção da esclerose e da demência. Estatísticas comprovam que brasileiros em geral estão consumindo mais peixe.

Estatísticas mostram ainda que mais brasileiros estão também aprendendo a planejar firmemente o futuro. É preciso assegurar, durante os anos ativos, de que teremos um fluxo de renda certo e contínuo que venha de outra fonte que não apenas do nosso trabalho. É o que ensina consultores de finanças pessoais como a Márcia Dessen, da Folhainvest. Ela cita como exemplo o playboy Jorginho Guinle: herdeiro milionário, levando uma vida borbulhante cercado de cintilantes estrelas, ele gastou mais do que tinha de bens, e precisou passar os últimos anos de vida morando “de favor” no Copacabana Palace, o hotel que tinha herdado.

Se não tivermos muita chance de receber heranças milionárias nem de acertar sozinho na loteria, ou ainda, de morar de favor no Copacabana Palace, é bom prevenirmos enquanto podemos. Envelhecer também requer talento e bom senso.