Murilo Ferreira, Presidente da Vale Meio Japonês
16 de outubro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: entrevista na Folha de S.Paulo, experiências administrativas japonesas, Murilo Ferreira, Vale | 2 Comentários »
Todos sabem que os sistemas de administração desenvolvidos no Japão ganharam espaços em todo o mundo. Numa entrevista concedida pelo presidente da gigantesca Vale, uma das maiores mineradoras mundiais com origem no Brasil, Murilo Ferreira, à Folha de S.Paulo, para a jornalista Maria Cristina Frias, ele se declarou meio mineiro e meio japonês, o que pode surpreender a muitos. Qual seria o significado de tal qualificação?
É preciso lembrar que Murilo Ferreira começou a sua carreira profissional colaborando com a Albrás/Alnorte, um projeto da então estatal Companhia Vale do Rio Doce com as empresas de alumínio do Japão, que depois de privatizada passou a utilizar somente o nome de Vale, como é conhecida mundialmente. Esta empresa ganhou projeção internacional quando estabeleceu com as siderúrgicas japonesas um sofisticado sistema logístico que permitia que o minério brasileiro chegasse às empresas do Japão de forma competitiva, ainda que tivesse concorrentes como os australianos e indianos que tinham custos de transportes mais baixos.
Este sistema logístico ia das minas, começando com a melhoria da ferrovia Vitória-Minas para transporte de granéis sólidos como os minérios. Permitiu a construção do superporto de Tubarão, especializado no embarque dos minérios para navios de grande porte, tirando proveito de sua profundidade natural. Foram projetados e construídos navios especializados, chamados “ore-oil”, pelo renomado Hisashi Shinto, da IHI (foi quem construiu o encouraçado Yamato, orgulho da marinha japonesa, e foi o presidente da Ishikawajima Harima), que permitia transportar o minério de ferro, contando como carga de retorno o petróleo do Golfo. O sistema exigia a construção de superportos correspondentes no Japão, como o de Oita, para receber estes gigantescos navios que chegaram a beirar 400.000 TDW (antes se utilizava o navio chamado Panamax que passava pelo canal e tinha capacidade máxima para 70.000 TDW).
Paralelamente, foram construídas siderurgias para a produção de chapas grossas, estaleiros e indústrias de equipamentos pesados para aparelhar os portos com supercarregadores bem como avançados sistemas de descarga rápida de granéis sólidos. A vitoriosa logística nipo-brasileira permitiu que ela fosse reproduzida na exploração de Carajás que passou a utilizar o porto de Itaquí, e que acabou sendo adaptada pelos concorrentes internacionais, como a Austrália.
No projeto Albrás/Alnorte procurava-se utilizar a bauxita abundante na região Amazônica para ser transformada inicialmente em alumina para ser utilizada pelas empresas japonesas de alumínio. Isto, certamente, permitiu ao mineiro Murilo Ferreira (os mineiros se caracterizam, entre outros comportamentos, pela atuação discreta e política, “comendo pelas beiradas”) acumular experiências sobre os demorados, mas eficientes sistemas de decisões coletivas dos japoneses, bem como suas técnicas de melhor aproveitamento dos recursos humanos.
Hoje, Murilo Ferreira, já no seu curto período no comando da Vale, conseguiu uma forte adesão de todos os funcionários da empresa que é o seu patrimônio mais importante. Conseguiu estabelecer com 15 sindicatos que representam seus 126 mil funcionários um sistema de premiação daqueles que se mantêm na Vale por mais tempo, pois eles sofrem forte assédio de concorrentes. Certamente, são técnicas que ele aprendeu com os japoneses, que valorizam os seus funcionários de carreira, cujas opiniões são vitais para as decisões que são tomadas pela empresa.
A Vale,sob o comando de Murilo Ferreira, certamente irá prosseguir de forma sustentável o seu crescimento, consolidando seu foco na mineração, mas aproveitando todas as boas oportunidades que a sua dimensão e diversidade de áreas que suas atividades abrangem, sempre de forma mineira e com absorção de comportamentos empresariais de organizações japonesas, no que elas possam contribuir para a sua missão de ajudar o Brasil a conquistar estágios superiores de desenvolvimento econômico e social, com profundo respeito ao meio ambiente.
ótimo artigo!
Caro Rafael Sugano,
O Murilo Ferreira é uma pessa formidável. Ontem tive uma conversa pessoal com ele e a sala que foi usada tinha um grande quadro do Manabu Mabe e uma pequena reprodução de uma grande escultura de Tomie Ohtake, artistas com os quais tive e tenho o privilegio de conviver. Estas considerações tocam as pessoas.
Paulo Yokota