Vitória da Cristina Kirchner Vista do Japão
24 de outubro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dificuldades do default, exemplo perigoso, vitória da Cristina Kirchner nas eleições argentinas
Todos torcem para que a Argentina recupere o nível econômico que tinha atingido no final da Segunda Guerra Mundial, quando o seu padrão de vida superava o de muitos países europeus, por ter abastecido ambas as partes no conflito mundial. Depois de um longo período do populismo de Juan Domingos Perón e seus seguidores, a Argentina acabou declarando o default, não podendo cumprir seus compromissos internacionais. Agora, Cristina Kirchner conquista uma esmagadora vitória na sua reeleição, com base na boa fase de sua economia, ainda que não tenha resolvido as suas pendências com os credores internacionais.
Numa reunião realizada em Tóquio, nas dependências do JBIC – Japan Bank for Internacional Cooperation, onde Luis Alberto Moreno, presidente colombiano do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, apresentou a uma plateia privilegiada um panorama diferenciado da América Latina e Caribe no atual mundo econômico, sentiu-se a perplexidade de alguns diante da situação da Argentina, considerada como possível de se repetir em outros países da região.
Cristina Kirchner e do Luis Alberto Moreno
Ainda que a questão não tenha sido levantada explicitamente na reunião, por uma questão de elegância, o quadro apresentado pelo presidente do BID ainda gera algumas preocupações, pois se sente que está havendo um crescimento do financiamento externo em alguns países da região, mesmo com o crescimento que vem se observando. No pano de fundo estava o default argentino, ainda não resolvido adequadamente.
Os japoneses vêm dando suporte ao BID e a muitos projetos da América Latina, notadamente por intermédio do JBIC, mas também com os bancos e empresas privadas. O Brasil é um dos que mais estão sendo beneficiados, tendo já passado por um reescalonamento de suas dívidas com perdão de uma parte dos seus compromissos no chamado Plano Brady, em decorrência da crise do petróleo e suas consequências.
A Argentina voltou a endividar-se e sem um desenvolvimento adequado acabou por impor pesados prejuízos para os japoneses. O assunto ainda não está equacionado, no quadro em que países europeus, como a Grécia, passam por situação semelhante, podendo contaminar outras economias em todo o mundo.
O receio das dificuldades paira no ar, mesmo que não seja explicitado, justificando as preocupações de credores como os japoneses, que procuram ser conservadores, sem a agressividade que se observa em outros países asiáticos como a China. Mesmo reconhecendo que os emergentes da América Latina apresentam oportunidades, os que sofreram com problemas no passado, como os muitos observadores na região, continuam contaminando alguns financiadores.
Diferenciar a situação de cada um dos países, e seus projetos, acaba sendo uma tarefa de grande complexidade, numa sociedade onde o consenso de todos é muito importante para a tomada das decisões. Espera-se que a vitória na reeleição acelere o governo argentino a equacionar rapidamente as pendências passadas, pois mesmo a Rússia teve que honrar as dívidas deixadas pelo Czar para voltar ao mercado financeiro internacional.