Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Designação de Embaixadores de Ascendência Asiática

28 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: caso do embaixador norte-americano na China, outros casos não só nos países asiáticos

Como em tudo na vida, existem decisões que proporcionam vantagens e desvantagens, sendo sempre difícil fazer um balanço correto. O suplemento do The New York Times, publicado pela Folha de S.Paulo de hoje, informa, num artigo escrito por Sharon LaFraniere, sobre a designação do ex-ministro Gary Locke, de ascendência chinesa como embaixador dos Estados Unidos na China, com o título “Embaixador ‘comum’ incomoda chineses”.

Muitos países sul-americanos designaram recentemente descendentes de japoneses e até um japonês naturalizado como embaixadores no Japão. A evidente vantagem seria o conhecimento de parte da cultura daquele país, inclusive do idioma, que poderia facilitar os seus intercâmbios, como o que foi conseguido pelo Peru, quando Alberto Fujimori, de dupla nacionalidade, tornou-se presidente. No entanto, quando ele passou a morar no Japão, diante das suas dificuldades políticas e judiciais, acabou provocando problemas de constrangimento diplomáticos.

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Gary Locke, embaixador dos Estados Unidos na China

Isto não acontece somente com relação aos países da Ásia. O Itamaraty vem evitando a designação destes diplomatas, mesmo que não haja uma regra rígida, pois não é possível estabelecer um critério de avaliação, que acaba sendo caso a caso. Mesmo que existam alguns problemas de idiomas, os diplomatas profissionais acabam tendo um treinamento para se expressarem em outras línguas.

Na sua maioria são treinados para conhecer e respeitar a cultura local, mesmo que eles criem algumas dificuldades que permanecem no tempo. Muitos jovens diplomatas brasileiros, quando atuam quando no Japão, acabam tendo que se submeter ao rigoroso sistema hierárquico daquele país, onde predominava, no passado, um tratamento mais ríspido com os menos graduados. Isto chegou a criar uma antipatia pelo país, que acabou, em alguns casos, perdurando durante a sua carreira, quando iam galgando posições mais elevadas.

As designações fora da carreira, de caráter político, acabam criando alguns inconvenientes que precisam ser compensados por uma equipe que cuida dos detalhes que são necessários nos relacionamentos diplomáticos. Sempre é difícil contornar os problemas emocionais que podem perturbar alguns julgamentos mais cuidadosos dos interesses nacionais.

O que predomina, no caso dos chineses, é que eles tendem a se manter chineses mesmo vivendo por gerações em países estrangeiros, como imigrantes ou seus descendentes. Os descendentes de japoneses quando do conflito da Segunda Guerra Mundial acabaram demonstrando seu patriotismo com os Estados Unidos. Até pela necessidade de mostrar que eram cidadãos norte-americanos injustiçados acabaram acumulando mais atos heróicos como soldados do que a média de descendentes de outras origens.

Ainda que o mundo globalizado esteja atenuando os problemas de comunicação, estes assuntos, por estarem envolvendo seres humanos que possuem também reações psicológicas, continuam sendo problemas complexos, sendo extremamente difícil optar por uma orientação ou outra. Principalmente quando os países adotam sistemas diferentes no estabelecimento da cidadania, ou pelo “jus soli” ou pelo “jus sanguinis”.