Dificuldades das Consultorias Econômicas
30 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: apesar dos avanços nas tecnologias, dificuldades com as tendências futuras, informações estatísticas defasadas
Parecem pertinentes as reclamações sobre as análises efetuadas pelas consultorias econômicas, principalmente quando elas ousam efetuar projeções futuras, diante das divergências como as que acabam acontecendo quando o futuro já virou passado. Isto, apesar dos avanços da teoria econômica, das facilidades da informática e de sofisticados instrumentos estatísticos disponíveis. Um reconhecido e experiente profissional como o professor Antonio Delfim Netto afirma sempre que o futuro é opaco, podendo ser influenciado por fatores imprevisíveis. E existem os que afirmam que até o passado nem sempre é muito seguro, apresentando revisões nos dados históricos, principalmente no Brasil.
Mas também existem imprecisões que poderiam ser melhor alertadas e que nem sempre merecem a atenção devida dos muitos profissionais que atuam no setor atualmente. Poucos conhecem as metodologias que são utilizadas para a coleta e elaboração de muitos dados, que chegam a ser meras aproximações do que se pensa refletir a realidade, que estão sendo aperfeiçoados no tempo. Muitas são amostras que não foram tecnicamente elaboradas, com todos os cuidados indispensáveis para melhor expressar a evolução de algumas realidades, sendo somente parciais. Mesmo os censos ainda são precários e nem sempre realizados com a regularidade desejada, apesar dos esforços dos organismos encarregados das estatísticas.
O IBGE é o órgão central dos levantamentos estatísticos e a Fundação Getúlio Vargas elabora muitos indicadores de preços
Muitas estatísticas são elaboradas a partir de informações prestadas pelas empresas e pelas famílias, que não as consideram importantes, e costumam apresentar vieses decorrentes, por exemplo, das sonegações fiscais. Elas são coletadas, normalmente, pelos órgãos responsáveis pelas estatísticas dos municípios que nem sempre contam com pessoal especializado, e muitas vezes têm interesse na elevação de alguns números, como os que refletem a população, pois muitos dos recursos que lhes são repassados se baseiam neles. Depois, costumam ser agregados ao nível dos Estados, que contam com limitações orçamentárias e finalmente são globalizados para o país todo. Todos os estudantes deveriam conhecer os seus processos de elaboração para se conscientizarem de suas limitações bem como aperfeiçoamentos metodológicos constantes.
Muitos dados são feitos por amostragens incapazes de refletir as mudanças dinâmicas que vão ocorrendo na economia, baseando-se em números que refletem uma posição estática do passado, mesmo que alterada periodicamente. Outros são coletados somente nas capitais ou outras cidades importantes, como os que deveriam refletir a evolução dos muitos índices de preços, cujas metodologias nem sempre são conhecidas nos seus detalhes pelos profissionais que as utilizam. Baseados em orçamentos familiares, muitas vezes são meras amostragens incapazes de contar com a precisão desejável, sendo o que se chama tecnicamente como “proxies” da realidade, ou meras aproximações.
Vamos tomar, por exemplo, os dados relativos à evolução da produção da pecuária. Normalmente, os dados estatísticos de muitos frigoríficos não são precisos, lamentavelmente, diante da sonegação dos dados efetivos. As variações do rebanho deveriam ser medidas, sendo mal feitas mesmo nos censos por limitações orçamentárias. O usual acaba sendo uma intra e extrapolação dos dados que não estão disponíveis. Houve períodos em que as estatísticas refletiram um crescimento contínuo da produção animal e com taxas fixas por um longo período longo.
Alguns municípios contam com limitados números de agentes estatísticos que são responsáveis pelos dados demográficos, de saúde, de educação, da produção industrial, do comércio, da agropecuária como das produções extrativas e minerais. Eles não são super-homens com conhecimentos abrangentes de todos estes setores. As estimativas de safras chegaram a ser elaboradas por um funcionário que dava uma “espiada” geral, no panorama que lhe era possível na sua região, para dizer que neste ano ela cresceria ou decresceria tanto por cento.
Há uma hipótese estatística dos grandes números que supõe que os erros se compensam, mas a tendência sentida pelos mais experientes profissionais é que existem vieses sistemáticos num certo sentido, em muitos dados.
Com os meios hoje disponíveis da informática, muitos dados poderiam ser mais precisos e, no entanto, os chamados “indicadores antecedentes”, como as vendas de materiais de embalagem, carteiras de pedidos e outros não estão merecendo a atenção devida, fazendo com que muitas consultorias apresentem estimativas de evolução da produção, dos preços e juros que sejam convenientes para os seus clientes, infelizmente, baseados em dados que apresentam alguns atrasos significativos. Muitas hipóteses utilizadas não estão explicitas.
Quando existem mudanças de tendências como as que vinham ocorrendo intensamente no passado recente, passando de uma conjuntura ascendente de atividades econômicas mundiais e pressões inflacionárias elevadas para uma depressiva e redução de muitos preços, se tomados somente as informações passadas, certamente vão ocorrer distorções que nem sempre são alertadas.
No passado, o Banco Central do Brasil expressava algumas de suas observações para o chamado “mercado”, na tentativa de contribuir na formação das expectativas, que retornavam para as autoridades monetárias na forma do atendimento das pesquisas para elaboração do relatório “Focus”. Esta relação poderia gerar situações complicadas que ajudaram a manter os juros elevados, diante de expectativas inflacionárias altas, que não se devem somente as indexações persistentes em muitos serviços públicos.
Hoje, com a direção atual do Banco Central formada somente por profissionais de carreira, capacitados a captarem as tendências com maior precisão, como a persistência da crise mundial por um prazo mais longo, sente-se que o “mercado” acaba refletindo as expectativas de inflação decrescente, acompanhando as autoridades, depois de um curto período de acusações que elas estavam cedendo às pressões política, perdendo a sua independência.
Muitas instituições privadas dispõem de amostras suficientemente grandes dos seus clientes sendo portadores de informações sobre as tendências dos mesmos com relação ao futuro próximo. No entanto, acabam sendo informações de uso privativo. Com os instrumentais hoje disponíveis, as autoridades de diversos setores podem contar com dados mais precisos, com a rapidez necessária, como os que já foram utilizados no passado, sem nenhuma sofisticação técnica.
Observando-se o que acontece em muitos países, quando todos trabalharem com dados mais precisos, as possibilidades de acertos da arte da política econômica acabam se elevando, ajudando no aumento da eficiência de todo o país, tanto em benefício da produção como dos consumidores que são vitais em qualquer economia, e, com maior transparência, as distorções de muitas consultorias poderiam ser minimizadas.