Intervenção das Autoridades Japonesas no Câmbio
1 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Tecnologia, webtown | Tags: câmbios exageradamente valorizados, dificuldades, intervenções governamentais | 2 Comentários »
O professor Antonio Delfim Netto, economista dos mais experientes no mundo, afirma que quem pensa saber o que está acontecendo na economia mundial tão confusa deve estar mal informado. Economias tão diferentes como a brasileira e japonesa sofrem com a excessiva valorização de suas moedas, fazendo com que as importações sejam favorecidas, as exportações fiquem menos competitivas, os seus turistas gastem mais no exterior, e o influxo de turistas estrangeiros fique mais custoso, os fluxos financeiros fiquem exagerados, entre outros efeitos.
O Brasil, que é exportador de muitos produtos primários, principalmente agropecuários, continua sofrendo fortes influxos de recursos financeiros externos, e o Japão, exportador de produtos industrializados de alta tecnologia, também recebe uma quantidade absurda de recursos externos, ambos sofrendo valorizações exageradas que prejudicam suas atividades econômicas internas. E as autoridades acabam sendo obrigadas a interferir no mercado cambial, ainda que saibam das limitações de suas influências. O yen, que estava no patamar dos 76 por dólar, atingiu o de 79 por dólar norte-americano.
Todos sabem que parte substancial das dificuldades decorre da política econômica norte-americana que aumenta a oferta de dólares provocando a sua desvalorização exagerada, ainda que façam as suas críticas ao yuan chinês que afirma estar artificialmente desvalorizado. Os fluxos financeiros internacionais continuam exagerados, alimentando especulações e fazendo com que autoridades conservadoras como as da Suíça sejam obrigadas a estabelecer limites para as variações cambiais.
Brasil e Japão procuram aumentar os seus investimentos internos de forma a ampliar os seus mercados, visando com que suas economias dependam menos do mercado internacional que está frouxo, com demandas pouco ativas. A presidente Dilma Rousseff no seu discurso inaugural da Assembleia das Nações Unidas apontou que as economias industrializadas continuam concentradas na assistência do setor financeiro, pouco cuidando do aumento da demanda interna, visando a criação adicional de empregos. A China também procura estimular o crescimento do seu mercado interno, pois reconhece a redução do ritmo de aumento de suas exportações no atual mundo em situação recessiva.
O setor financeiro mundial continua resistindo às medidas que visam à redução dos fluxos financeiros internacionais que com as especulações acabam exagerando as flutuações cambiais, muito acima dos câmbios que seriam determinados pelos fluxos comerciais. Os organismos financeiros internacionais como o FMI e o BIS acabam se tornando incapazes de regulamentar, de forma razoável, estas dificuldades cambiais.
Os poderes independentes dos diversos países acabam se concentrando na defesa dos seus interesses específicos sem que nenhum organismo seja capaz de impor um mínimo de ordem para os interesses coletivos. O G-7, formado pelos países supostamente mais desenvolvidos, não é mais capaz de organizar um razoável equilíbrio cambial.
Agrava a situação a tendência à valorização de moedas como o Real brasileiro que decorre da exportação de produtos agropecuários que continuam com demandas elevadas com o aumento da população mundial e melhoria dos seus níveis de renda. E acaba recebendo substanciais fluxos de recursos externos, reconhecendo suas perspectivas positivas, tanto pela ampliação do mercado interno, como da execução de uma política econômica responsável.
Não é fácil propor medidas que evitem os inconvenientes que estão se observando em muitas economias, sem um mínimo de entendimento internacional para o caos que se implantou na economia mundial, onde todos procuram medidas para a sua defesa, ainda que saibam que estão criando condições cada vez mais difíceis para todas as economias do mundo.
Dentro deste quadro muito complexo, espera-se que medidas para evitar os exageros das flutuações cambiais em muitos países possam ser tomadas, obrigadas pelas circunstâncias e apesar das resistências dos setores financeiros. O lado real da economia merece maior atenção que os financeiros, e muitos dos seus aspectos meramente virtuais.
Sem um mínimo de entendimento internacional, todos acabarão perdendo mais. Parece melhor perder os dedos que as mãos, ainda que muitos tentem tirar proveito deste caos, aumentando suas especulações.
Por que o Japão não abandona o câmbio flutuante?
Entre o mérito e demérito, acho que o Japão ganharia mais se fixasse o câmbio como os chineses…
Quebra de contrato ?
Oras, bastaria fazer de forma gradual, reservas internacionais para bancar a empreitada o Japão tem de sobra.
Caro Robson dos Santos,
O mundo das taxas fixas de câmbio já é coisa do passado. Como os diversos países estão todos mudando, o sistema de taxa flexível é o mais recomendado. A crise europeia está ocorrendo pois o euro foi adotado para os diversos países da comunidade, que têm condições que vão se diferenciando. O que está acontecendo, em parte, decorre da forte desvalorização do dolar, com aumento exagerado do seu volume, fazendo com que procurem países como a Suiça (que adotou uma margem), o Japão como o Brasil. Com as medidas como a baixa dos juros brasileiros, pode-se provocar uma desvalorização do real, e muitas das empreesas japonesas já são multinacionais, podendo neutralizar as flutuações das moedas. Por exemplo, a Toyota passou a exportar alguns dos seus produzidos nos Estados Unidos para a Coreia do Sul, e se o montante das suas operações forem equivalentes em dolares com os yens, neutraliza-se estas mudanças de cambio. Da mesma forma, muitas das empresas brasileiras já conseguem gerar recursos no exterior equivalentes ao que geram no Brasil, como a Odebrecht, neutralizando estas variações do câmbio. O mesmo deve acontecer com a Ambev e outras que operam com suco de laranja, carnes e outros produtos, produzidos no Brasil e na Flórida e na Califórnia, nos Estados Unidos e na Austrália. O mundo se globalizou e os que ficam restritos a um país, estão defazados.
Paulo Yokota