Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Um Projeto Nacional Para o Brasil

28 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: entrevista de Paulo Cunha, IEDI, observações de Jorge Gerdau Johanpeter, planos do governo, reflexões sobre o assunto, sentimento da falta de um projeto nacional

Vale a pena refletir um pouco sobre uma entrevista concedida por Paulo Cunha, destacado empresário brasileiro, presidente do Grupo Ultra, terceiro faturamento privado do Brasil, publicado na Folha de S.Paulo de domingo. Acrescente-se a isto o que expressam outros importantes empresários, como as entrevistas que foram selecionadas pela Carta nº 495 do IEDI – Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial sobre a atual crise mundial e a indústria brasileira. Incluia-se um importante pronunciamento feito na semana passada pelo empresário Jorge Gerdau Johanpeter que procura ajudar o atual governo federal brasileiro afirmando que não há possibilidade de governabilidade com tantos ministérios. Com tudo, parece possível chegar-se a uma conclusão que se sente a carência de um Projeto Nacional razoavelmente consensual para o Brasil, mesmo que exista um plano governamental federal e diversas entidades que procuram subsidiar o governo federal na direção deste objetivo.

Muitos expressam suas insatisfações, mostrando que não se sentem solidários com o plano que já existe, mesmo que reconheçam alguns dos seus méritos. Não se sentem participantes da elaboração do mesmo, nem concordam completamente com a gestão governamental que vem se efetuando. Evidentemente, nenhum plano tem a possibilidade de satisfazer a todos, mas parece de toda conveniência que se procure um mínimo de solidariedade dos empresários a um Projeto Nacional e que toda a população saiba qual a estratégia que vem sendo perseguida pelo governo para superação da maioria das dificuldades atuais da economia brasileira, de forma a se posicionar corretamente nas tendências futuras do Brasil.

Jorge-GerdauPauloCunha

Jorge Gerdau Johannpeter                         Paulo Cunha

É evidente que a presidente Dilma Rousseff recebeu na sua eleição um mandato para estabelecer uma política condizente com o que expôs durante a sua campanha eleitoral, procurando o desenvolvimento sustentável e possível com a estabilidade de sua economia, dando prioridade para a melhoria social de sua população mais modesta. E que a crise mundial atual provoca uma necessidade de constante adequação pragmática de suas metas, que é sentida de forma diferente pelos diversos setores da economia. Reconhece-se que existe pouca funcionalidade no seu sistema político-partidário brasileiro com as aspirações nacionais, inclusive de relacionamento do Executivo com outros segmentos da administração pública, como o Legislativo e o Judiciário. E que se trata de um sistema federativo, com o poder partilhado com os Estados e os Municípios, onde a execução da política de desenvolvimento depende fundamentalmente do setor privado, ainda que num mundo onde o Estado necessite criar as condições para manter a sua competitividade internacional.

Parece que a maioria da sociedade brasileira aprova o início da atual gestão da presidente como a comandante máxima do país, como indicam as pesquisas de opinião pública. Mas parece que a sociedade brasileira aspira por impostos menos pesados, juros mais baixos, câmbio mais ajustado, serviços públicos mais eficientes, notadamente no atendimento das necessidades de saúde, educação e previdência, melhores infraestruturas, desenvolvimento tecnológico para proporcionar condições competitivas com outros países emergentes nos setores produtivos entre outros aspectos.

É evidente que um Projeto Nacional não é um santo milagre e a sua execução necessita contar com uma pragmática flexibilidade, pois as condições internacionais estão em constantes e fortes mudanças. Mas deve-se reconhecer que a sua discussão pode ajudar a aglutinar importantes segmentos da sociedade brasileira, mesmo que não seja consensual e sempre desperte oposições. Todos se sentiriam mais confortáveis sabendo o que se persegue, de que forma e quais os instrumentos que serão utilizados para se atingir os seus objetivos. Que tudo está em muitos documentos e posicionamentos, não há dúvida, mas sempre algo organizado e consistente poderia ajudar na procura de uma maior eficiência dos resultados, utilizando os recursos humanos, naturais, tecnológicos, e demais recursos disponíveis. Hoje, se reconhece que o mercado não é capaz de resolver todos os problemas mais complexos, muitos que exigem pesados investimentos por longos períodos, como a preparação dos recursos humanos para os desenvolvimentos tecnológicos.

Tudo indica que o Brasil já dispõe de uma política externa mais clara, como a expressa pela presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas. Parece útil organizar a sociedade brasileira internamente, desde os setores primários, industriais e dos serviços, inclusive do setor público para enfrentar os desafios que se apresentam no momento, que se agravam num cenário externo que vai demandar muito tempo para ficar mais claro. A ampliação do mercado interno que se tornou mais estratégica exige melhores empregos e a geração de renda para um processo sustentável, sem agravar as pressões inflacionárias e os endividamentos públicos.

Todos reconhecem que o Brasil dispõe de muitas condições favoráveis, mas ainda estamos longe do que já alcançaram outros países emergentes em alguns setores. Um claro diagnóstico da situação em que nos encontramos e as nossas limitações permitem que todos os setores tenham melhores condições para enfrentar os desafios existentes, inclusive com ajuda externa, num intercâmbio sadio, respeitando as opções que são tomadas pelos outros países na perseguição dos seus objetivos nacionais.

O quadro atual não permite os desperdícios de recursos que ainda estão ocorrendo, e exigem a concentração das atenções em alguns objetivos estratégicos, com um claro delineamento dos caminhos que podem ser traçados, ainda que de forma pragmática, diante das condições que continuarão se alterar no tempo.

Muitos estudos já estão acumulados em muitas organizações privadas e públicas e os recursos disponíveis ainda exigem humildade diante dos desafios existentes, ainda que muitas potencialidades estejam claras. Uma organização dos esforços não poderá ser prejudicial, ainda que não seja necessário despender exagerados esforços em discussões que se tornem acadêmicos.

Certamente é um processo que terá ter o comando da presidente Dilma Rousseff que tem todas as credenciais indispensáveis para galvanizar toda a sociedade brasileira neste esforço organizado de desenvolvimento econômico, social e político, de forma sustentável.