O Complexo Problema da Comunidade Europeia
5 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a profundidade das dificuldades, entendimentos da Alemanha com a França, influências da crise no mundo, problemas que vêm desde a criação do euro | 2 Comentários »
Numa entrevista que concedi para o Ocidente Subjectivo, um site mantido por acadêmicos europeus, entre outros assuntos fui questionado sobre a minha opinião acerca das causas que provocaram os problemas atuais do euro. O meu ponto de vista de que as condições não determinavam uma zona ideal para uma moeda única acabou sendo confirmado por um dos que colaboraram na criação do euro, Jacques Delors. Numa entrevista concedida para o The Daily Telegraph, ele, que foi o presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, conforme consta do site da Folha.com sob o título de “Ex-chefe da Comissão Europeia diz que zona do euro nasceu defeituosa”.
Mesmo com a intensa preparação desde a anterior Comunidade do Carvão e do Aço, todos sabiam que as economias dos países da Europa apresentavam condições muito diferenciadas, havendo necessidade de uniformizar razoavelmente as suas economias, não só do ponto de vista monetário e fiscal, mas produtivo. Entre as comparações das vantagens e desvantagens, optou-se pela criação do Mercado Comum Europeu e da adoção do euro, admitindo-se que os países em melhores condições deveriam ajudar os mais desfavorecidos.
Um longo período de orientação predominante de economia do bem-estar social na maioria dos países europeus fez com que eles contassem com benefícios superiores aos correspondentes às suas diferentes produtividades e capacidade de arcar com os seus encargos. Margaret Thatcher já apontava, com sua posição sempre rigorosa, que os ingleses pretendiam salários de alemães com produtividades bem inferiores. E mesmo que no Reino Unido não tenha aderido ao euro, hoje, os efeitos das dificuldades europeias atingem aquele país.
Margaret Thatcher, Jacques Delors, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy
Agora a Alemanha liderada por Angela Merkel e a França comandada por Nicolas Sarkozy, países que estão em situações melhores que os restantes dos europeus, tentam tornar mais rígidas as metas fiscais que não vieram sendo cumpridas por alguns países como a Grécia, mesmo com as resistências das manifestações populares, que estão derrubando os atuais governos nas eleições. Não se trata somente do euro, pois o Reino Unido não o adotou, mas continua afetado de forma idêntica. Os contribuintes dos países em melhores condições não se dispõem a arcar com os custos daqueles que se recusam a efetuar maiores esforços.
No fundo, não há recursos para manter o nível de bem-estar pretendido pelos europeus e duros sacrifícios, por um longo período, serão necessários para que sua produtividade seja compatível com o padrão de vida que pretendem. Além de se dedicarem às melhorias tecnológicas, como em muitas outras partes do mundo.
As medidas recentemente tomadas pelos principais países do mundo, por intermédio de suas autoridades monetárias, mal conseguem resolver os problemas mais agudos da possibilidade de nova paralisação das atividades financeiras internacionais. Mas elas não são suficientes para provocarem novos desenvolvimentos tecnológicos capazes de aumentar a produtividade dos recursos humanos de todo o continente, de forma que a demanda decorrente proporcione investimentos que criem empregos, aumentando as rendas dos europeus.
Todos sabem que não existem soluções fáceis para os problemas que estão sendo enfrentados e as lideranças políticas não parecem capazes de convencer seus eleitores que os atuais desafios exigem sacrifícios adicionais. Pode ser que os desastres naturais sofridos pelo Japão e seus esforços tecnológicos possam servir de exemplo de que sempre existem soluções.
Caro Paulo Yokota,
A Margaret Tatcher abriu o Mundo ao neoliberalismo e à economia de mercado sem a regulamentação necessária, o que foi dar nesta crise monstruosa. Se ela soubesse um pouco de História e da lei causa/consequência não teria feito as coisas em “cima do joelho” e sem bases empíricas. Acabou com o PT na Inglaterra e deu supremacia à banca e interesses privados para Governarem o Mundo. Um dos seus ministros Jonh Gray no seu livro “O Fim Da Utopia” explica o grande erro dos neoliberais e as consequências disso para o Mundo inteiro, como se vê já.
Quanto à Alemanha a mais poderosa nação da UE, deu subsídios aos Países mais pobres e periféricos, para que estes desmantelassem o sistema produtivo, de agricultura, pescas e indústria. A finalidade seria com que ficássemos com o sector terciário e lhes comprássemos os produtos excedentes. Os nossos políticos corruptos, aceitaram o desafio pois têm sido largamente recompensados e permitiram a destruição do País e da Soberania. Hoje a Alemanha conseguiu aquilo que tentou com duas guerras, dominar a Europa.
A alta finança é quem governa a Europa, utilizando o FMI e o BCE e claro que os políticos, que estão de mãos atadas… para que a crise pudesse ser solucionada, nunca deviam ter ratificado o maldito Tratado de Lisboa em 2009, mas a pressa era muita! Aliás, no artigo 125 do tratado é proibida a ajuda do BCE a Estados Soberanos… mas vendo bem as coisas, agora somos apenas colónias da Alemanha…
Se os nossos políticos fossem sérios, tratavam de fazer como Kirchner fez na Argentina, ou Rafael Correa no Equador.
Já nem sequer são eleitos aqueles que nos governam, como o italiano, ou o grego… a Goldman Sachs trata de os colocar a governar.
Para onde vai o dinheiro da ajuda a Portugal?
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Muitos portugueses ainda não fizeram bem as conta e não sabem qual vai ser o destino do empréstimo contraído por Portugal junto do FMI/FEEF. Estes 78 mil milhões de euros representa uma soma colossal e muito útil se fosse aplicada para o desenvolvimento da nossa economia, mais não é esse o seu destino…
12 mil milhões para a banca
Sim, 12 mil milhões de euros dos 78 mil milhões de euros do empréstimo vão directamente para a banca, com a criação de um fundo público que se destina ao seu aumento de capital. Isto deve-se ao facto da União Europeia obrigar os bancos a cumprirem os rácios de solvabilidade de liquidez, o que a banca faz de bom grado, com o nosso dinheiro.
35 mil milhões para…a banca
Mais uma vez a banca sai beneficiada. Este dinheiro destina-se a garantir os empréstimos que a banca precisar de realizar, o que implica que se essas garantias forem accionadas quem paga somos nós, através da dívida pública.
55 mil milhões para pagar as dívidas e os juros
Este é o valor que corresponde ao pagamento das nossas dívidas e respectivos juros durante os próximos 3 anos.
30 mil milhões para pagar os juros do empréstimo
Este empréstimo do FMI/FEEF de 78 mil milhões de euros tem um taxa de juro média anual de cerca de 5,5%, paga ao longo de 7 anos e meio. Feitas as contas, só para pagar o total dos juros deste empréstimo durante esse período, vão ser necessários 30 mil milhões de euros, ou seja, representam 40% do empréstimo, ou seja ainda, temos um endividamento para pagar a própria dívida.
Se esta é a “ajuda” que nos dão, mais valia que nos deixassem afundar de uma vez por todas.
O mal é a corrupção e a estupidez generalizada dos nossos medíocres políticos sem o mínimo de inteligência política e sem o mínimo de escrúpulos.
O regulador português, do BCP teve como prémio por não regular mínimamente, um posto no BCE com uma remuneração ainda mais elevada, quando devia estar na prisão… mas este é apenas um dos muitos exemplos.
Cara Helena Alves,
Obrigado pelas observações. Não concordo somente no que se refere à Margaret Thatcher, pois podemos discordar de alguns de seus pontos de vista, como também não tenho que concordar totalmente de suas respeitáveis opiniões. Parece evidente que existe uma luta política na Europa, mas como não sou europeu, deixo a para os locais, pois temos muitas outras frentes nestas lutais que deixaram de ser somente regionais, pois acabam afetando o mundo todo.
Paulo Yokota