O Que Pode Determinar a Demanda Neste Fim de Ano
20 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo da Bloomberg, existem mais fatores que influem na demanda do que os considerados pelos economistas, Toru Fujioka
Cheguei a desconfiar que a minha percepção pessoal sobre o que estava ocorrendo nas vendas a varejo no Japão estivesse com algum viés, pois me pareciam altas. Mas ela continua sendo confirmada por uma série de dados que parecem refletir tendências mais gerais, que nem sempre são considerados adequadamente pelos economistas, que costumam se concentrar nos dados relacionados com as rendas das famílias. Um artigo publicado por Toru Fujioka, constante do site da Bloomberg de 19 de dezembro último, parece sugerir que existem mais fatores que estão determinando uma demanda mais aquecida no Japão e em outros países. Sempre se falou do efeito “riqueza”, além da renda, que permitisse um consumo superior utilizando o patrimônio acumulado no passado.
Há indícios que os lamentáveis acidentes naturais ajudaram a introduzir outro fator a ser considerado. A percepção que a vida pode ser mais fugaz e que é preciso considerar os relacionamentos, como os familiares ou de amizade, que estavam se esfriando com o tempo. O artigo cita alguns exemplos concretos em que os consumidores decidiram voltar a visitar seus familiares levando como presentes alguns produtos que não estavam nos seus consumos usuais.
Segundo o artigo, as lojas de departamento do Japão estão vendendo mais neste final do ano, o primeiro depois dos problemas do terremoto e tsunami naquele país, segundo os dados fornecidos pela Associação que as reúnem. Ainda segundo a J.Front Retailing, a segunda maior operadora destes tipos de lojas no Japão, as vendas de bolos de Natal estão 10% acima do ano anterior. Na Isetan Mitsukoshi, muito conhecida no Japão, localizada no ponto central de Ginza, as vendas subiram 6,4% em novembro, com o terceiro mês em ascensão. As vendas em Sendai, afetada pelo terremoto, subiram 11% com relação ao mesmo período do ano passado.
Os índices elaborados pelas instituições de pesquisas sobre as vendas no varejo confirmam estas tendências, e analistas como os da Nomura Securities e da Norinchikin Research Institute elevaram suas estimativas. Isto não vem ocorrendo somente no Japão, havendo informações que ocorrem na área do Pacífico asiático e até mesmo na Nova Zelândia. Na Rússia, as vendas no varejo em novembro cresceram 8,3% com relação ao ano anterior.
No Japão, o Ano Novo é mais festivo que o Natal. E neste ano, as vendas dos chamados “osechi”, uma coleção de alimentos que acreditam que seja auspicioso e que chegam a custar US$ 338 estão sendo vendidos em quantidade, nas melhores lojas de departamento, segundo o artigo.
Destas informações, é possível cogitar que nos países onde a população conta com elevado patrimônio, os seus consumos sejam mais elevados que as rendas disponíveis, depois de um período de redução dos mesmos. Também existem alguns indícios que as inseguranças sobre os valores dos ativos financeiros em algumas moedas estão demandando mais compras de joias. Na procura de segurança, parte dos investimentos acaba caminhando para os imóveis, mesmo com o indício de algumas bolhas em alguns países. Tudo isto leva a crer que o comportamento dos consumidores acaba sendo mais complexo do que normalmente suposto pelos economistas, não valendo a pena participar do exagerado pessimismo alguns deles.