Princesas de Reinos em Guerra: A Descendência
21 de dezembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: genealogia do clã Oda Nobunaga, Goh-Himetachi no Sengoku-NHK-Taiga Drama-2011, Oda Nagamasu | 2 Comentários »
A história da vida e dos feitos do daimyô Oda Nobunaga rendeu centenas de lendas, poemas, contos e narrativas trágicas, heroicas ou românticas em livros, peças de teatro kabuki, filmes, novelas de TV. O último taiga drama exibido pela emissora NHK ao longo de 2011 trouxe, em nova versão e ótica, a história paralela de três irmãs, sobrinhas de Nobunaga, que vivenciaram o conturbado Período Azuchi-Momoyama – influenciando e sendo influenciadas pela história dos clãs aliados e rivais dos daimyos Nobunaga, Hideyoshi e Ieyasu. (Taiga drama = “novela grande corrente”, do francês roman fleuve, “romance rio”, sagas de grandes clãs ao longo de várias gerações).
Senhores feudais vencidos nas guerras tinham seus castelos incendiados e dizimados, com herdeiros, parentes e vassalos dentro – a intenção era acabar com a dinastia. Mas esposas e consortes, se formosas e de origem nobre, eram poupadas para servirem como favoritas de generais vencedores; pequenos príncipes podiam ser mantidos vivos e reféns, para intimidar opositores ou para futuras negociações e alianças; e meninas de estirpe, conservadas para futuros matrimônios de interesse político.
Goh, himetachi no sengoku-NHK-taiga drama / Retrato de Oda Nagamasu.
Nagoya 1918, Casal Paulo Kiyoshi Oda, filhos e neta.
Bastos, São Paulo, 1935, Casal Paulo Kiyoshi Oda, filhos, noras, genro e netos.
Bastos, São Paulo, 1939: casal Paulo Kiyoshi Oda, filha, genro e netos.
Após vingar a morte de Nobunaga e se tornar o novo senhor das terras deste, a ambição leva Toyotomi Hideyoshi a invadir e se apossar das terras de uma irmã de Nobunaga, Odani no Kata – senhora do Castelo de Odani (região da atual província de Shiga), viúva de Azai Nagamasa. Ela e filhos homens morrem nas chamas, a dinastia Azai se extingue. Mas suas três filhas são poupadas por Hideyoshi e levadas para o castelo dele em Osaka. Igualmente belas como a mãe, elas são conhecidas na história japonesa como “as três irmãs Azai”. A mais velha, Chacha, será feita favorita de Hideyoshi e lhe dará filho homem, Hideyori, herdeiro da dinastia. A segunda, Ohatsu, dada em casamento a um daimyô, ficará viúva, se converterá e se tornará freira. A caçula, Goh, terá trágico quanto marcante destino: após dois casamentos de conveniência (o primeiro anulado, o segundo terminado em viuvez), ela é obrigada por Hideyoshi a casar-se com o terceiro filho de Ieyasu, Tokugawa Hidetada (1579-1632) – que se tornará o segundo xogum da dinastia Tokugawa, Período Edo (1603-1868). Deste casamento, Goh tem os filhos Iemitsu (1604-1651), terceiro xogum Tokugawa; Sen-Hime (1597-1666), que se casará com o primo Hideyori (herdeiro da dinastia Toyotomi); e Kazuko, (1607-1678), que desposará o imperador Go-Mizunoô (1596-1680): sem herdeiro homem, a filha mais velha deste, Okiko (1624-1696) se tornará a imperatriz Meishô, 109ª na sucessão da casa imperial, e segunda mulher a ocupar o trono japonês. Goh: sobrinha de Nobunaga, cunhada de Hideyoshi e sogra do filho deste, nora de Tokugawa Ieyasu, mulher e mãe de xogum, sogra de imperador, e avó de imperatriz: seu destino foi um turbilhão voraz. Mas é o fim das guerras e a pacificação do Japão com o advento do xogunato Tokugawa, que será enfim a concretização do seu mais aspirado sonho.
Registros claros de descendentes e parentes homens de Nobunaga são muito incertos: seus irmãos e filhos morreram em lutas, ou obrigados a se suicidar, perseguidos e acusados de complôs. Alguns abandonaram a vida pública, refugiaram-se em monastérios. Foi o caso do seu irmão caçula Oda Nagamasu (1548-1622): tornando-se monge com nome Urakusai, foi discípulo do mestre de chá Sen no Rikyu; fundou sua própria escola de cerimonial de chá que teve ramificações até em Edo (Tóquio), na região onde é hoje o distrito de Yuraku-chô, de Uraku. Convertendo-se ao cristianismo, adotou o nome Joan. “Joan” é o legado de Nagamasu: uma joia de casa de chá, Tesouro Nacional, que pode ser visitada no Parque Urakuen, em Inuyama, província de Aichi. Assim como Nobuo, único filho sobrevivente de Nobunaga, teve vida mais longa e mais pacífica, longe das disputas políticas.
Nos anos 1970-1980, quando japoneses começaram a se interessar por heráldica, genealogia e busca das raízes como hobby, Yukio Oda, do distrito de Taiyô, Kashima, província de Ibaraki, ao se aposentar, resolveu pesquisar mais a fundo o que já se sabia de seus ancestrais pelos registros em templos e antigos cemitérios. A sua busca se fundamentou em dois pontos. Primeiro, os kanjis (ideogramas) que compõem o sobrenome de sua família: diferentemente do Oda comumente conhecido no Japão (o=pequeno; ta ou da=campo cultivado), seu sobrenome é formado pelo kanji “o”, de oru=tecer, mais da=campo cultivado. Forma mais rara, e que pertencia ao clã Oda, de Owari no Kuni, Nagoya. Segundo: a maioria dos ancestrais de Yukio tinha nome cristão. Assim, seu avô Paulo Kiyoshi Oda, filho de Nikita Nikichi Oda, de Toyohashi, Aichi, e cujos antepassados provinham desta região do Japão, Kinki/Kansai (Nagoya/Osaka/Quioto), até chegar a Joan Nagamasu Oda. Registros seculares de templos e tumbas lhe ajudaram na longa pesquisa completada em 1992.
Paulo Kiyoshi Oda (1866-1944), provindo de família de posses, foi entusiasta do advento da fotografia. Construiu o primeiro prédio em estilo ocidental da cidade de Toyohashi no começo do século passado, onde instalou estúdio fotográfico. Entrando na vida política, dilapidou suas posses, e se viu em penúrias após sociedade em negócios que fracassaram em Nagasaki. Em 1927, deixando seis filhos no Japão, emigra para o Brasil com a mulher, o primogênito Isaak Morio (1893-1980) e os caçulas, Roman Toshio (1908-1986) e Irina Tazuko (1912-1997). A vida como imigrante em terras abençoadas não lhe foi afortunada: logo enfrentaria recessão e pobreza em 1929, quando estoques de café tiveram de ser queimados por ordem do governo. O advento da II Guerra tornaria mais difícil a vida dos imigrantes japoneses.
Paulo Kiyoshi Oda e Isaak Morio Oda, respectivamente da 15ª e 16ª geração descendente de Oda Nagamasu, repousam no antigo cemitério da cidade de Bastos, a oeste do interior do estado de São Paulo, Brasil.
Olá, gostaria de agradecer sua reportagem…. de tempos em tempos pesquiso para verificar a existência de mais informações a respeito da família. Assim como Paulo Kiyoshi Oda, meu avô Kazuioshi Oda (com a mesma grafia da ortografia da linhagem de Nobunaga) também veio do Japão por volta de 1914. Agora tenho mais dados para pesquisa.!
Domo Arigatô!
Cara Alessandra Oda,
Obrigado pelos seus comentários.
Paulo Yokota