Intercâmbio Teatral Entre TNSJ de Porto com o SESC de SP
16 de janeiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: globalização, intercâmbio cultural do Teatro Nacional São João de Porto com o SESC de São Paulo, Sombras. de Ricardo Pais
Uma interessantíssima peça que leva o nome de “Sombras – a nossa tristeza é uma imensa alegria”, uma criação do teatrólogo português Ricardo Pais, dá prosseguimento ao intercâmbio teatral que o Teatro Nacional São João, do Porto, de Portugal, mantém com o SESC – Serviço Social do Comércio de São Paulo, na unidade de Pinheiros. A peça utiliza todos os recursos multivisuais das artes cênicas e provoca a plateia a reflexões importantes, como as melhores peças do gênero na história da civilização.
Os brasileiros estão pertos e ao mesmo longe dos portugueses. Apesar de utilizarem o mesmo idioma, entre outras diferenças, o sotaque cria dificuldades de compreensão em toda a sua profundidade, principalmente quando os textos são expressos rapidamente por jovens. Lembra-me um “city tour” há muitas décadas por Lisboa, quando a gravação em espanhol num veículo de turismo permitia melhor entendimento do que o português utilizado na gravação.
O tema da peça é complexo, e na minha leitura (e pode haver muitas outras) trata-se da discussão da identidade portuguesa preservada diante da globalização que está ocorrendo no mundo, inicialmente quando os portugueses passam a se denominar europeus. A característica melodramática do teatro português, tendo como fio condutor do espetáculo o fado, passa por uma modernização, deixando longe as lembranças dos textos de Fernando Pessoa e do fado de Amália Rodrigues, que são mais conhecidos dos brasileiros. Um toque de “jazz” fica caracterizado pela nova leitura, mantendo o essencial do fado.
O diretor Ricardo Pais explica no catálogo da peça: “este é um espetáculo sobre a perda, o sofrimento, o amor perdido, interditado. Dizemo-lo, cantamo-lo, dançamo-lo para vocês, porque a vossa alegria nos redimirá sempre da nossa profunda tristeza”, usando todos os recursos da arte cênica. Colocação de intelectual, diria Joãozinho Trinta.
Na parte final do espetáculo, fala-se na “ressurreição”, depois de ter como pano de fundo a anexação de Portugal à Espanha. Eu diria que os portugueses foram a vanguarda da globalização atual. Quando eles deixaram a influência de sua cultura nas Américas (no caso Brasil), África e até os confins da Ásia, eles já estavam antecipando a globalização que hoje ocorre, o que poderia ser o símbolo da ressurreição. A semente que plantaram germinou, e isto poderia ser a alegria.
Sem a carga cultural e histórica de Portugal e da Europa, o Brasil também encontrou a sua forma na nova leitura de sua música. Foi a Bossa Nova que, com a roupagem que deu a sua música popular, com uma batida diferente, deixou fortes influências em todo o mundo, contribuindo de certa forma para o aperfeiçoamento do jazz.
A alegria é de todos, atores e plateia, e também deve ser a de todos que colaboraram com este rico intercâmbio, que vai espalhando inovações mundo afora.